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O Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres na abertura da COP 25 de Madri O Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres na abertura da COP 25 de Madri 

Secretário-Geral da ONU: Francisco nos ajuda a promover a paz

Entrevista com Antonio Guterres nas vésperas da sua visita ao Papa Francisco

Cidade do Vaticano

O Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, irá encontrar o Papa Francisco em Roma. Para o Secretário, o Papa sempre foi uma voz forte de apoio ao multilateralismo e aos esforços humanitários. Repetiu várias vezes que devemos construir pontes ao invés de muros.

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O que o senhor pretende falar e como o Papa poderia ajudar os objetivos das Nações Unidas?

Antonio Guterreres: Queria encontrar o Santo Padre para exprimir minha admiração pelo seu trabalho. É uma voz forte sobre a crise climática, sobre a pobreza e sobre a desigualdade, sobre o multilateralismo, sobre a proteção dos refugiados e migrantes, o desarmamento e sobre muitas outras questões importantes. Com o seu trabalho, o Papa está contribuindo para alcançarmos muitos dos nossos objetivos, inclusive para o desenvolvimento sustentável, a luta pelas mudanças climáticas e a promoção de uma nova cultura de paz. Construir pontes é uma boa analogia e, enquanto discutimos os problemas mencionados, espero descobrir como podemos aumentar a nossa colaboração para fazer exatamente isto: construir pontes para melhores resultados para as pessoas que mais necessitam.

A liberdade de religião está ameaçada em todo o mundo: quais são os impactos negativos desta ameaça e como deveria ser enfrentada?

Guterreres: A liberdade de religião é um outro assunto que espero discutir com o Papa Francisco. Estou profundamente preocupado pelo aumento da intolerância que inclui ataques diretos às pessoas baseados em nada mais do que sua fé religiosa ou filiações. Os ataques mortais contra as mesquitas na Nova Zelândia, as sinagogas nos Estados Unidos e os bombardeios das igrejas no Sri Lanka na Páscoa demonstram a urgência de agir para que todos independente da sua fé religiosa, possam desfrutar plenamente seus próprios direitos humanos. A diversidade é uma riqueza, não uma ameaça. É chocante ver um número cada vez maior de indivíduos humilhados, molestados e atacados publicamente simplesmente por causa de sua religião ou fé. Os judeus foram assassinados nas sinagogas, tiveram seus túmulos deturpados por suásticas; os muçulmanos são mortos nas mesquitas, e seus locais religiosos vandalizados, os cristãos foram mortos em oração, suas igrejas incendiadas. Nos últimos meses lancei duas iniciativas: um plano de ação para sustentar os esforços para salvaguardar os locais religiosos e defender o direito da liberdade religiosa; e uma estratégia a nível das Nações Unidas para enfrentar a questão do ódio. Em colaboração com o meu Alto Representante para a Aliança das civilizações, o plano de ação tem como objetivo sustentar os Estados membros garantindo que seus fiéis possam praticar seus ritos em paz. As casas de culto em todo o mundo devem ser paraísos seguros para a reflexão e a paz, não lugares de derramamento de sangue e terror. Também precisamos de muitos investimentos na coesão social para garantir que as várias comunidades sejam respeitadas em suas identidades, e que façam o mesmo pelos outros. A recente declaração do Papa Francisco e do Grão Imame de al-Azhar, o professor Mohamed Ahmed el-Tayeb, foi uma contribuição extremamente importante para a coexistência pacífica, o respeito recíproco e a compreensão entre as várias comunidades religiosas no mundo. A instrução deve ser uma parte fundamental dos nossos esforços para combater a difusão do ódio. Pretendo convocar uma conferência sobre o papel da educação ao enfrentar e construir a resiliência contra este fenômeno.

Nas vésperas da COP 25 em Madri, o senhor disse que estamos próximos de um “ponto sem retorno” na questão das mudanças climáticas, mesmo assim importantes protagonistas mundiais como os Estados Unidos não reconhecem nem mesmo a emergência e a conferência se concluiu sem um acordo. Qual é o seu plano para superar esta oposição e convencer todos os países a fazer mais do que foi concordado em Paris em 2015?

Guterreres: Vamos ser claros. Fiquei desiludido com os resultados da 25ª Conferência de Partes que recém se concluiu em Madri. A comunidade internacional perdeu uma importante ocasião para afirmar uma ambição mais decidida sobre a mitigação, a adaptação e o financiamento para lutar contra a crise climática. Mas não devemos nos render, eu não me rendo. Estou mais do que nunca determinado a trabalhar para que 2020 seja o ano em que todos os países se comprometam em fazer o que a ciência considera necessário para alcançar a neutralidade das emissões de carbono até 2050 e para que a temperatura não aumente mais do que 1,5 graus. A crise climática é uma corrida contra o tempo para a sobrevivência da nossa civilização. Infelizmente é uma competição que estamos perdendo. E muitos já estão enfrentando as terríveis consequências da crise climática, a realidade de um ambiente que está se tornando inabitável ainda não é óbvia para todos. Mas ainda podemos inverter esta tendência. As soluções existem. Temos a ciência da nossa parte, temos novos modelos de cooperação e um maior entusiasmo para a mudança. No ano que vem temos que fornecer aquilo que a comunidade científica definiu uma “obrigação”. Todos os países devem se comprometer em reduzir, até 2030, 45% das emissões de gás efeito estufa com relação a 2010, e a alcançar um nível zero de emissões de CO2 até 2050.  

Na sua opinião, o Conselho de Segurança da ONU deve ser reformado para representar melhor o mundo? E como?

Guterreres: Concordo plenamente com Kofi Annan quando afirmou que não é possível uma reforma completa das Nações Unidas sem uma reforma do Conselho de Segurança. O atual Conselho ainda reflete muito do mundo de 1945. Por isso, a Carta das Nações Unidas é clara: cabe aos Estados membros determinar o modo como será reformado o Conselho de Segurança e espero que façam isso.

 

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16 dezembro 2019, 11:03