Bispos da Costa do Marfim: diálogo para evitar violências
Cidade do Vaticano
“Queremos a paz, fazemos todo o possível para o diálogo político e entre os povos, tudo pela reconciliação: não queremos mais guerra na Costa do Marfim”. São palavras de Dom Ignace Bessi Dogbo, bispo de Katiola e presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim, ao Vatican News, resumindo o apelo lançado pelos prelados do país africano no final da sua assembleia plenária, concluída no domingo (23) em Agboville. “A preocupação da nossa Igreja é ajudar o povo e o governo a chegar à paz através de um diálogo sincero”, para que, “as próximas eleições não sejam ocasião de conflitos”, explica o bispo.
O cenário político
Para a Costa do Marfim está iniciando um longo caminho preparatório para as eleições de 2020, uma década depois da crise pós-eleitoral de 2010-2011 que causou a morte de mais de 3 mil pessoas. No cenário político poderia ficar no poder o atual presidente Alassane Ouattara, que se concorrer à reeleição seria seu terceiro mandato, e o ex-chefe de Estado Laurent Gbagbo que no início deste ano foi absolvido pelo Tribunal Penal internacional das acusações de crimes de guerra pelas violências que se criaram depois das controversas eleições presidenciais de 2010, quando não aceitou a vitória de Ouattara. Todavia a Corte de Haia proibiu a sua entrada no país. Também não está excluída a candidatura de um outro ex-presidente, Henri Konan Bedié, que poderia escolher uma aliança com o ex-líder rebelde Guillaume Soro ou com o partido de Gbagbo. A esta situação acrescentam-se as tensões das últimas semanas no centro do país, em particular em Beoumi, onde confrontos entre comunidades causaram 14 vítimas e centenas de feridos.
Horas de angústias e tensões
O desafio presidencial ainda não está definido: os políticos, recorda o bispo de Katiola, não apresentaram “as suas intenções”, mas vive-se horas de “angústia” pelo futuro do país. Os fatos de Beoumi “causam medo a todos”, diz: “temos que evitar a guerra, porque as armas que na época circulavam no país, ainda estão aqui”. O caminho a ser tomado é o do “desarmamento”, da entrega de “todas as armas”, procedendo a um “diálogo entre os protagonistas da política e o povo para chegar à reconciliação: não se pode ter a mesma opinião, mas – acrescenta o bispo – pode-se dialogar para chegar à paz”. Para Dom Bessi Dogbo “se não houver uma mudança, uma purificação no coração” o país corre o risco de precipitar em violências análogas as de dez anos atrás.
“Recordo – afirma – o prelado – as palavras do Papa na Gaudete et exultate: os que têm autoridade devem buscar o bem comum, deixando de lado seus interesses pessoais. Isso – evidencia – é o ponto ao qual devemos chegar: procurar o bem comum para a população, ou seja a paz, a reconciliação. Além disso – reflete o presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim – é preciso ajudar o processo de paz para que as eleições não causem mais uma vez guerras e mortos, porque o perigo ainda existe”.
A produção e o comércio de cacau
“Na Costa do Marfim – prossegue Bessi Dogbo – há 72 línguas locais e dialetos e antes da guerra as pessoas viviam juntas, sem problemas, hoje queremos que volte esta situação de harmonia”, também na perspectiva do “desenvolvimento” interno. Justamente nestes dias a Costa do Marfim e o Gana decidiram bloquear a venda de cacau para tutelar os produtores locais: os dois maiores produtores mundiais anunciaram que não venderão mais o seu cacau por menos de 2.600 dólares a tonelada, para garantir uma margem de lucro mais ampla aos agricultores, esmagados pelas multinacionais. Trata-se de um problema “muito comum” para os agricultores, em uma situação geral de “pobreza”, conclui o bispo reiterando a necessidade de um país pacificado.
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