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A educação é obra do coração

O Brasil comemora neste 15 de outubro o Dia do Professor, em referência ao à educadora Santa Teresa de Ávila e também faz mênção a um decreto imperial emitido por Dom Pedro I, imperador do Brasil, em 1827, que criava o Ensino Elementar no país. Em nível mundial, a data idealizada pela Unesco é celebrada em 5 de outubro. O bispo diocesano de Juína - MT, dom Neri José Tondello, assina artigo com reflexão sobre a data.

Dom Neri José Tondello*

Querida professora e querido professor!

Faz alguns dias que tento escrever uma breve mensagem para os senhores e senhoras, professores e professoras. Pensei que seria mais fácil em vista do que significa a educação, mas quando se pensa no professor e na professora, o tema vai de encontro à educação em sua essência original, isto é, educar, como a arte de puxar para fora, que quer dizer: extrair o que está dentro para trazer ao mundo do conhecimento, o mundo da luz, como pensava Kant (1724-1804).

Para Agostinho (354-430), filósofo e teólogo, na sua obra Do Mestre (De Magistro), diz: “se aprende ensinando”, enquanto para Levinas (1906-1995) “o outro é mestre do eu” e Paulo Freire, grande mestre que a história não apaga, é professor sempre necessário para fazer da “educação uma prática para a liberdade”, bem como a pedagogia do oprimido, uma obra que exalta os pequenos para se tornarem agentes protagonistas de uma sociedade justa e digna para todos. Me agrada também Rousseau (1712-1778), quando diz: “se alguém está forçado à escravidão, e assim obedece, age bem, mas se quebrar os grilhões das correntes e se libertar, faz melhor”. 

“Portanto, educar é arte que liberta.”

Gostaria de discorrer com poucas frases sobre a arte de ensinar, isto é, sobre a maestria do conhecimento, a maestria de ensinar a verdade a respeito de Deus, do mundo e da pessoa humana. Agostinho quando afirma que se aprende ensinando, isso é fato, e na prática percebemos: toda vez que repetimos o conhecimento ao ensinar, mais posse do conhecimento adquirimos, mais aprendemos de nós mesmos com os questionamentos que os alunos nos fazem. Mais maduros nos tornamos. Mais competentes, até. Mais autoridade alcançamos, na própria clareza do que se sabe e na arte de transmitir e construir horizontes mais amplos do conhecimento.

Quanto mais se repete, para mais turmas e para mais pessoas, mais competência ganha a arte de educar. Ensinar e aprender ensinando. Agostinho percebe, na sua prática de mestre, que ao ensinar ele aprende, porque os alunos emitem perguntas, que são as dúvidas prementes que os assolam e, por isso, a busca constante de um conhecimento sempre incompleto. Perguntas novas que exigem outras, sempre novas respostas. Neste sentido, o conhecimento se aprofunda e se torna maior. A experiência ensina. Aprende-se ensinando. Agostinho.

Para Levinas, o outro é mestre do eu. Claro que Levinas se referia ao Outro com letra maiúscula, isto é, Levinas centrava sua atenção ao outro no vir a ser o Outro, na imagem de Jesus, Filho de Deus, como alteridade do eu, imagem e semelhança do Pai. O outro me ensina, diz Levinas. O outro também tem conhecimento. Tem história. Tem vivência. A vida ensina para todos. Todos aprendemos com todos, contudo, em sala de aula, a autoridade deve ser conferida ao professor, contrário do que está acontecendo na prática bastante comum de nossos dias nas escolas. O que está em jogo é o respeito na relação professor/aluno e aluno/professor.

A escola deve ser ambiente sagrado, de respeito, de seriedade. De humanismo, de escuta e de obediência à Verdade. Além de transmitir conhecimento, o ambiente deve ser de produção de conhecimento pelo ensino, através da ciência, pela extensão extra sala e pela pesquisa, que não pode extinguir. O ambiente escolar pode e deve ser espaço para a criatividade: “dar asas à alma”.

Para o desenvolvimento das faculdades naturais, desde o homo sapiens ao homo faber, a arte de educar, pensar e fazer artes inteligentes na aplicação da ciência para o exercício eficaz da tecnologia corrobora com a transformação da vida ao seu redor. Transformação da natureza, levando em conta os limites do que ela pode suportar.

Que artista precisa ser o professor, a professora! Construir mentes. Moldar corações. Humanizar relações. Construir mulheres e homens capazes para a vivência da cidadania. Exercício da justiça. Cumpridores dos direitos e deveres humanos. Uma sociedade fraterna, pautada na civilização do amor, capaz de fazer a fraternidade universal e a amizade social entre todos. Educar para a prática do cuidado com a casa comum.

Querida professora e querido professor, gratidão mil vezes pela paciência. Pela bondade no trato com os alunos e seus familiares. Obrigado, professor/professora, por ser multidisciplinar, no sentido pleno da palavra. Em conjunto com a sociedade, com a família e a escola, somando energias em prol de uma educação de qualidade para todos. Parabéns! Desejo que o seu sacerdócio, a arte de ensinar, lhe traga muita alegria pelo dever cumprido; mais ainda, que seja feliz, muito feliz. Abraços e gratidão.

Esta frase de Dom Bosco nos lembra o fundamento dessa missão:

”Familiaridade com os jovens especialmente no recreio, sem familiaridade não se demonstra afeto, e sem essa demonstração não pode haver confiança. Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. O mestre visto apenas na cátedra é mestre e nada mais, mas, se está no recreio com os jovens torna-se irmão…”

* Bispo Diocesano de Juína - MT

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15 outubro 2024, 08:00