Busca

No mapa, linha vermelha assinala a zona desmilitarizada entre as duas Coreias. No mapa, linha vermelha assinala a zona desmilitarizada entre as duas Coreias. 

Na Coreia do Sul, Igreja organiza iniciativas para manter acesa a chama da paz

"A dor da divisão está profundamente presente nos corações dos norte-coreanos", disse uma refugiada. Existem atualmente cerca de 34.000 refugiados norte-coreanos no Sul e mais de 90% deles estão permanentemente integrados no tecido da sociedade sul-coreana há mais de cinco anos. “Se no passado o apoio da Igreja Católica foi sobretudo útil para a fase inicial de inserção, agora é necessário o acompanhamento espiritual e pastoral destas pessoas", disse padre Jung.

O desejo de reconciliação e de paz na Península Coreana deve ser alimentado diariamente no âmbito humano, político, social e espiritual: com esta convicção o Comitê de Reconciliação da Arquidiocese de Seul organiza iniciativas que visam “manter viva a chama da paz” entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, numa época em que as relações bilaterais são muito tensas e difíceis.

A esperança é sempre confiada aos jovens: nos dias passados, por exemplo, a Igreja em Seul organizou uma peregrinação internacional pela paz na zona desmilitarizada - a faixa de território que divide a Coreia do Norte e a Coreia do Sul -, intitulada “Ventos da Paz”, realizada todos os anos desde 2012. A peregrinação é patrocinada pelo Ministério da Cultura, Desporto e Turismo e pelo Ministério da Unificação e neste ano contou com a participação de cerca de 300 jovens, na sua maioria coreanos, mas também vindos de Espanha, Eslováquia e Malásia e de outros países.

Guiados por sacerdotes e consagrados, os jovens viveram a experiência de caminhar com o espírito e assim se tornarem “apóstolos da paz”.

Os peregrinos visitaram pela primeira vez o Observatório da Unificação em Odusan, de onde puderam olhar para o território Norte e vislumbrar a região de Hwanghae, para além do Rio Imjin, o curso de água que - convergindo com o Rio Han no Sul - deságua no Mar ocidental. Posteriormente, os jovens viajaram no “Trem da Unificação”, o KTX, onde são organizadas exposições e experiências multimídia, com visores de realidade virtual, que permitem uma espécie de “viagem no tempo”, entre o passado e o futuro.

Depois, ampliaram sua compreensão da paz e da reconciliação inter-coreana, ouvindo o testemunho de um fugitivo da Coreia do Norte, há cerca de dez anos. Durante a peregrinação, pontuada por momentos de espiritualidade, os jovens rezaram pela paz na península coreana recitando a oração “Senhor, faze de mim um instrumento de vossa paz”, atribuída a São Francisco.

Entre os participantes, Raffaella Kim I-soo, uma coreana de 21 anos: “Esta peregrinação - disse ela - foi uma oportunidade para refletir profundamente sobre o que é a paz".

Frei Daniel, que conduziu o encontro de oração de Taizé durante a peregrinação, disse que “pela reconciliação e pela paz podemos fazer algo hoje, agora. E os jovens podem perceber isso na oração”.

Outra iniciativa de oração pela paz é a Missa especial de Ação de Graças celebrada na Igreja do Arrependimento e da Expiação em Uijeongbu, uma cidade fronteiriça, com a participação de refugiados norte-coreanos que vivem no Sul. A celebração foi co-organizada por três comitês diocesanos para a reconciliação das Dioceses de Seul, Suwon e Uijeongbu, que convidaram refugiados norte-coreanos e suas famílias estabeleceram-se na Coreia do Sul.

“A dor da divisão é profundamente sentida pelos norte-coreanos que estão separados das suas famílias que ainda permanecem no Norte”, disse o padre Ignatius Sooyong Jung, vice-presidente do Comitê de Reconciliação de Seul, que presidiu à Celebração Eucarística. O sacerdote recordou uma frase frequentemente usada em referência aos irmãos na fé que viveram ou ainda vivem do outro lado da fronteira: “Enquanto te lembrares deles, eles viverão. E seus desejos se realizarão, desde que reze por eles." "Na Missa de hoje, lembramos e rezamos juntos pelos nossos queridos familiares falecidos, pelos nossos parentes e vizinhos que moram longe daqui, e pelos da cidade natal de cada um de vocês: pedimos a Deus a graça de poder visitá-los novamente um dia", disse o padre Jung em sua homilia.

Anna Han, uma refugiada que atualmente vive em Seul, testemunhou que conheceu amigos de sua cidade natal que vivem na província de Gyeonggi "e tivemos um reencontro há muito esperado. Guardo com carinho as memórias da minha família no Norte e rezei pelos meus parentes durante a Missa. Espero voltar para minha cidade natal um dia." "Todo Ano Novo e todo Dia de Ação de Graças, levo meus filhos a lugares onde posso ver a Coreia do Norte de perto e conto-lhes histórias sobre meus parentes no Norte. A dor da divisão está profundamente presente nos corações dos norte-coreanos", disse ela.

Francesca Romana Mikyung Kim, católica, líder do grupo “North Korean Defectors Team” (“Equipe de desertores norte-coreanos") em Seul, está entre os organizadores do encontro. O grupo pretende organizar outras iniciativas de carácter cultural, social e espiritual no ano pastoral 2024-2025.

Conforme relatado pelo padre Jung, membro do Comitê de Reconciliação de Seul, existem atualmente cerca de 34.000 refugiados norte-coreanos no Sul e mais de 90% deles estão permanentemente integrados no tecido da sociedade sul-coreana há mais de cinco anos. “Se no passado o apoio da Igreja Católica foi sobretudo útil para a fase inicial de inserção, agora é necessário o acompanhamento espiritual e pastoral destas pessoas. Esta Missa, que envolveu três dioceses, foi uma oportunidade para crentes e não crentes, de reunir-se e rezar", acrescentou padre Jung.

A Arquidiocese de Seul criou o Comitê para a Reconciliação na Coreia em 1995, testemunhando a responsabilidade e o papel da Igreja Católica na reconciliação e unidade da Península Coreana. O Comitê está empenhado em diversas atividades pastorais, educativas e espirituais dedicadas à paz e à reconciliação na Península.

*Agência Fides

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

16 setembro 2024, 09:57