Caminho Neocatecumenal celebra 50 anos de presença na Arquidiocese de São Paulo
*Por Deborah Regina Figueiredo e Pe. Gerson Schmidt
No domingo, 6 de abril, cerca de 2.500 membros das comunidades neocatecumenais do Estado de São Paulo, no Brasil, reuniram-se na Catedral da Sé para celebrar jubilosos os 50 anos do início do Caminho Neocatecumenal na Arquidiocese de São Paulo. A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. A data é muito significativa porque foi no mesmo dia que, há 50 anos, alguns itinerantes faziam nascer o Caminho nas terras paulistanas.
A celebração teve início às 17h, com uma concentração na Praça da Sé. Ali, o Pe. José Folqué —membro da equipe de catequistas itinerantes responsável pelo Caminho no Brasil, ao lado de Raúl Viana e Antonia María Santiago— proclamou o anúncio do Querigma, a Boa Notícia da Salvação, que é um dos aspectos característicos do carisma. Exortou todos a viverem a celebração com profundo agradecimento a Deus pela história realizada até aqui: “O Senhor trouxe os primeiros itinerantes há 50 anos, justamente hoje, 6 de abril de 1975, quando nasceu o Caminho aqui. Celebramos Cristo, que é o autor da vida, aquele que nos salvou. Ele nos amou até o extremo: nunca nos julgou, nunca nos condenou, nunca nos castigou. Como diz o Papa Francisco na Bula de convocação do Ano Jubilar, Spes non confundit: ‘Sou amado, logo existo’ (n. 21). O Senhor nos amou, nos libertou e nos colocou em um Caminho de salvação”.
Pe. José Folqué, responsável pela equipe itinerante de catequistas no país, ainda disse assim no querigma: “Cristo destruiu esse império do “eu” para criar o amor. E esse amor é Cristo crucificado: aquele que assume o inimigo e devolve amor. É isso que celebramos hoje. Ânimo! Nesta fé fomos selados pelo Batismo, que nos purificou do pecado e nos deu o Espírito Santo. Vamos então celebrar essa vitória de Cristo na nossa história —e também aqui em São Paulo—, que é um sinal da Vida Eterna. Somos poucos, mas somos chamados”. Animou a todos os presentes, cada qual pertencente a uma pequena comunidade de fé.
Na praça, o Cardeal acolheu a todos os neocatecúmenos e disse: “Nós temos 12 igrejas de peregrinação na Arquidiocese, uma delas é nossa catedral, e por isso as peregrinações das comunidades, das paróquias, dos organismos, dos movimentos para estas igrejas de peregrinação inserem-se nesse sentido do peregrinar da vida humana, do nosso peregrinar na vida, durante a vida, a nossa vida é um peregrinar e não é um peregrinar sem rumo, não sabendo para onde vamos”.
Após o anúncio, os fiéis entraram em procissão pela porta principal da Catedral da Sé. O gesto foi vivido como uma peregrinação jubilar, em sintonia com o Ano Santo de 2025, convocado pelo Papa Francisco, cujo lema é “Peregrinos da Esperança”. Como uma das igrejas jubilares designadas na Arquidiocese, assim como cada Catedral no mundo inteiro, a Catedral da Sé acolheu os participantes da Celebração Jubilar e festiva, como sinal de conversão e reconciliação, com a possibilidade de obter a indulgência plenária, conforme as condições próprias exigidas pela Igreja.
Às 18h, nesse cinquentenário jubilar da presença do carisma na Arquidiocese, teve início a Celebração Eucarística solene presidida por Dom Odilo. O Cardeal saudou especialmente a primeira comunidade neocatecumenal de São Paulo, formada em abril de 1975, na Paróquia Santa Margarida Maria: “Quero saudar, especialmente, os irmãos da primeira comunidade de São Paulo. Continuem firmes, perseverantes. Isso é um sinal. Um sinal da vitalidade, da força da comunidade neocatecumenal, que caminha firme na Palavra de Deus, firme na comunhão fraterna e firme na fé da Igreja. Que, assim, todas as comunidades continuem firmes, perseverantes e missionárias. Este é justamente o caminho da vida cristã: aprofundar-se no conhecimento dos mistérios de Deus e da nossa fé, e vivê-los no testemunho concreto da vida cristã”.
Dom Odilo P. Scherer conhece muito bem o trabalho evangelizador do Caminho Neocatecumenal, de formação de comunidades na renovação do Batismo, tendo participado de inúmeros encontros, bem como numa Convivência de Bispos dirigida pelos Iniciadores do Caminho na “Domus Galilaae”, uma casa de encontros, localizada no cume do Monte das Bem-aventuranças, junto ao mar da Galileia. Na sua pregação, transmitiu palavras encorajadoras e animou os presentes a se manterem perseverantes, “de esperança em esperança”, recordando que quem faz renúncias por amor a Cristo experimenta a alegria de ter o tesouro da fé recebido no Batismo. “A túnica (o ardor missionário) é tão própria do Caminho: o Querigma, e, depois, as catequeses de aprofundamento da fé. Justamente o caminho da vida cristã, que se aprofunda no conhecimento dos mistérios de Deus, da nossa fé, e na vivência, o testemunho da vida cristã. Oxalá que na nossa Igreja tivéssemos muito mais grupos que assim o fizessem. Como é grande desejo da Igreja atualmente, um apelo constante, a renovação da Evangelização, mediante as comunidades de fé. Comunidades baseadas na Palavra de Deus. Comunidades de Iniciação à Vida Cristã, mas que, além de iniciar, também vão para frente, né? Não só iniciam, mas vão para frente e se aprofundam na vida cristã. Que Deus os abençoe, os fortaleça e os torne sempre perseverantes no testemunho de sua fé e, também, no seu ardor missionário. Na comunicação da fé”, pregou na homilia. Fez referência a liturgia própria do dia, destacando que “se a gente ler hoje a Segunda Leitura de São Paulo aos Filipenses, quase dá para dizer que São Paulo era do Caminho Neocatecumenal. Quando lemos essa Leitura, eu lembrei de alguns testemunhos: Quando vocês têm aquele momento de fazer a Renúncia a Satanás, suas obras, suas pompas e suas seduções... Mas o fazem por quê? O fazem porque encontraram alguma coisa muito valiosa. Que não é uma coisa, é a fé, mas encontraram alguém por quem vale a pena fazer isto. Este alguém é Jesus Cristo, nosso Senhor”, pregou o prelado.
Pe. Túlio Paiva, da 2ª Comunidade da Paróquia Santa Margarida Maria, onde o caminho começou na Arquidiocese, Pároco atual da Paróquia Santa Bernadette-SP, testemunhou sua caminhada de fé e a vocação presbiteral desde o berço por meio do carisma. Fala que “os últimos papas tem afirmado que o Caminho Neocatecumenal é um Dom de Deus para a Igreja. Comemorar uma data significativa, como 50 anos, deste itinerário de fé é sempre um acontecimento de grande importância. O Caminho é um carisma entregue ao bispo de uma diocese, para formar cristãos adultos na fé”. Segundo Pe. Túlio, “o Caminho Neocatecumenal, por ser um carisma que renova nos cristãos as graças do Batismo, tem dado muitos frutos à Igreja: familias reconstruídas, filhos, vocações, a evangelização. E todos os irmãos tem recebido da Igreja, através de sua comunidade, o sentido da vida e da missão na Igreja: ser neste mundo um sinal do amor de Deus. Esta é a grande esperança que o mundo precisa: a certeza do amor infinito de Deus por cada um de nós”.
Gilmar Nogueira da Silva, igualmente da Paróquia Santa Margarida Maria, Jardim da Glória-SP, pertencente a 1ª Comunidade do Caminho Neocatecumenal desde aquele abril de 1975, quando se formou a primeira comunidade do Caminho Neocatecumenal em São Paulo. Disse que “era tudo novidade: o tipo de pregação, profundamente existencial, a forma dialogada, a autoridade com que os catequistas pregavam... Ninguém tinha ouvido falar dessas comunidades, se bem que o padre que acompanhava o nosso Grupo de Jovens esteve presente na paróquia de Argüelles, em Madri, quando a 1ª comunidade de Kiko Argüello e Carmen Hernández saiu da favela e começou seu itinerário em uma paróquia. Ele nos exortava a aguardarmos essa nova realidade que um dia chegaria no Brasil”. Dá seu testemunho quando o Caminho deu seus primeiros passos em São Paulo: “os catequistas pareciam conhecer a fundo quem eu era, minhas dúvidas e questionamentos e quando anunciavam Jesus Cristo Ressuscitado, parecia que era dirigido particularmente a mim, que era um afastado da Igreja e não conhecia e não amava a Cristo e nem a Igreja. Me sentia incluído naquela forma de pregação. Os jovens do meu grupo também ficaram muito impactados com essa forma de pregação, direta e muito querigmática. E os catequistas deixaram muito claro que era um itinerário de formação com começo, meio e fim e que o Senhor faria de nós novas criaturas, que um dia amaríamos nossos inimigos sem esforço, como um dom, uma graça conferida a nós pelo Espírito Santo. Ouvir isso era algo, no mínimo, desafiador”. Sua esposa, Fátima Nogueira da Silva, testificou que “celebrarmos este Jubileu é sermos hoje testemunhas de que tudo que nos foi anunciado tem se cumprido em nossas vidas e da vida de todos que se colocaram a caminho. Temos visto na nossa vida o Senhor nos dando seu Amor e perdão. Temos visto casais, jovens e velhos refeitos na sua dignidade e saindo das suas quedas para uma vida nova. E como somos fracos sabemos que não podemos confiar em nós mesmos e estarmos, com a graça de Deus, numa comunidade e vivermos o que nos é proposto: o Amor e a Unidade”.
Início em São Paulo
A história do Caminho Neocatecumenal em São Paulo começou a partir da missão das primeiras equipes de catequistas enviadas ao Brasil, em 1974. Após passagens pelo Paraná e Rondônia, uma das equipes foi acolhida na Paróquia Santa Margarida Maria, em janeiro de 1975.
O pedido para catequese partiu do pároco, Pe. Manolo López, e de paroquianas entusiasmadas com essa nova experiência de evangelização. As catequeses começaram em fevereiro e, após a convivência em abril, nasceu a primeira comunidade neocatecumenal da capital paulista, com 55 irmãos.
Desde então, o Caminho tem crescido e dado frutos, estando hoje presente em 11 paróquias da Arquidiocese, com um total de 65 comunidades. Entre esses frutos, destaca-se o Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater, fundado por Dom Odilo Pedro Scherer, em 2010, para formar presbíteros voltados à missão e à Nova Evangelização. Além disso, dezenas de famílias em missão, oriundas de comunidades paulistanas, foram enviadas ao longo dos anos para levar o Evangelho a diversas regiões do Brasil e do mundo.
História e Missão do Caminho Neocatecumenal
O Caminho Neocatecumenal é um itinerário de Iniciação Cristã pós-batismal a serviço da Igreja para a Nova Evangelização, para anunciar o amor de Jesus Cristo a todas as nações. Ao longo dos 60 anos de percurso no mundo, esse anúncio tem transformado a vida de muitas pessoas que se abrem ao chamado do Senhor, gerando novas vocações: presbíteros, religiosas e famílias abertas à vida, conforme os ensinamentos da Encíclica Humanae Vitae, de São Paulo VI.
O Caminho teve início em 1964, na favela de Palomeras Altas, em Madri, Espanha, quando o pintor espanhol Kiko Argüello, após uma crise existencial e uma profunda experiência de conversão, decidiu viver entre os pobres para, no sofrimento deles, encontrar e contemplar Jesus Cristo.
Em Palomeras, Kiko conheceu a Serva de Deus Carmen Hernández. A pedido dos pobres, Kiko e Carmen começaram a anunciar o Evangelho. Os primeiros sinais de conversão surgiram quando essas pessoas responderam à Palavra de Deus. Assim, formou-se a primeira comunidade baseada em três pilares: Palavra de Deus, Liturgia e Comunidade —fruto das inspirações do Concílio Vaticano II expressas nos documentos Dei Verbum, Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium e Gaudium et Spes.
Com a orientação do então Arcebispo de Madri, Dom Casimiro Morcillo, essa primeira comunidade passou a celebrar em uma paróquia próxima, e, aos poucos, o itinerário foi se difundindo pela Arquidiocese de Madri e, posteriormente, por outras dioceses ao redor do mundo. Em 1971, o presbítero italiano Mario Pezzi uniu-se à equipe de Kiko e Carmen.
No Brasil, o Caminho Neocatecumenal começou em 1974, nos estados do Paraná e de São Paulo, nas dioceses de Umuarama (PR), Toledo (PR), Franca (SP) e Jaboticabal (SP). As primeiras comunidades foram formadas por duas equipes de catequistas itinerantes enviadas pela equipe internacional responsável pelo Caminho, Kiko Argüello e Carmen Hernández, que foram acolhidas pelos bispos das respectivas dioceses mencionadas.
Para conhecer mais sobre a história do Caminho Neocatecumenal, acesse:
https://neocatechumenaleiter.org/pt-br/historia/
*Deborah Regina Figueiredo – Jornalista responsável pela Assessoria de Comunicação Caminho Neocatecumenal no Brasil
Pe. Gerson Schmidt - Jornalista e colaborador do Vaticannews
Fotos: Assessoria de Comunicação - Angela Barbour, Anne Clair, Giseli Santos, Reginaldo Soares
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