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Desafios da missão no ambiente digital

Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco vem convocando a Igreja a uma «saída missionária». Esse dinamismo impulsiona a comunidade eclesial principalmente a «sair da própria comodidade e a ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho».

Bruno Franguelli, SJ e Moisés Sbardelotto

A Revista italiana La Civiltà Cattolica, no seu mais recente número, acaba de publicar um artigo sobre os desafios da missão no ambiente digital no contexto do Sínodo que se aproxima. Apresentamos, aqui, trechos do artigo que é assinado pelo Padre Jesuíta Bruno Franguelli, doutorando em Ciências Sociais e Comunicação pela Pontifícia Universidade Gregoriana; e por Moisés Sbardelotto, professor de Teologia prática na Pontifícia Universidade de Minas Gerais.

Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco vem convocando a Igreja a uma «saída missionária». Esse dinamismo impulsiona a comunidade eclesial principalmente a «sair da própria comodidade e a ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho».[1] Por isso, entre uma Igreja acidentada que sai pelas estradas e uma Igreja doente de autorreferencialidade, Francisco não hesita em preferir a primeira. Entre estas estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida: homens e mulheres que procuram a salvação e a esperança.

Presença e critérios no ambiente digital

Para estar presente no digital, é preciso muito cuidado, pois critérios para avaliar a missão da Igreja no ambiente digital não devem ser derivados do campo empresarial, político, publicitário, mercadológico ou do entretenimento. Métricas digitais como alcance, engajamento, cliques e visualizações podem ser critérios muito importantes para qualquer outra instituição social, mas dizem muito pouco à Igreja do ponto de vista de sua missão. Os números não importam para a Igreja, porque a «matemática de Deus» é diferente, já que a multiplicação só ocorre quando há fração e partilha.[2] Jesus mesmo nunca perguntou «Quantos homens seguem o Filho do Homem?», mas sim «Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?» (Mateus 16,13).

Missão ou “influência digital”?

Paradoxalmente, percebe-se que é possível ser um influenciador digital de inspiração católica sem ser um evangelizador ou missionário digital. Um evangelizador digital, como discípulo-missionário de Jesus de Nazaré na cultura contemporânea, de fato, é chamado a ser um «anti/contra-influenciador digital»: se a influência digital – como fenômeno sociocultural contemporâneo – exige seguir certos padrões e práticas estipulados pelo mercado da comunicação e pelas empresas detentoras das plataformas digitais (autorreferencialidade, visibilidade, engajamento, concorrência, publicidade, monetização, polemização, polarização...), um missionário digital age em sentido contrário e contracultural.

«É urgente aprender a agir em conjunto, como comunidade, não como indivíduos. Não tanto como ‘influencers individuais’, mas como ‘tecelões de comunhão’: unindo nossos talentos e competências, compartilhando conhecimentos e contribuições».[3] Quem deseja contribuir com um caminho de evangelização integral precisa fazê-lo em comunhão e em comunidade, orientando-se pelos critérios do Evangelho, da Tradição e do Magistério. Assim, projetos de missão digital coletivos são muito mais fiéis ao Evangelho do que os individuais: o próprio Jesus enviou seus discípulos em missão “dois a dois” (Lc 10,1).

A primazia do Evangelho

Um evangelizador digital é chamado a beber da fonte do Evangelho, para que o agir em rede seja coerente com a experiência do amor divino, testemunhando-o e colaborando com a construção do Reino de Deus. «No mundo atual, com a velocidade das comunicações [...], a mensagem que anunciamos corre mais do que nunca o risco de aparecer mutilada e reduzida a alguns dos seus aspectos secundários.»[4] Por isso, a missão deve partir do coração do Evangelho: «Neste núcleo fundamental, o que sobressai é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado.»[5] A missão da Igreja – e também dos missionários digitais – é auxiliar nessa ação divina e, de preferência, não atrapalhá-la. Neste sentido, é iluminadora a recomendação do «apóstolo da Internet», o jovem Beato Carlo Acutis, que afirmava: «a conversão é um processo de subtração: menos eu para deixar espaço a Deus»[6].

O texto completo está disponível em italiano:

https://www.laciviltacattolica.it/articolo/missionari-nellambiente-digitale-pensare-la-sinodalita-al-tempo-delle-reti/

 

[1] Papa Francisco. Exortação apostólica Evangelii gaudium [= EG] sobre o anúncio do evangelho no mundo atual, 2013, n. 20.

[2] Cf. Papa Francisco. Parole al pranzo di solidarietà con i poveri, i rifugiati, i detenuti. Visita pastorale a Cesena e Bologna, 1º de outubro de 2017. https://www.vatican.va/content/francesco/it/speeches/2017/october/documents/papa-francesco_20171001_visitapastorale-bologna-poveri.html.

[3] Dicastério para a Comunicação. Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais, 2023, n. 76. https://www.vatican.va/roman_curia/dpc/documents/20230528_dpc-verso-piena-presenza_pt.html.

[4] EG 34.

[5] EG 36.

[6] Acutis, A.S; Rodari P. Il segreto di mio figlio: Perché Carlo Acutis è considerato un santo. Casale Monferrato: Piemme. 2021.

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03 agosto 2024, 14:24