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Dom Antuan Ilgit, SJ. Dom Antuan Ilgit, SJ.  

Turquia, Ilgit: parar com os massacres no Oriente Médio, o Jubileu é um novo começo

O bispo turco, nomeado nesta segunda-feira (25/11) administrador apostólico da Anatólia, oferece uma imagem da Igreja no país e convida os jovens sacerdotes desejosos de se gastarem como “fidei donum” nessa terra “rica em potencial”. A situação após o terremoto continua grave: “ainda temos a nossa catedral para reconstruir”.

Antonella Palermo – Vatican News

A nomeação de dom Antuan Ilgit, S.J. como administrador apostólico da Anatólia, ex-auxiliar, retoma o legado de dom Paolo Bizzeti, também jesuíta, e o relança. Primeiro bispo nativo, Ilgit foi nomeado nesta segunda-feira pelo Papa Francisco como administrador apostólico sede vacante et ad nutum Sanctae Sedis da circunscrição eclesiástica liderada desde 2015 pelo jesuíta italiano Bizzeti, que, aos 77 anos, apresentou sua renúncia. Ilgit foi pároco assistente da comunidade católica de língua turca na paróquia de Meryemana, em Ancara, e ecônomo da comunidade jesuíta local (2010-2011); animador da comunidade, membro da equipe de formação e pai espiritual no Pontifício Seminário Inter-regional Campaniano em Posillipo (2017-2020); professor de teologia moral e bioética na Pontifícia Faculdade Teológica do Sul da Itália (2017-2023); Vigário Adjunto e Chanceler Episcopal do Vicariato Apostólico da Anatólia (a partir de 2022). É porta-voz da Conferência Episcopal Turca, além de responsável pelo trabalho pastoral juvenil e vocacional e presidente da Comissão Nacional de Catequese.

O senhor é o primeiro bispo nativo, como recebe essa nomeação?

A confiança depositada em mim pela Santa Mãe Igreja por meio dessa nomeação, junto com a constante proximidade do Santo Padre com os fiéis do Vicariato Apostólico da Anatólia, expressa de várias maneiras, me encoraja a ser cada vez mais comprometido. Esta nomeação significa uma autêntica apreciação do potencial e da riqueza da Igreja da Turquia. A realidade que me cerca me desafia constantemente, sempre me empurrando para as pessoas, os pobres, os despossuídos, os refugiados, os jovens. Agora que me foi confiada a responsabilidade total de um Vicariato tão grande quanto a Itália, e que servi até agora como auxiliar, sinto-me chamado a ser cada vez mais um pastor que está com seu povo, misturando-se em sua vida diária com aquelas três características do Senhor, reiteradas com muita frequência pelo Santo Padre: proximidade, misericórdia e compaixão. Nosso Vicariato precisa de um bispo que resida no território; que não seja um gerente nem um funcionário, mas uma testemunha; que não seja autorreferencial, mas sinodal, ou seja, antes de tomar decisões, ele ouve o Espírito que fala à Igreja e àqueles que a compõem.

Como a Igreja Católica está crescendo na Turquia?

Como eu disse, é uma Igreja que tem muito potencial e muita riqueza. É uma igreja cada vez mais frequentada por jovens ansiosos por mudar, contribuir e servir. É uma Igreja cada vez mais capaz de acolher... tantos refugiados cristãos, estudantes universitários africanos que já são católicos; peregrinos ocidentais seguindo os passos do Apóstolo dos Gentios e tantos outros confessores da fé que fizeram da minha amada terra a “terra santa da Igreja”, como costumava dizer dom Luigi Padovese, que gosto de citar com frequência. É uma Igreja que não se vangloria, que, sem clamor, buscando viver a palavra de Deus que santifica e salva, dá testemunho.

Quais são os frutos do diálogo com outras igrejas e outras religiões?

O ecumenismo e o diálogo inter-religioso, que foram tão estudados, sobre os quais foram escritos documentos e mais documentos, volumes e mais volumes, são vividos por nós em nossa vida diária. Um ecumenismo vivido em nossas vidas diárias entre nós, pastores católicos, ortodoxos, armênios apostólicos e assim por diante, participando mutuamente de celebrações, eventos, compartilhando nossos recursos sem contar, sem esperar algo em troca. O ecumenismo também foi vivido por famílias mistas, que participam da missa em um domingo na paróquia católica e em outra semana na ortodoxa. O mesmo acontece com nossos irmãos e irmãs muçulmanos ou de outras religiões: aqui o diálogo, dia após dia, tem a ver, por exemplo, com questões sobre o início da vida. Tentamos nos concentrar nas coisas que nos unem, mas certamente sem ignorar as coisas que nos separam. A aceitação e o respeito compassivos, o senso de hospitalidade, a piedade e a caridade que são características desta terra nos ajudam a viver isso. Cristãos, muçulmanos, judeus, yazidis, somos todos cidadãos iguais e todos amamos essa terra turca que nos faz sentir em casa.

Seu envolvimento com os jovens é muito acentuado. Como eles testemunham a esperança no país hoje?

Aqueles que ficam perto dos jovens permanecem jovens! Uma Igreja que sabe como se manter próxima a eles permanecerá jovem e atraente. Mas minha experiência com eles me ensina que devemos mudar nossa perspectiva. Temos muito a aprender com eles. Os jovens, com sua inteligência, curiosidade e desenvoltura, crescem rapidamente. Se nós, como Igreja, não estivéssemos próximos a eles, não conseguiríamos interpretar sua linguagem. Eles precisam de propostas sérias, de substância, que busquem responder a essa inquietação que os distingue. Por outro lado, fico cada vez mais impressionado com o desejo deles de rezar, de fazer adoração eucarística, de rezar o terço... Deixo que eles organizem tudo isso de modo que acentuem as nuances que desejam, assim assumem a responsabilidade e experimentam a beleza. E eles me pedem repetidamente: 'Padre Antuan, quando rezarmos todos juntos novamente, queremos preparar tudo nós mesmos'.

Como vivencia o conflito no Oriente Médio? Que cenários entrevê?

Não podemos, eu não posso ficar indiferentes aos conflitos em andamento também porque, como país, estamos no meio. Como discípulos de Cristo que têm a paz no coração, só podemos ficar do lado daqueles que querem a paz. Como o Papa repete quase desesperadamente, “a guerra está derrotada”. Somente aquele que lutar pela paz verdadeira será um verdadeiro vencedor. Tenho um querido amigo israelense, Misha, que, por causa do conflito, teve de cancelar seu casamento e não sabe quando poderá celebrá-lo em um ambiente de paz e alegria; uma amiga palestina, Salma, que não pode mais voltar à Europa para concluir seu doutorado; e em Beirute tenho meus companheiros jesuítas que, sob os bombardeios, continuam a ajudar os refugiados sudaneses com empenho e sacrifício. O Oriente Médio é a nossa casa, o mundo é o nosso jardim comum, mas estamos arruinando a nossa casa comum. A criação que arruinamos nos foi dada para vivermos como filhos, como irmãos. O problema não é o fato de ignorarmos o sacrifício de nosso Salvador Jesus Cristo na cruz para nos tornar irmãos, filhos, para nos dar sua paz, a verdadeira paz. Que não haja mais matança, mas que todos nós, juntos, nos superemos no amor. Somos chamados a isso.

Como está se preparando para o Jubileu? Há alguma história concreta de esperança que você acha que pode nos contar?

Como levei um grupo de 40 jovens para Lisboa, um grupo que representa toda a Igreja da Turquia, católicos latinos, siríacos, caldeus, armênios, neófitos e catecúmenos, também estamos nos preparando para o Jubileu da Juventude no final de julho. Entretanto, antes da viagem a Roma, em nosso Vicariato, faremos uma jornada de preparação com várias etapas. Os “corações” dos jovens devem ser preparados, e a última encíclica do Santo Padre, Dilexit nos, nos oferece um belo mapa para isso, com uma bússola precisa que é o Sagrado Coração de Jesus: “É ali, naquele Coração, que finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar”. Os jovens de hoje, capazes de fazer tantas coisas, muitas vezes não conseguem se reconhecer e se valorizar. Eu os acompanharei pessoalmente, estando ao lado deles para que juntos possamos descobrir o verdadeiro amor como Ele nos amou. Uma bela história para contar? A pequena igreja do convento dos capuchinhos em Antioquia está se preparando para celebrar a missa de Natal. Os capuchinhos trabalharam arduamente para curar as feridas dessa pequena igreja, que foi danificada pelo terremoto, e por isso a designamos como a igreja do jubileu do Vicariato da Anatólia. Assim, a pequena igreja na cidade de Antioquia, que foi quase completamente destruída pelo terremoto, será o sinal jubilar de um novo começo.

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26 novembro 2024, 16:26