Alemanha: rumo a uma "Igreja dos pequenos"?
por Michael Hermann*
Somente 25% das pessoas na Alemanha ainda pertencem à Igreja Católica. Outros 23% são membros da Igreja Protestante. É o que emerge dos últimos dados do Serviço Federal de Estatística relativos à última sondagem pública de 2022. No entanto, estes dados não dizem muito sobre a orientação religiosa dos alemães.
Os dados refletem a pertença às duas principais Igrejas cristãs como corporações públicas, conforme registado pelos cartórios de registo de residentes. Aliás, o número de muçulmanos na Alemanha não é registado nos cartórios, porque o Islã não é uma corporação pública. No entanto, estima-se que existam de 4 a 5 milhões de muçulmanos na Alemanha. No total, cerca de 83 milhões de pessoas vivem no país mais populoso da Europa.
Há duas razões pelas quais o percentual de fiéis das principais Igrejas em relação à população total está diminuindo: primeiro, a queda na taxa de natalidade e, segundo, o abandono das igrejas pelos fiéis. De fato, na Alemanha, os fiéis podem declarar o seu abandono da Igreja perante as autoridades estatais (o que lhes nega o acesso aos sacramentos, mas não anula o batismo).
Segundo dados da Igreja, 402 mil católicos e 387 mil protestantes deram este passo no ano passado. Em 2022 foram ainda mais. No geral, muito mais pessoas saem ou morrem do que entram na Igreja.
De longe, a razão mais comum apresentada pelos que saem está o horror face à crise dos abusos no seio das Igrejas. Em vez disso, novamente de acordo com as pesquisas, as assim chamadas "taxas de culto", ou seja, a cota de adesão que o Estado cobra em nome das Igrejas, é apenas uma fraca razão para a saída. Na Alemanha, a "taxa de culto" (uma espécie de imposto) equivale a 8% do imposto de renda dos membros individuais.
Contudo, a sociologia da religião na Alemanha também relata que a orientação religiosa das pessoas não está diminuindo na mesma medida. Muitos daqueles que abandonam a Igreja continuam a considerar-se cristãos e a praticar a sua fé. De forma geral, assistimos na Alemanha a uma pluralização do panorama religioso, que se manifesta também no número crescente de comunidades cristãs livres, não filiadas às duas grandes Igrejas.
De acordo com os resultados, a secularização, a pluralização e a individualização continuarão a avançar na Alemanha. O desafio para as Igrejas Católica e Protestante na Alemanha será como financiar os seus serviços pastorais e de caridade nestas condições. A médio e longo prazo, muitas dioceses alemãs terão de lidar com um buraco no orçamento. Isto também terá impacto na fisionomia da Igreja Católica.
Já em 1969, Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornou Papa Bento XVI, falava neste contexto de uma "Igreja dos pequenos" internalizada e de uma "igreja da fé", isto é, uma Igreja apoiada por um número cada vez menor de pessoas particularmente comprometidas.
*Michael Hermann é professor de Sociologia da Universidade de Educação de Weingarten (Alemanha) e colaborador do Vatican News
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