Igreja do Sul do Brasil celebra acolhida ao novo cardeal
Por Pe. Gerson Schmidt* - Porto Alegre
Neste 17 de dezembro, às 10h, na Catedral Metropolitana da capital gaúcha (RS), com a presença do clero, autoridades e de todo povo de Deus, aconteceu uma bela e solene celebração de Acolhida ao novo cardeal brasileiro Dom Jaime Spengler, Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente do Conselho dos Bispos Latino-Americano e Caribenho (CELAM). Diversas autoridades civis, eclesiásticas e fiéis do Regional Sul3 e de Santa Catarina, Estado onde o cardeal nasceu, estiveram presentes na Santa Missa de Acolhida à dom Jaime, que presidiu a celebração soleníssima. Apesar de uma terça-feira de trabalhos, a Catedral Mãe de Deus de Porto Alegre, localizada no centro histórico da cidade, da qual o Cardeal é arcebispo desde 2013, ficou repleta de fiéis. O catarinense presidiu sua primeira celebração oficial como novo cardeal brasileiro.
A Santa Missa de Acolhida reuniu também os bispos de todas as 18 dioceses do Rio Grande do Sul, centenas de padres e outras autoridades. Os fiéis se mantiveram atentos até quando houve uma queda de luz e Dom Jaime precisou fazer parte do sermão sem a ajuda do microfone. Na homilia, Spengler pregou sobre o Evangelho da Genealogia de Jesus que “cada um dos homens descrito no relato é único, tem um nome, é irrepetível e um acontecimento de fé”. “Em toda a história de Israel, Ele (Cristo) é a referência, Ele é o Messias, nele se realiza as promessas. Ele é o caminho, Ele é a verdade, Ele é a vida”, disse, e “cada ser humano faz história e a história faz o ser humano”. Dom Jaime enfatizou que Cristo veio salvar a todos, não só alguns. Apontou que na história salvífica “o que não é assumido, não é redimido”, frase que é uma máxima sapiencial dos Santos Padres da Igreja. Pregou que essa página do Santo Evangelho sobre a origem de Jesus fala também da nossa genealogia, pois somos criados todos filhos de Deus. “É a fé em Jesus que nos aponta que somos filhos de Deus, Ele é nossa referência de fé, como discípulos e discípulas de Cristo, colocando Ele como centro de nossa vida e história”. O novo Cardeal lembrou na sua pregação a terrível catástrofe climática sofrida pelo nosso Estado, em maio desse ano, que fez unir todo o Brasil, e fora do país, numa solidariedade e comunhão nunca jamais vista. Convocou para a comunhão e unidade, tal como a caminhada sinodal celebrada no mês de outubro e a não “se caminhar num magistério eclesial paralelo”. Também recordou pedido do Papa Francisco, no Vaticano, durante o consistório e entrega do anel cardinalício. “Quando me aproximei dele, recebi o seguinte pedido. ‘Não perca a simplicidade”. “E depois, completou. Como está o Rio Grande do Sul? Ele me pegou de surpresa, no que respondi que o caminho é longo. Então o papa disse. Coragem, vai em frente, com aquele sorriso”. De fato, o Papa esteve unido ao sofrimento da nossa tragédia climática sem precedentes e se solidarizou com o povo gaúcho.
Foi na Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano, que o Papa Francisco, em 07 de Dezembro, criou Cardeal Dom Jaime Spengler, no 10º Consistório do Papa Francisco, tornando-o parte do clero de Roma, considerado um ministro de estado, representando, ainda mais oficialmente, a Santa Sé Apostólica. "É uma responsabilidade e um privilégio”, disse dom Jaime Spengler, único brasileiro a se tornar cardeal nessa ocasião. Dom Jaime aos 64 anos recebe essa honraria, responsabilidade e missão maior, que o une diretamente ao Sumo Pontífice. O novo cardeal se torna conselheiro do papa, juntamente com todo colégio cardinalício. Pode eleger um novo papa, também podendo receber votos, quando da convocação do Conclave, que é congregado quando da eleição do novo Pontífice. Os cardeais com até 80 anos podem votar. Dom Jaime será ainda mais servo de Deus, mais disponível ao trabalho para a Igreja local e universal.
É a segunda vez que a Arquidiocese de Porto Alegre recebe tão grande dom da Igreja, num gesto de continuidade e reconhecimento de que estamos ligados pela história eclesial ao Sumo Pontífice. Lembrando essa caminhada eclesial do Rio Grande do Sul, tão atingido pelas terríveis enchentes de maio, Dom Jaime utiliza a mesma cruz peitoral usada pelo grande e renomado Cardeal Vicente Scherer, que marcou história da Igreja do Rio Grande do Sul e do Brasil. Após 55 anos, a Arquidiocese de Porto Alegre volta a ver seu Arcebispo criado cardeal. Dom Vicente Scherer foi criado cardeal pelo papa São Paulo VI, no dia 28 de abril de 1969, e governou a diocese por 34 anos, até o ano de 1981, quando teve sua renúncia aceita por são João Paulo II. “Dom Vicente foi arcebispo e cardeal em um tempo muito diferente. A Arquidiocese era maior em seu território, algumas viagens levavam dias, eram feitas até a cavalo. Dom Vicente foi muito simples e vivia de forma bastante despojada”, disse dom Jaime em entrevista coletiva.
Após a Oração Pós-comunhão na Missa de Acolhida, em nome da Pastoral Presbiteral, representando todo o Clero da Arquidiocese de Porto Alegre, Pe. Carlos Feeburg saudou o novo cardeal e lembrou as palavras do Papa Francisco de um cardinalato marcado por humildade e missão serviçal. Lembrou a cruz da missão, cujo lema do brasão episcopal de Dom Jaime recorda: “In Cruce Gloriari”, que significa "Gloriar-se na Cruz", adotado por Spengler, que se inspirou no hino de São Paulo aos Filipenses.
Na qualidade de presidente do Regional Sul 3 da CNBB, representando as 18 dioceses rio-grandenses, Dom Leomar Brustolin, Arcebispo de Santa Maria, disse que o cardeal é essa ponte da Igreja de Roma conosco aqui e daqui para lá. Também fez referência ao grande momento difícil sofrido pelo povo do Sul e que o Papa, após essa maior provação sofrida pelo Rio Grande do Sul, nomeia um Cardeal como sinal de alento e esperança. Como outrora bispo auxiliar de Dom Jaime, lembrou uma frase repetida muitas vezes, quase todos os dias: “Tu não te pertences mais, agora tu és ´cataúcho’(catarinense-gaúcho), és nosso, viestes para servir a Igreja”.
Antes da Missa Solene, o Cardeal concedeu entrevista coletiva. Falou de dois maiores desafios que vê para a Igreja universal: as vocações e a transmissão da fé para as novas gerações. “A fé é fruto sobretudo de uma relação entre pessoas e com o transcendente. Como Jesus conquistava os seus seguidores? Era no contato, no corpo a corpo”, comentou. Para ele, “a geração na faixa de zero aos 16 anos possui uma estrutura mental lógica diferente da nossa. Como transmitir a fé, como compartilhar a experiência, como entregar na mão desta geração a fé, quando esta já possui uma lógica mental diferente da nossa?”. Afirmou que “o Rio Grande do Sul possui uma das menores taxas de natalidade no Brasil. É uma realidade muito forte presente entre nós, que traz desafios fortes para a sociedade gaúcha e para a Igreja, pois estamos inseridos nesta sociedade”.
Depois da Missa Solene, houve uma importante e digna confraternização de almoço na cripta da Catedral Metropolitana, reunindo o clero e autoridades. O prefeito da capital, Sebastião Melo, se fez presente na solenidade.
*Pe. Gerson Schmidt - Jornalista e colaborador do Vaticannews
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