Sínodo: nos Seminários a formação deve ser feita por homens e mulheres
Rui Saraiva – Portugal
Na XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”, que está a decorrer em Roma, a ampla participação de mulheres é um dado muito significativo.
Esta segunda sessão sinodal tem 368 membros com direito a voto e tal como aconteceu na primeira sessão em 2023, mais de 50 votantes são mulheres.
Com efeito, o aprofundamento “do lugar das mulheres na Igreja” e a “sua participação nos processos de decisão e na condução das comunidades” são temas objeto da reflexão de um dos grupos de trabalho formados pelo Papa no âmbito do processo sinodal.
Desmasculinizar a Igreja
E, recentemente, o Santo Padre assinou o prefácio de um livro com o título “Desmasculinizar a Igreja” publicado por três teólogos, duas mulheres e um homem: Lucia Vantini, a Irmã Linda Pocher e o padre Luca Castiglioni.
Nesse texto, o Papa revela que durante o processo sinodal chegou-se à conclusão da existência de uma falta de escuta das mulheres.
“Não escutámos suficientemente a voz das mulheres na Igreja”, escreve o Santo Padre, assinalando “que a Igreja ainda tem muito o que aprender com elas”.
“É necessário que nos escutemos reciprocamente para ‘desmasculinizar’ a Igreja, pois a Igreja é comunhão de homens e mulheres que partilham a mesma fé e a mesma dignidade batismal”, declara Francisco.
O Papa deixa claro que ouvir as mulheres ajuda a rever projetos e prioridades. Avisa que “é preciso paciência, respeito recíproco, escuta e abertura” e deixa uma exortação: “não nos cansemos de caminhar juntos”.
Com o Espírito Santo a experiência da surpresa
Precisamente, para continuarmos a caminhar juntos fomos escutar uma mulher portuguesa que tem estado envolvida neste processo sinodal no seu país. Sofia Salgado é professora de gestão na Universidade Católica Portuguesa e administradora não executiva de empresas.
A sua experiência sinodal foi vivida na Comissão da sua diocese do Porto, mas também na universidade e dessa participação fica-lhe, desde logo, uma bela lição do Espírito Santo: a experiência da surpresa.
“É a experiência da surpresa. É que o Espírito Santo pode muito mais do que aquilo que nós imaginamos. E, por isso, vamos conseguindo, às vezes, por caminhos difíceis, fazer mais do que aquilo que podíamos imaginar”, afirma.
A professora recorda a experiência sinodal na Universidade Católica como muito gratificante, rica e com uma participação transversal de alunos e professores.
“Na Católica também fizemos um caminho sinodal e resolvemos fazer o desafio de chamar à escuta aqueles que estão mais afastados, sobretudo aqueles que dizem ‘eu não, porque estou afastado há muito tempo’. E quando nos diziam isso, respondíamos: ‘é mesmo tu que és convidado a estar nas reuniões’. E foi uma experiência muito rica e muito gratificante para as pessoas que participaram. Porque concluíram que era exatamente para elas que o Sínodo existia. E, de facto, são essas pessoas que querem ver mudanças. E estou-me a lembrar de pessoas divorciadas que se sentiram marginalizadas a seguir ao divórcio. E que entendiam, na paróquia onde costumavam celebrar a sua fé, que o pároco as deixou de fora. E então sentiram que deixaram de fazer parte da comunidade. E vieram aqui perceber que afinal estavam desatualizadas e que a Igreja é para todos. Nesta experiência, participou um grupo muito interessante de alunos, professores e membros de staff no qual ficou a vontade de continuar. Mas as pessoas também perguntam: “e o que é que resultou das nossas reuniões e da síntese enviada?”, disse.
Formação nos Seminários feita por homens e mulheres
Sofia Salgado tem uma especial experiência de formação com seminaristas na diocese do Porto, lecionando a disciplina de administração paroquial aos alunos do 6º ano. Sobre a formação nos Seminários considera ser muito importante que esta seja feita por homens e mulheres.
“É muito importante que a formação dos seminaristas seja feita por homens e mulheres e era importante que a vivência deles fosse entre homens e mulheres. Por todas as razões e mais algumas. Porque nós temos que aprender a saber estar a saber conversar, a identificar a diferença e a complementaridade. E não acho que seja isolando homens e mulheres que alguma coisa vá ficar melhor. E não encontro nada no Evangelho que me diga que assim deva ser. Jesus escolheu só homens para seus apóstolos, mas são mulheres que estão no anúncio e no discernimento de identificar a ressurreição”, assinala a docente da Universidade Católica.
“É muito importante que todos nos sentemos à volta da mesa”, diz Sofia Salgado comparando o caminho sinodal a um discernimento em família. “Se queremos decisões de família temos que estar em família” e “não podem ser só os pais a decidir para os filhos ou os filhos a decidir para os pais”.
Sofia Salgado colabora com a Rede Sinodal em Portugal o site que tem como missão abrir um espaço de informação sobre o Sínodo, apresentando num mesmo lugar o entusiasmo de quem está em movimento fazendo caminho juntos, na pluralidade e diversidade, promovendo o método sinodal em diálogo com o mundo.
A XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos decorre até dia 27 de outubro.
Laudetur Iesus Christus
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