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Uma igreja atrás de um prédio destruído após um ataque aéreo israelense que teve como alvo o bairro de Hadath, nos subúrbios ao sul de Beirute, em 17 de novembro de 2024. Uma igreja atrás de um prédio destruído após um ataque aéreo israelense que teve como alvo o bairro de Hadath, nos subúrbios ao sul de Beirute, em 17 de novembro de 2024.  (AFP or licensors)

Do Líbano, o relato de Ir. Hanane, que assiste xiitas e cristãos em meio às bombas

A religiosas libanesa conta que «há falta de pessoal de saúde não apenas pelos muitos médicos e enfermeiros que emigraram, mas também porque as pessoas têm medo de vir ao local de trabalho, visto estar localizado neste bairro e portanto mais exposto no cenário de guerra atual. Por esta razão não podemos garantir os nossos serviços e o nosso trabalho social».

«Saímos de manhã sem saber se voltaremos à noite. É a nossa realidade cotidiana». É assim que Irmã Hanane Youssef fala sobre sua vida nos dias de hoje em Beirute. Ela as outras religiosas das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor continuam a trabalhar o centro de assistência médica “Saint Antoine” no coração de Rouaysset, um bairro popular de Metn. Prédios em ruínas, fios elétricos emaranhados, becos em ruínas. Nenhum “objetivo sensível”, nenhuma guarnição armada. Mas é um bairro onde vivem principalmente xiitas.

As Irmãs administram o Centro dedicado a Santo Antônio desde 2005. Mas o trabalho de assistência sanitária funciona desde 1985, quando o Líbano ainda era martirizado pela guerra civil. «As crises, uma após a outra, não nos deixam respirar”, diz Irmã Hanane à Fides. «Viemos de anos de tormento econômico. Passamos de situações de emergência como a falta de medicamentos e dinheiro à carência de pessoal médico, essencial para garantir os nossos serviços. Os centros de assistência primária como o nosso desempenham um papel vital na resposta sanitária, emitindo receitas e realizando os exames necessários para aliviar a sobrecarga dos hospitais, que agora com os ataques militares se deparam com dificuldade com quem chega com ferimentos graves e incapacitantes, membros a ser amputados e rostos e olhos desfigurados».

Atualmente - acrescenta a religiosa, em missão há 35 anos - «há falta de pessoal de saúde não apenas pelos muitos médicos e enfermeiros que emigraram, mas também porque as pessoas têm medo de vir ao local de trabalho, visto estar localizado neste bairro e portanto mais exposto no cenário de guerra atual. Por esta razão não podemos garantir os nossos serviços e o nosso trabalho social».

O Centro sempre contou com o atendimento de muitos jovens médicos por meio de diversos convênios com as universidades locais. Nos últimos anos, a “fuga de cérebros” afetou todas as categorias.

De acordo com o Ministério da Saúde libanês, os ataques israelenses no Líbano desde 7 de outubro de 2023 provocaram quase 3.500 mortes e mais de 15.000 feridos. Os deslocados são mais de um milhão e 200 mil segundo o ACNUR. Um desastre humanitário que desestabiliza as almas e mentes de um número crescente de pessoas. À medida que os hospitais entram em colapso, vêem-se obrigados a gerir a emergência de um número crescente de pacientes que sofrem de traumas psicológicos.

«Na guerra de 2006 mobilizamo-nos para vacinar os recém-nascidos das comunidades deslocadas. Hoje, novamente, nos tornamos refúgio não só para quem vive por aqui, mas também para todas as famílias deslocadas que foram acolhidas pelos seus familiares do bairro». O trabalho do Centro – observa a Irmã Hanane – sempre foi um sinal espontâneo e real da convivência libanesa entre diversas comunidades de fé. Imigrantes de outras nações também vêm até nós. Uma convivência que a guerra põe à prova, alimentando a desconfiança e o medo no coração das pessoas.

Na guerra de hoje no Líbano – sublinha a religiosa – os ataques visam principalmente uma comunidade específica, a dos xiitas. Precisamente a comunidade mais assistida pelo Centro Saint Antoine. Isto aumenta a tensão e visa abrir divisões, repressões e ressentimentos. «Perseverar na coexistência pacífica não é fácil. Mas procuramos avançar neste caminho. Consideramo-lo muito importante."

«Seguimos em frente, graças a Deus e com a graça de Deus» repete Irmã Hanane. E confidencia: «Eu nasci e cresci no Sul. Eu mesma era deslocada em 1982, quando fugi com a minha família durante a invasão, no meio da noite. Por isso tenho uma empatia particular por quem vive a mesma experiência. A guerra marcou a minha vida pessoal, bem como a minha vida como religiosa. É fácil prá mim reconhecer o rosto de Deus nas pessoas que estão ao meu lado, naquelas que Deus me envia todos os dias, incluindo alguns médicos, amigos de longa data e fiéis. Repito a mim mesma todas as manhãs que, se estou neste lugar, é aqui que sou chamada a viver o dom da minha vida. O Senhor nos protegerá e que um dia melhor chegará.” Ela repete as palavras que também ela ouviu muitas vezes do Papa Francisco: todas as guerras são uma derrota. São derrotas para todos.

*Agência Fides

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19 novembro 2024, 07:26