Chegada do homem à lua 50 anos atrás: um chamado à consciência crítica da humanidade
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Exatamente cinquenta anos atrás a humanidade dava um grande passo ao ver o homem caminhar no solo lunar. O astronauta Neil Armstrong, por primeiro, seguido dezenove minutos depois por Buzz Aldrin. Era 20 de julho de 1969. Nesse caminhar, o famoso “um pequeno passo para um homem, um grande passo para a humanidade”.
A chegada do homem à lua – após quatro dias de viagem dos três astronautas a bordo do Apolo 11 – foi um daqueles momentos divisores da história. A missão espacial estadunidense teve início alguns anos antes, em plena Guerra Fria, na corrida frenética entre EUA e a então URSS pela conquista do espaço, e não só.
Aquele momento de frenesi com que mais de meio bilhão de expectadores ao redor do mundo acompanhou pela televisão a admirável façanha humana representava uma conquista da ciência e da técnica, uma consagração do gênio humano, da sua capacidade de tornar a ficção cientifica uma realidade; uma espécie de ponto de não retorno, quase como uma promessa de que após aquele momento excepcional a humanidade jamais seria a mesma.
Naquele domingo de 20 de julho de 1969, no Angelus, horas antes daquele primeiro passo no solo lunar, o Papa Paulo VI falou sobre a missão espacial – como já havia feito no domingo precedente (13 de julho) convidando “a meditar sobre esse extraordinário e admirável evento, a meditar sobre o cosmo, que se nos abre diante de seu rosto mudo, misterioso, no imenso quadro dos inúmeros séculos e dos espaços sem limites”.
“Faremos bem meditar sobre o homem, sobre seu engenho prodigioso, sobre sua coragem temerária, sobre seu progresso fantástico. Dominado pelo cosmo como um ponto imperceptível, o homem com o pensamento o domina. E quem é o homem? Quem somos nós, capazes de tanto? Faremos bem meditar sobre o progresso”, exortava o Papa Montini.
“É verdade que o instrumento multiplica todo limite e eficiência do homem; mas essa eficiência é sempre uma vantagem para ele? Essa o faz melhor? Mais homem?” Após essas e outras interpelações, Paulo VI afirmava que “tudo ainda depende do coração do homem. É preciso absolutamente que o coração do homem se torne mais livre, melhor, mais religioso, quanto maior e perigosa é a potência das máquinas, das armas, dos instrumentos que o homem coloca à própria disposição”.
O Santo Padre advertia que o verdadeiro progresso da humanidade é a fraternidade e a paz. Na empolgação e entusiasmo daquele dia, “verdadeiro triunfo dos meios produzidos pelo homem, para o domínio do cosmo”, Paulo VI exortava, todavia, a não esquecer os dramas que ainda atormentavam a humanidade, e que passado meio século – podemos dizer – são de grandíssima atualidade.
Chamando o homem para uma consciência crítica da humanidade, apontava as três guerras de então: no Vietnã, África e Oriente Médio, acrescentando uma quarta com milhares de vítimas entre El Salvador e Honduras, sem deixar de evidenciar a fome que ainda afligia inteiras populações.
Onde está a fraternidade, a paz? Qual seria o verdadeiro progresso do homem se esses flagelos perdurassem e se agravassem? – interpelava. Ao invés, possa o progresso, do qual hoje festejamos uma sublime vitória, voltar-se para o bem, temporal e moral da humanidade, auspiciava o Pontífice.
Passado meio século, a humanidade vive hoje o que o Papa Francisco chama de uma espécie de terceira guerra mundial, em fragmentos: são conflitos ao redor do mundo que começam a equivaler a uma terceira guerra mundial, que ocorre aos poucos por meio de crimes, massacres e destruição.
Nestes cinquenta anos a ciência deu passos gigantescos, em praticamente todos os campos do conhecimento, mas o flagelo da fome continua humilhando toda a humanidade. Sim, porque enquanto houver – mesmo que seja um só ser humano – alguém padecendo a fome, a necessidade e a miséria, toda a humanidade estará humilhada em sua dignidade.
Enquanto milhões de seres humanos estiverem à margem do progresso, excluídos das benesses do desenvolvimento, enquanto persistirem as desigualdades e as injustiças sociais, a paz permanecerá uma quimera, um bem inalcançável.
E a paz, dizia o Papa Montini, é o verdadeiro progresso da humanidade. A paz, afirmamos nós fazendo eco à atualíssima encíclica social Populorum Progressio de Paulo VI, de 1967, é o fruto do desenvolvimento integral de todas as pessoas.
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