Dom Murilo S. R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia Dom Murilo S. R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia 

Dom Murilo Krieger: A caminho de Belém

Diante do Emanuel, o “Deus conosco”, prostremo-nos em silêncio de adoração: sua presença em nosso meio é sinal e certeza de que Deus continua acreditando em nós, seus filhos e filhas.

Dom Murilo S. R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia           

"Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou." É compreensível essa firme decisão dos pastores que, nos arredores da cidade de Davi, "vigiavam e guardavam o seu rebanho". Eles estavam maravilhados com o que acabavam de ver: o aparecimento do Anjo do Senhor que, envolto em luz, os acalmou: “Não temais!"; em seguida, anunciou-lhes "uma boa nova", que seria alegria para todo o povo: “Hoje, na Cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor”. Nova surpresa lhes estava reservada: "Subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama" (Lc 2,8-15).

Conta-nos o evangelista S. Lucas que eles "foram com grande pressa" a Belém. Queriam ver com os próprios olhos o "recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura". Acontece que não se tratava de uma criança qualquer: iriam ao encontro do Messias, esperado há tantas gerações; do Salvador, o Cristo-Senhor, que acabara de nascer ali, perto deles. Como não visitá-lo? Como não ter pressa?

O que aconteceu em seguida, é conhecido: vendo o menino deitado na manjedoura, contaram a Maria e a José o que lhes fora dito a respeito dele. Todos os que ouviam os pastores ficavam maravilhados com suas palavras. Eles próprios, ao deixar a gruta, não se contiveram: voltaram para suas casas glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido (cf. Lc 2,16-20).

Vejo uma grande semelhança entre os pastores de Belém e nós, cristãos, que vivemos no século XXI. Também nós vivemos temerosos e alegres. Temerosos em meio à violência, à insegurança, às injustiças e às guerras. Constatamos, preocupados, a imensidão do trabalho que nos cabe enfrentar, para transformar nossa terra em num imenso lar, onde todos superem desconfianças e ódios e passem a se olhar com respeito e amor. Temos consciência de nossas limitações e somos tentados a engrossar a fila dos que se acomodam, indiferentes ao que acontece a seu redor. Corremos o risco de ficar pessimistas, ao constatar o crescimento de desafios que há muito tempo já deveriam ter sido superados, como o acesso de todos à saúde, à educação e à habitação.

Experimentamos, por outro lado, o sentimento da alegria. Como não nos alegrar, ao testemunhar gestos de doação, de generosidade e de partilha multiplicando-se ao nosso redor? Poderíamos deixar de nos maravilhar ao constatar que se multiplica o número daqueles que dão o melhor de seu tempo e de seu amor para saciar a fome de desconhecidos, aliviar a dor dos que sofrem e consolar os tristes? Quantos voluntários lutam, em mil e uma iniciativas, para multiplicarem gestos de justiça e fraternidade! Outros fazem sua a dor de desconhecidos e elevam sua prece ininterrupta pela humanidade! Não se pode ficar indiferente diante da esperança que, qual flor teimosa, continua desabrochando em inúmeros corações! Realmente, “a esperança não decepciona” (Rm 5,5), como nos lembra o Papa Francisco em sua Bula de proclamação do Jubileu do ano de 2025..

Porque é Natal, somos convidados a nos unir aos pastores que, com pressa, se dirigem a Belém. Diante do Emanuel, o “Deus conosco”, prostremo-nos em silêncio de adoração: sua presença em nosso meio é sinal e certeza de que Deus continua acreditando em nós, seus filhos e filhas. Abrindo nossos corações, apresentemos ao Menino do presépio nossos temores e alegrias, nossas inquietações e esperanças. Reflitamos, então, atentos, sobre aquela afirmação que, décadas depois, Nicodemos ouvirá de Jesus: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Em seguida, contemplemos aquele que, nas palavras do evangelista João, “veio morar entre nós” (Jo 1,14). Como consequência, tomará conta de nós a convicção de que amar é participar da vida do outro; é encarnar-se; é assumir a realidade de quem sofre; é servir.

Ao voltar, então, da gruta de Belém para as nossas atividades, também nós sentiremos a necessidade de glorificar e louvar a Deus por tudo o que nos é dado ver, ouvir e contemplar.

 

 

 

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12 dezembro 2024, 09:31