Mudanças climáticas: Amazônia vai virar savana?
Ivo Poletto – Brasília
Cristiane Murray – Cidade do Vaticano
Hoje, a Amazônia tem 17% da sua área original totalmente desmatada. Se esta porcentagem chegar a 20%, descaracterizando a área de seu verde, a floresta se transformaria em uma savana. É o que afirmam dois cientistas num estudo publicado na revista Science Advances.
Assinado pelo pesquisador brasileiro Carlos Nobre, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), e pelo estadunidense Thomas Lovejoy, da Universidade George Mason, o artigo usa o termo “savanização” da Amazônia.
Propomos a reflexão de Ivo Poletto, assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, da Caritas Brasileira e pastorais sociais da Igreja no Brasil.
O ponto de não retorno
“Chamaram minha atenção, na semana passada, alguns estudos sobre os biomas Cerrado e Amazônia e sobre o avanço do aquecimento global do Planeta. Todos utilizaram a expressão ponto de não retorno para falar da situação em que se encontram esses espaços vitais e a Terra como um todo.
No bioma Cerrado ele foi percebido em pesquisa de áreas desmatadas para plantio de pasto e abandonadas há alguns anos. O que perceberam até agora é que o Cerrado natural, isto é, a riqueza de biodiversidade criada pela Terra não voltou a existir. Algumas plantas renasceram, mas a vegetação mais baixa e as gramíneas não reapareceram. A aparência é a de um cerradão, mas sem a biodiversidade que mantinha as características do solo do bioma, isto é, a porosidade que tornava possível a penetração da água das chuvas e sua ida até os aquíferos. Por isso, os estudiosos indicam que há sinais de que o Cerrado pode estar chegando ao ponto de não retorno. Isto é, ele não se recuperará mesmo se o que causou suas mudanças ecológicas deixar de existir.
Plantas são seres vivos que morrem
O ponto de não retorno da Amazônia foi percebido no aumento da morte de plantas em áreas não desmatadas. Como todo o ser vivo, as plantas morrem. Mas o que está acontecendo não é morte natural, por envelhecimento, mas tem a ver com a elevação da temperatura e a repetição e intensidade das secas e das enchentes acima do normal, e por isso, com a diminuição ou o excesso de água no solo. Tudo somado, a multiplicação da morte de plantas é um grave sinal de que o bioma Amazônia pode estar chegando ao ponto de não retorno. Isto é, ao ponto em que, mesmo se os seres humanos deixarem de desmatar e de agredir rios, solo e subsolo, a floresta e a biodiversidade amazônica irão deixando de existir.
Fórum Alternativo Mundial da Água
Por fim, diversas pesquisas que analisam as agressões humanas ao equilíbrio ecológico da Terra estão percebendo que o aquecimento global está bem perto doponto de não retorno. Se chegarmos a ele, a humanidade não será mais capaz de impedir que a temperatura suba cada vez mais e que as mudanças climáticas se agravem.
É preciso que um forte grito pela vida impeça que as mudanças climáticas da Terra cheguem ao ponto de não retorno. O Fórum Alternativo Mundial da Água é uma oportunidade para aumentar esse grito”.
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