Nicarágua: três dias de protestos contra o presidente Ortega
Cidade do Vaticano
Os opositores do presidente Daniel Ortega proclamaram três dias de protestos pedindo a sua demissão. Nesta quinta-feira (12/07) houve uma manifestação pelas ruas principais da capital Manágua. Apesar das ameaças por parte dos grupos pro-governamentais de que seriam feitos novos ataques armados contra os manifestantes. Para esta sexta-feira (13/97) foi anunciada uma greve geral de toda as atividades, será a segunda grande greve depois de 14 de junho passado. Os grandes protestos terão sua conclusão amanhã, sábado (14/07) com uma carreata de automóveis com a bandeira nacional, azul e branca, em todos os bairros da todas as cidades da Nicarágua. Enquanto isso, o governo se prepara para responder com uma marcha hoje, sexta-feira (13/08) recordando a revolução sandinista de 1979 na cidade de Masaya, que hoje é o símbolo da oposição ao governo, presidida por mais de mil paramilitares e policiais armados
Uma crise sangrenta
No entanto o secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, convidou o governo da Nicarágua a depor as armas e proclamar eleições antecipadas.
A crise sócio-política da Nicarágua, começou em 18 de abril passado que segundo as organizações humanitárias conta com mais de 351 vítimas, é a mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais dura desde os anos 1980 quando Ortega já era presidente
Os motivos dos protestos contra Ortega
Os protestos iniciaram por causa do fracasso de algumas importantes reformas sociais e se tornaram um pedido de demissão, depois de onze anos de presidência, com acusações de abusos e corrupção.
Em uma declaração, a Associação de Direitos Humanos da Nicarágua (ANPDH) pediu ao exército investigações sobre o uso de armas pesadas como metralhadoras ou lança-foguetes por parte das milícias sandinistas que apoiam as operações da polícia contra os manifestantes em algumas cidades. A reposta do exército chegou logo depois declarando que há um “controle absoluto” de todo arsenal e negaram qualquer envolvimento na repressão dos manifestantes.
A preocupação do Secretário da ONU
O secretário geral da ONU, Antonio Gueterres manifestou profunda preocupação pela intensificação das violências, declarando que “reconhece o importante papel de mediação da conferência episcopal”, e exortou “todas as partes a respeitarem o papel dos mediadores e a abandonar o uso da violência engajando-se plenamente na participação ao diálogo nacional para encontrar uma solução pacífica para a crise”.
Os mortos e as agressões a bispos e sacerdotes
No final da semana passada, 14 pessoas foram mortas depois de agressões por parte da polícia nas cidades de Diriamba e Jinotepe, no sudeste do país e alguns expoentes da Igreja foram agredidos, na segunda-feira (09/07), entre eles o cardeal Leopoldo Brenes e o núncio. Várias Conferências Episcopais da América Latina manifestaram sua solidariedade aos bispos da Nicarágua, invocando a Deus a paz e a justiça para o país.
Os apelos dos bispos da América Latina
Os bispos da Costa Rica classificaram como “covarde” a agressão, e diante do recrudescimento constante da repressão do governo nicaraguense contra seu próprio povo, reitera sua “mensagem de solidariedade e proximidade com os irmãos bispos e com o povo da Nicarágua”, exortando a comunidade internacional “a colaborar com a solução deste conflito, para que se encontre o caminho que leve à paz”. Enquanto que os do México manifestaram proximidade e solidariedade e um chamado à comunidade internacional para colaborar na solução do conflito, também é expresso pela Conferência Episcopal Mexicana, que reza para que a Virgem de Guadalupe auxilie e proteja o povo nicaraguense nestes momentos de dificuldade.
O episcopado argentino convida os fiéis do país para “acompanhar o sofrimento dos nicaraguenses”, e pede a Deus “o dom da paz e a sabedoria do diálogo fraterno”.
Em um comunicado, os prelados argentinos expressam aos bispos nicaraguenses agredidos “a profunda comunhão pelo fiel testemunho evangélico diante da agressão sofrida como pastores, enquanto levavam o consolo e a fortaleza da fé a sacerdotes e fiéis vítimas da violência”.
Já o Comitê Permanente da Conferência Episcopal Panamenha quis tornar público seu “mais enérgico repúdio aos atos violentos” contra os irmãos bispos da Nicarágua.
“Essa agressão irracional é uma prova da ausência de ouvir o clamor do povo, que exige de suas autoridades um país democrático, em que o pensar diferente do outro não seja causa de perseguição e repressão”.
“Esses atos – diz a nota – são perpetrados por aqueles que não compreenderam que com a violência jamais se poderá encontrar os caminhos de diálogo e reconciliação para solucionar a grave crise vivida na Nicarágua”.
De Cuba, a mensagem é dirigida ao arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, e assinada por Dom Juan de Dios Hernándes, sj, bispo auxiliar de La Habana e secretário geral da Conferência Episcopal cubana. Os bispos cubanos afirmam que “esses atos de violência e profanação, de crimes e abusos de poder, são verdadeiramente degradantes, e por isso, experimentamos o sentido lógico da fraternidade pastoral diante do momento que enfrentam”.
“A todos os irmãos bispos, sacerdotes, diáconos, religiosas e religiosos e fiéis e a todos os nicaraguenses de boa vontade, fazemos chegar a nossa proximidade fraterna, oração solidária e o profundo desejo de que os caminhos do perdão, o diálogo construtivo e sincero, assim como os anseios da verdade, justiça e apego à legalidade constitucional, levam a uma paz estável e verdadeira”.
Os bispos da Conferência Episcopal guatemalteca acompanham com "atenção e preocupação" o desdobramento dos acontecimentos no "país irmão". “É lamentável e injustificável que não exista disposição por parte das autoridades governamentais de gerar as condições para o retorno da paz ao povo nicaraguense. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas”.
“Louvamos e apoiamos em solidariedade a comunhão eclesial, os esforços realizados por nossos irmãos bispos nicaraguenses para acompanhar o povo sofredor e buscar uma saída na justiça e na verdade para esta situação”.
De Honduras a seguinte mensagem: "Nós nos unimos a tantas Conferências Episcopais e Igrejas particulares que expressaram um valioso testemunho de comunhão para elevar juntos uma súplica e orações ao Pai celestial, pedindo paz e justiça na Nicarágua, pedindo por sua Igreja e por cada pessoa e cada família que vivem no meio ao perigo, ameaça e incerteza", é o desejo expresso pelo episcopado hondurenho.
A solidariedade dos bispos da União Europeia
Em uma mensagem de condenação a Comissão de Assuntos Externos da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE), assinada pelo seu presidente Dom Rimantas Norvila (Vilkaviškis, Lituânia) escreve: "Gostaria de pedir à União Europeia para apoiar as iniciativas de mediação e reconciliação empreendidas pelos bispos nicaraguenses no processo de diálogo nacional em busca de uma paz duradoura".
O bispo, em nome da COMECE, "expressa a solidariedade à Igreja na Nicarágua neste difícil período", "compartilhando a viva preocupação manifestada pelo Santo Padre pela situação do país".
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