Madagascar, terra rica de recursos, mas pobre e faminta
Cidade do Vaticano
O Papa está para visitar a grande ilha de Madagascar, onde 42% da população passa fome. “Na base do problema há a baixa renda da população e o pouco conhecimento de práticas alimentares mais saudáveis”, disse Cédric Charpentier, vice-diretor do Programa Alimentar Mundial - Madagascar.
Mudanças climáticas e resiliência
“Na realidade em Madagascar tem de tudo”, esclarece Charpentier. “Há regiões com uma agricultura produtiva, mas há muitas áreas nas quais os recursos naturais estão continuamente ameaçados pela alta frequência de mudanças climáticas e poucas infra-estruturas públicas. Madagascar é um dos dez países africanos mais expostos às catástrofes naturais, o primeiro no continente pelos danos causados pelos ciclones”. A agricultura, a pesca e a silvicultura (ciência que se dedica ao estudo dos métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais) são a base da economia malgaxe. Todavia, são também numerosos os incêndios registrados nos últimos anos que tornam vastas áreas do país totalmente áridas. O arroz é a base e o principal produto da colheita da ilha, mas a produção é insuficiente para satisfazer as necessidades internas. As regiões do sul produzem grandes quantidades de mandioca, mas a maior parte é desperdiçada. Somente em 2016 as famílias perderam até 90% de suas plantações por causa das chuvas insuficientes, privando-as de alimentos por muitos meses.
Formação das mulheres
Em uma realidade como esta, acabar com a fome e trabalhar para criar e intensificar as parcerias são os principais objetivos do PAM em Madagascar, cujas intervenções foram realizadas em apoio ao governo, em conformidade com os objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. “Temos um plano estratégico de 300 milhões de dólares para os próximos cinco anos”, explica o vice-diretor. Para nós é importante reforçar a relação ‘ajuda humanitária-desenvolvimento’, construir a resiliência, enfrentar as causas profundas da vulnerabilidade crônica, preparar as pessoas à capacidade de resposta às mudanças climáticas”. A maior parte dos projetos são destinados ao grande sul do país, a parte mais pobre e há muito investimento na formação das mulheres, porque elas “não têm acesso à propriedade da terra”.
Os refeitórios escolares
A fome em Madagascar faz com que se perca 14,5% do PIB porque a desnutrição se reflete nas despesas de saúde, escolas e perda de produtividade no mercado de trabalho. É um triste círculo vicioso. Aqui 45% das crianças com menos de 5 anos sofrem de hipotrofia, atraso de crescimento. O trabalho do PAM para melhorar suas condições de vida é fundamental: “Desde 2006 o número de crianças inscritas na escola primária diminui consideravelmente”, explica Charpentier. “Para nós, a continuidade escolástica é fundamental. Portanto os refeitórios são importantes e devem aumentar. Há 24 mil escolas públicas primárias mas apenas 1.300 delas possuem refeitório. Isso quer dizer que apenas 350 mil estudantes têm uma refeição garantida por dia. Os outros 4 milhões de crianças não recebem nada para comer na escola”.
Instrução para desenvolver
Dom Luciano Mariani, delegado da Obra Dom Orione mora no bairro Anatihasu a poucos passos do centro da capital. Dom Luciano conta que 70% da população vive abaixo da linha de pobreza mundial, e que as pessoas atraídas pela capital, e melhores condições de vida, acomodam-se onde podem sem possibilidade de construir uma casa. “Por exemplo a maior parte das famílias das nossas crianças o pai não está presente, a mãe lava roupa para fora. Ganham pouquíssimo. Muitas vezes, quando caminho pelo bairro digo ‘isso não é pobreza, é miséria’. O que é bem mais grave”. Dom Luciano faz uma comparação com 20 anos atrás: “Posso dizer que neste bairro não houve uma evolução, também porque 12 anos atrás um ciclone destruiu alguns canais que traziam água potável. Tornou-se um lamaçal e mesmo quando chove como nestes meses, não chega água potável nas casas. Nos arredores das casas fica tudo alagado, por isso há passarelas de madeira para ir de uma família a outra. Na nossa paróquia quase todos vivem nestas condições”
Por que esta paralisia? “Digamos que por um lado o governo não pensa em criar estruturas para as pessoas, por outro as família não têm meios necessários para melhorar as próprias condições de vida. Por exemplo, a maior parte deles trabalha de manhã para poder almoçar ao meio dia; trabalha a tarde a poder comer à noite. Portanto se o objetivo primário é o de encontrar comida para almoço ou jantar, não há tempo para pensar a longo prazo. O único caminho é dar educação às crianças”.
A Igreja e a assistência à saúde
A fragilidade de Madagascar reflete-se de modo claro no âmbito da saúde: Madagascar ainda não se livrou completamente da lepra, a malária é endêmica todo o ano e são numerosas as doenças parasitárias e causadas pela falta de normas higiênicas. A presença de religiosos neste âmbito revelou-se em menos de um século como um recurso fundamental com o serviço nos hospitais públicos ou a administração direta de estruturas onde os doentes podem receber assistência adequada. Entre estas irmã Maria Jardiolyn, filipina, evidencia a atenção à pessoas mais pobres
“Na capital, as nossas irmãs prestam serviço em um dos maiores hospitais”, conta a religiosa. “É um hospital público, mas muito carente. O nosso papel é principalmente estar presentes para facilitar o serviço e cuidar dos doentes. Além disso nós administramos o hospital da Congregação e um outro que é da diocese. Isso nos facilita para ajudar os pobres. Recebemos muitos voluntários e há mais de dez anos chegam médicos de todas as especializações para ajudar o nosso serviço e anunciamos pelo rádio a sua disponibilidade para que as pessoas os procurem para serem tratadas”.
Lutar com as superstições
Irmã Maria conta que há muita superstição no país. “Em algumas regiões de Madagascar ainda é necessário ensinar à população que quando as pessoas estão doentes devem ser levadas ao hospital. Muitos deles quando vêm, já estão em condições muito graves, porque ainda não acreditam em curas hospitalares. Portanto, além de tratar procuramos fazer esta pastoral para evitar que as crianças, ou as mulheres grávidas, cheguem quando já não se pode fazer mais nada. Muito ainda vão sob as árvores porque acreditam que as árvores tenham poder de curá-los”.
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