Dom Hinder sobre conflito no Iêmen: oração é a arma mais eficaz
A situação no Iêmen "permanece confusa e pouco transparente", pois recentemente abriu-se outra frente de batalha entre pró-sauditas e separatistas apoiados pelos Emirados, ambos lutando contra os rebeldes Houhi próximos a Teerã.
Foi o declarou à Asia News o vigário apostólico do sul da Arábia (Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen), Dom Paul Hinder, que de Abu Dhabi acompanha de perto os acontecimentos no Iêmen, graças também às fontes no país, à espera de poder retornar após anos de ausência.
Já a região de Sana'a - acrescenta o prelado – “por enquanto parece relativamente tranquila. As batalhas recomeçaram no sul", especialmente em Aden.
Interesses divergentes
Em nível oficial, sublinha o vigário apostólico, todos os protagonistas externos "declaram querer manter a unidade". Na realidade, mesmo "a aliança sob a liderança da Arábia Saudita não é mais coesa e mostra divisões, devido a interesses divergentes".
O presidente Abd Rabbih Manṣūr Hadi, representante do governo reconhecido internacionalmente, "não desfruta de grande apoio". Ao mesmo tempo Aden, que no passado já foi a capital, "tenta novamente se tornar independente".
57 mil mortos
A guerra no Iêmen que começou em 2014 como um conflito interno entre forças governamentais pró-saudita e rebeldes xiitas Houthi próximos ao Irã, acabou degenerando em março de 2015 com a intervenção da coalizão árabe liderada por Riad, registrando mais de 10 mil mortos e 55 mil feridos.
Segundo organismos independentes, os mortos entre janeiro de 2016 e final de julho de 2018, seriam de ao menos 57 mil.
Para a ONU, o conflito desencadeou "a pior crise humanitária do mundo". Cerca de 24 milhões de iemenitas (80% da população) tem necessidade urgente de assistência humanitária e a “emergência cólera” ainda preocupa.
As crianças-soldados seriam cerca de 2500 e metade das meninas casam-se antes dos 15 anos.
Novas divisões na coalizão anti-Houthi agravam situação
Para complicar a situação, surgiram novas divisões na coalizão anti-houthi. Nas últimas semanas, o confronto ultrapassou as fronteiras de Aden, chegando a Taiz, no centro do país.
Há dias são travados combates ao longo da estrada que Aden liga Aden a Taiz entre separatistas do sul e grupos salafistas financiados por Abu Dhabi, e forças governamentais ligadas ao partido al-Islah do presidente Hadi, sob a guia de Riad.
No fim de semana, diplomatas sauditas e dos Emirados Árabes Unidos tentaramnegociar um cessar-fogo entre aliados nas Províncias disputadas de Abyan e Shabwa.
Estado confederado seria uma solução "válida"
Para o vigário da Arábia, as potências internacionais estão promovendo uma política "que levará à divisão em duas ou três partes", porque todos "têm medo de um Iêmen centralizado", exceto aqueles que "terão o verdadeiro poder".
Nesse contexto, um Estado confederado seria uma solução "válida" se as partes "fossem capazes de elaborar uma Constituição equilibrada e justa, respeitando as expectativas legítimas dos tribais e dos atores regionais". Mas para chegar a este objetivo – adverte Dom Hinder – é necessária "a capacidade de aceitar compromissos razoáveis".
O silêncio da comunidade internacional
Eventuais acordos seriam possíveis "somente se existisse um mínimo de confiança", no qual "também as potências externas" ajudariam a pacificar o país, "em vez de desestabilizá-lo".
As esperanças de que em breve se chegue a uma trégua são poucas, porque muitos aspectos que envolvem o conflito "estão fora de controle". Quem sofre "é a população civil que luta contra a violência, doenças e fome", enquanto a comunidade internacional "não sabe como reagir. E cala!" Mas esse silêncio, "poderia revelar-se fatal".
Oração, a arma mais eficaz
A última reflexão do prelado é sobre a arma mais eficaz, que porém, “não destrói: a oração. É tempo de muçulmanos, cristãos e outros, orarem para que sejam abertos caminhos de paz e justiça".
(Com informações da Asia News)
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