Viagem entre os refugiados Rohingya, fugidos de Mianmar
Cidade do Vaticano
Em Cox's Bazar, cidadezinha de Bangladesh, na fronteira com Mianmar, que abriga os maiores campos de refugiados improvisados dos Rohingya, está chegando o inverno. E os 500 mil de Kutupalong, o assentamento que se povoou após o êxodo iniciado em 26 de agosto, começam a tremer de frio. Eis o testemunho de Alberto Quattrucci, da Comunidade romana de Sant'Egidio, que no início do mês visitou os campos para levar medicamentos, equipamentos sanitários e alimentos de primeira necessidade.
R. – “A situação é de pessoas a quem falta comida, faltam roupas, porque começam com as chuvas tudo se torna barro; à noite a temperatura cai, não há remédios, há infecções, porque não há água. há 250 mil, talvez 300 mil crianças, as famílias são muito numerosas. Muitas as crianças pequenas, totalmente nuas, que morrem porque bebem água do mar. Então, é uma situação realmente dramática onde muitas ONGs começaram a trabalhar, mas não há absolutamente nenhuma coordenação e há uma grande necessidade disso. Há também a grande questão sobre o futuro desse povo dos Rohingya, de mais de um milhão de pessoas, considerando os primeiros que chegaram em 1982, quando Mianmar tirou a cidadania deles.
Desde então, eles são apátridas, o maior número de apátridas do mundo hoje, mais de um milhão de pessoas, entre aqueles que chegaram em 1982, em 1991, e os mais de 600 mil que chegaram de 25 de agosto até hoje. E esta hemorragia não acabou, porque ainda 250 mil, talvez 300 mil estão em Rakhine, a área de fronteira, e eles provavelmente chegarão ali”.
RV: Mas, para o futuro, qual pode ser a solução para esta população? Integrar-se em Bangladesh ou retornar a Mianmar?
R. – “O que eles estão pedindo é ter a cidadania novamente para retornar a Rakhine, retornar às suas casas e, portanto voltar, mas isso é muito improvável daquilo que você vê e se sente, porque parece que essa área em Mianmar, já tenha outra destinação, do ponto de vista econômico. A minha impressão, desta primeira viagem, é que eles podem se integrar muito bem em Bangladesh, não só por uma questão de língua, e também por um fato de fé e religião islâmica, mas também porque eles são realmente pessoas que trabalham muito... se você entra nestes campos você não vê ninguém parado, constroem abrigos com bambus, com plásticos que encontram, eles procuram água, mesmo que não exista onde encontrar, é uma população muito ativa.
Além do mais em uma situação de Bangladesh, que é tão pobre, poderia ser de alguma forma, graças a tantas ajudas internacionais, atraídas pelos refletores hoje sobre os Rohingya, que na realidade apontam também para Bangladesh, uma possibilidade de um futuro comum. Falei com o diretor de saúde do pequeno hospital de Cox's Bazaar, a cidadezinha em torno da qual foram criados esses campos de refugiados: é um hospital em colapso que precisa de muita ajuda, de instrumentos, de leitos. Esse hospital poderia ser reconstruído, com ajuda internacional, os custos não são altos. E assim poderia haver desenvolvimento para o país e juntos vida e futuro para os Rohingya. Esta é, creio, uma fórmula muito importante. Certamente, se trata de uma vontade política, de uma sabedoria que, neste momento, seria extremamente necessária”.
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