Sónia Neves Sónia Neves  

Coimbra tem uma mulher como diretora do jornal diocesano

A jornalista Sónia Neves trabalhou 14 anos na Agência Ecclesia e assume agora a condução do “Correio de Coimbra”, o semanário daquela diocese. É a primeira mulher a dirigir um jornal diocesano em Portugal.

Rui Saraiva – Portugal

Sónia Neves é a nova diretora do jornal “Correio de Coimbra”. Após 14 anos a trabalhar na Agência Ecclesia, a jornalista vai dirigir e coordenar aquele jornal diocesano. Fomos ouvi-la neste seu início de colaboração.

Será este um novo tempo para a diocese de Coimbra ao nível da comunicação?

R: “Bem, não sei se podemos já chamar um tempo novo para a diocese de Coimbra, parece-me demais, para mim é seguramente um tempo novo. Depois de mais de 15 anos seguidos a trabalhar em jornalismo, eu tive aqui um tempo, cerca de um ano, apenas com algumas colaborações e aí surgiu esta oportunidade de voltar a tempo inteiro ao jornalismo, numa área que me é muito querida, que gosto, que me faz sentido e que me sinto à vontade, que é a área da religião. Como há um ano estou a viver na diocese de Coimbra, apareceu esta possibilidade, que acaba por ser fruto de um conjunto de realidades que se alinharam. A diocese de Coimbra tinha o jornal a iniciar uma nova fase e eu estava disponível. Trata-se de um jornal centenário, que carrega muita história com ele, com todos os diretores e colaboradores que ali passaram, e que agora eu vejo com muita esperança. Assumo como missão dar a conhecer a vida da diocese, o que se faz e o que se sonha, o que vai acontecendo. Entendo que o Correio de Coimbra, que recebo agora em versão online, tem de ser cada vez mais um jornal para todos, onde todos têm lugar e se possam rever na mesma fé, na mesma diocese. Todos, todos, todos como dizia o Papa Francisco na JMJ Lisboa 2023.”

Como estás a enfrentar este desafio? O que significa para ti?

R: “Este é seguramente um desafio e eu gosto de desafios. Sou natural da diocese de Aveiro, trabalhei em Lisboa e agora venho abraçar a diocese de Coimbra. Isto tudo, só por si, já é um grande desafio. É uma diocese que estou a descobrir aos poucos e que me tenho vindo a demorar em vários aspetos, com algumas transformações, numa dinâmica de 9 arciprestados e 36 unidades pastorais. Trata-se de um mundo novo, que entendo que o Correio de Coimbra tem de acompanhar, revelar e cativar. É uma publicação diocesana, que a diocese assume como gratuita, vivendo de donativos, e que me parece uma aposta interessante, como diz o bispo diocesano, D. Virgílio Antunes, na edição desta semana que a publicação assume uma ligação afetiva e crente com a Igreja Diocesana e com os seus membros e serviços, na abertura à comunidade humana, aos seus anseios e esperanças. Para mim significa uma grande responsabilidade, que encaro desde já, com a confiança que em mim é depositada, mas também com toda a abertura para fazer mais e melhor, atitude que sempre fui tendo por onde já passei. A área da comunicação é a minha formação e também neste sentido, ao nível profissional, estou aqui para ajudar. Entendo como muito importante, neste tempo, o diálogo da Igreja com a sociedade, é um caminho que se vai trilhando, mas que também tem que ser a comunicação cada vez mais a assumir aqui um papel importante.”

Esta é a primeira vez que uma mulher dirige um jornal diocesano em Portugal e lembro que o Papa Francisco diz que é necessário desmasculinizar a Igreja assumindo a dinâmica sinodal. Esta nomeação tem esta inspiração?

R: “Eu não sei se esta nomeação tem essa inspiração, mas quero acreditar que sim... Quero acreditar que as palavras e intenções do Papa Francisco vão fazendo eco nas decisões da vida da Igreja e também nesta terá tido, quero acreditar... Estou há poucos dias a trabalhar no Correio de Coimbra, nesta primeira edição que saiu esta quinta feira, mas já a acompanhar e a ler várias edições para me ir inteirando de toda a dinâmica noticiosa, e houve uma coisa que me chamou a atenção é que tem poucas mulheres a colaborar, a escrever no jornal. Mesmo nos contactos que tenho vindo a fazer, essencialmente com sacerdotes e colaboradores, foram poucos os contactos com mulheres. Mas acredito que, com essa intenção do Papa, que haja mais participação das mulheres e o desafio tem de ser lançado, o papel da mulher tem de ser valorizado e mostrado. Mesmo na diocese de Coimbra já percebi que há algumas mulheres leigas comprometidas nas dinâmicas diocesanas, acredito que haja esta vontade e há espaço para o fazer.”

Como vês o processo sinodal em Portugal, tendo em conta a tua participação na Rede Sinodal?

R: “Eu olhei para este processo sinodal como uma oportunidade, um caminho de reflexão e escuta, que foi acontecendo um pouco por todo o país, nuns sítios mais dinamizados que noutros, nuns locais mais animados que outros, mas agora parece-me que se encontra um pouco adormecido. Não quero que se entenda mal esta informação, porque sei que há coisas a acontecer, ainda que poucas, mas a semente leva o seu tempo a germinar. Aqui quando falas na Rede Sinodal, ela contou com a minha participação e fez-me estar atenta a todo este processo, a ler os vários documentos do Sínodo, a acompanhar e até ouvir algumas preocupações de leigos comprometidos na Igreja, em várias geografias, e estes leigos sentem o impulso de fazer diferente, que querem dialogar com outros e anseiam uma Igreja que acolha todos. Há que dar tempo para que as coisas vão acontecendo, que as águas se possam ir agitando e se possam ver mais casos práticos de sinodalidade.”

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Sónia Neves iniciou as suas funções como diretora do Correio de Coimbra neste mês de setembro. Como referia na sua última resposta nesta curta entrevista, nos últimos meses desenvolveu uma especial colaboração com a Rede Sinodal em Portugal.

O site redesinodal.pt tem como missão abrir um espaço de informação sobre o Sínodo, apresentando num mesmo lugar o entusiasmo de quem está em movimento fazendo caminho juntos, na pluralidade e diversidade, promovendo o método sinodal em diálogo com o mundo.

Esta plataforma foi anunciada a todos os bispos e dioceses de Portugal e respetivas comissões sinodais, colocando-se ao seu serviço, tendo sido pedidos contributos sobre o andamento dos respetivos processos de trabalho sinodal.

Dessa primeira abordagem surgiu em março de 2024 uma síntese sobre o pulsar do Sínodo em Portugal. Foram também promovidos cinco encontros presenciais em cinco diferentes dioceses: Aveiro, Coimbra, Porto, Guarda e Lisboa.

Recordemos que este projeto nasceu inspirado pelo livro coletivo “Não temos medo”, no qual também participou Sónia Neves e que publicou reflexões de várias personalidades portuguesas sobre a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e o caminho sinodal.

Oiça

Laudetur Iesus Christus

 

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05 setembro 2024, 18:27