Chipre, dom Varriano: uma Igreja próxima da dor e dos sonhos dos fiéis
Beatrice Guarrera – Vatican News
“Que o Jubileu seja uma oportunidade para derrubar todos os muros de separação: os ideológicos, que tantas vezes marcam a vida política, e os físicos, como a divisão que vem afetando a ilha de Chipre há cinquenta anos e que dilacerou seu tecido humano e social”. O Papa havia pedido isso em sua mensagem de Natal que precedeu a bênção Urbi et Orbi. “Espero, - foram as palavras de Francisco - que se possa chegar a uma solução compartilhada, que ponha fim à divisão no pleno respeito dos direitos e da dignidade de todas as comunidades cipriotas”. Alguns dias depois, dom Bruno Varriano, Vigário Patriarcal de Jerusalém dos Latinos para Chipre, em conversa com a mídia vaticana, quis expressar profunda gratidão ao Santo Padre por ter voltado seu olhar para Chipre e seu povo que sofre. Um encorajamento com o qual, segundo o bispo, é preciso começar este novo ano, juntamente com a gratidão ao Patriarca cardeal Pierbattista Pizzaballa, que quis a recente criação de um bispo auxiliar para Chipre - uma área que permanece sob a jurisdição do Patriarcado de Jerusalém dos Latinos - e aos Franciscanos da Custódia da Terra Santa, que estão presentes no país há séculos, juntamente com irmãs religiosas (as Irmãs Franciscanas dos Sagrados Corações, São José da Aparição e as Irmãs de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) e padres diocesanos.
Um futuro em unidade
“Devemos dar graças e olhar para o futuro, dando sinais de unidade”, explica dom Varriano. “ “É por isso que criamos o Centro Pastoral e de Formação São Barnabé, que oferecerá cursos para nossos fiéis latinos. Trata-se de uma série de encontros de formação sobre diferentes temas, a partir da teologia, entre dias presenciais ou à distância via computador, a serem realizados em diferentes partes da ilha. De fato, como lembrou o Papa, ainda hoje Chipre está dividida por um muro que separa a área da República de Chipre (que faz parte da Europa) da parte ocupada em 1974. “Os professores de nossos cursos ensinam um dia em Lefkoşa e depois outro dia em Nicósia”, continua o bispo. É uma forma de unir os membros dessa Igreja diversa e multilíngue, mesmo que seja apenas por meio da educação. “Queremos oferecer outros cursos, como iconografia, porque temos uma bela proximidade com a Igreja Ortodoxa de Chipre, e também com a schola cantorum. Tudo para formar nosso povo”. “Como Igreja”, enfatiza dom Varriano, ”estamos tentando estar presentes em toda a ilha.
Infelizmente, a divisão é “dolorosa” entre a impossibilidade de se deslocar de um lado para o outro, a dificuldade de chegar às igrejas, o acesso à parte sul proibido a pessoas de determinadas nacionalidades. Entre os fiéis de rito latino há cristãos de diferentes culturas: cipriotas gregos e um grande número de migrantes das Filipinas, Sri Lanka, Índia, Paquistão e muitos países africanos, como o Congo e a Nigéria. “Na parte ocupada, também temos um grande aumento de jovens que vêm estudar, muitos estudantes africanos que realmente têm uma vivacidade e um belo entusiasmo”, conta o bispo. “Somos uma Igreja que está crescendo, uma Igreja que está vendo uma nova página, junto com nossos irmãos de rito maronita, vivendo um belo testemunho de sinodalidade, como presença católica.
Trabalhando com refugiados
“Quando iniciamos o projeto de formação, os jovens ficaram imediatamente entusiasmados e começaram a propor outros projetos ao bispo, tanto para o desenvolvimento da catequese quanto para o desenvolvimento da pessoa humana”. Assim comenta o padre Rogério Alves Gomes, responsável pelo Centro Pastoral e de Formação São Barnabé, em Chipre. Em Lefkoşa, o projeto envolve 70 alunos, e em Nicósia, cerca de 40. “O que mais me impressionou”, continua o padre, “foi o que as pessoas querem aprender: elas querem encontrar Deus como os primeiros apóstolos fizeram. Elas querem de todo o coração, de toda a alma, aprender com Deus, aprender o que a Bíblia diz. Elas querem não apenas ter ajuda material, mas também aprofundar sua fé”. Um profundo anseio por Deus e pela paz, que também ecoa nas palavras de dom Varriano: “devemos realmente rezar pela unificação da ilha e para que o Senhor nos dê o dom da paz, em Chipre”. O desejo para este 2025 que acaba de começar é também poder fazer mais pelos refugiados, que chegam em grande número: “estamos presentes todas as semanas no campo de refugiados de Pournara, onde também prestamos assistência às crianças, bem como em Limassol”.
Uma igreja para o povo
Chipre também deu início ao seu Jubileu há alguns dias, com uma celebração na Igreja de Santa Maria das Graças, em Larnaca. “Queremos continuar em 2025 a ser uma Igreja, como o Papa Francisco nos pediu para ser, próxima das pessoas, próxima da dor, próxima também dos sonhos e do futuro, com um olhar de esperança”, conclui dom Varriano.
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