Giovanni, em voo para sempre
Benedetta Capelli – Cidade do Vaticano
Na Itália, 19 de março, festa de São José, é o Dia dos Pais. Massimo Raimondi, um pai que perdeu seu filho oito anos atrás nos conta a sua história que começa no dia dos Pais: “Bem cedinho recebi os parabéns, com muita alegria, das minhas duas filhas, mas durante todo o dia o meu pensamento voltava sempre para meu filho Giovanni. Ao voltar a casa, comecei finalmente a olhar os seus pertences. Até então tinha tido coragem. Encontrei cartões de aniversário recebido de amigos, adesivos do seu time, fotos e depois caiu em minhas mãos uma folha escrita a mão que iniciava assim: Querido papai…”.
Massimo é um homem com um olhar dócil, uma pessoa quieta, tranquila, que apenas responde perguntas, uma pessoa ativa que não pensa duas vezes quando deve ajudar. A sua vida é o iluminado testemunho de uma operosidade silenciosa, de um serviço ao amor, de um agradecimento incessante a Deus. Trabalha há muitos anos da Cáritas de Roma como funcionário, seu escritório localiza-se na Cittadella dela Carità que recebeu a visita do Papa Francisco em dezembro passado. Massimo fala lentamente, é reflexivo, sabe que as palavras têm um valor e por isso, ter escrito no Facebook a sua história num dia tão importante, assume um significado profundo
A carta
Era o dia 20 de março de 2019, Giovanni falecera há 7 anos. Massimo e Anna, sua esposa, que encontrou um inesperado conforto nas crianças da escolinha onde trabalha, vivem o dia a dia marcado pelos compromissos, pela ajuda dada às outras duas filhas, Antonella e Alessandra, inclusive durante a Missa à qual participam todos juntos. Porém Giovanni está sempre presente, está na lembrança dos amigos, na festa de são João dia 23 de junho quando comem uma pizza recordando o amigo. E fazem um brindo ao "Frosta" apelido dado por eles. E agora, Massimo encontra uma carta do filho depois de muitos anos…
“Querido papai, sei que parece estranho, mas sou eu, Giovanni quem escreve esta carta. Todas as vezes que acontece algum problema na nossa família, você sempre deixa cair a culpa em si mesmo, talvez você não se dê conta de todo o bem que faz por todos nós, poderia fazer uma lista, mas precisaria do dia todo…”.
Papai, pare para pensar
Para Massimo foi um susto no coração e ao ler aquela mensagem fez as contas com a sua vida. Giovanni escreve sobre a loja da família que foi à falência, “uma situação que deveria ter arrasado qualquer pessoa”, mas também da capacidade de manter a casa. Continua a ler a mensagem do filho: “Já parou para pensar tudo o que você construiu depois da falência? Apesar daquela situação você acreditou nos seus ideais”. Ideais como a certeza do amor de Deus, a confiança na providência, a confiança no respeito pelos outros, mesmo se algumas vezes não se é respeitado, abrir-se à acolhida, criar uma família para os que não têm família”. A família de Massimo adotou o menino Daniel que tinha sua mãe no cárcere eles foram a família italiana do garoto. Massimo conta como aconteceu: “Um dia, o capelão do Cárcere de Rebibbia em Roma, me telefonou, na época eu era voluntário ali. Pediu que eu acompanhasse um garoto que deveria encontrar sua mãe reclusa. Todos os sábados eu ia buscar o menino na comunidade de irmãs onde estava morando e depois o levava de volta. Mas sentia que precisava alguma coisa a mais”. Primeiro Daniel ficava algumas horas brincando na casa de Massimo com seus filhos, depois ficou para dormir e por fim Massimo obteve a adoção temporária. Hoje o garoto é um papai, tem sua família e vive longe de Roma, mas com o coração ancorado para sempre na família de Massimo.
Você não é um derrotado
“Por que tudo isso? Você se considera um derrotado?”: é a pergunta que se repete muitas vezes na vida de Massimo. Ele se perguntou quando ficou desempregado, quando foi a Moçambique e viu tanta pobreza, quando se acordava as 4 da manhã para entregar vinho nos restaurantes de Roma, quando vacilava na fé. A simples resposta é dada pelo filho Giovanni na sua mensagem: “Você tem uma força interior que consegue harmonizar o mundo inteiro!”. Essa é a verdade. Massimo é o espelho da bondade que, mesmo nas dificuldades pessoais, não deixa de ajudar os outros, que oferece o pouco que tem, tem obstinada confiança na providência que lhe abre as portas para um novo trabalho, inicialmente como agente de serviço na Villa Glori no qual Giovanni trabalhava com ele e depois na Cáritas.
Deus me ama
A doença de Giovanni chegou de modo inesperado. Um dia se acordou e não conseguiu caminhar. Foi o início de um longo calvário de diagnósticos, internações e muitas perguntas sem respostas. Daquele período resta o amor das duas irmãs, completamente dedicadas ao irmão, a força de se agarrar à Cruz, de ficarem unidos como família. “A morte de Giovanni – conta Massimo – nos uniu graças à fé. No dia do seu enterro os que me diziam que era uma prova do Senhor, eu respondia que era impossível porque o Senhor que eu tanto amava e amo, o Pai que que deu coragem tantas vezes, não podia me tirar o meu filho. Meu filho, não! Mas não era assim”.
Está conosco
“Hoje tenho certeza que Giovanni está no céu e nos espera. Eu o sinto vivo, o vejo na cozinha, na sacada, encontro-o cuidando das flores”. Giovanni está em voo, como uma águia, símbolo do seu time o Lazio, time do seu coração que amava muito. Está voando, enche a vida dos que o conheceram e hoje sorri ainda mais vendo Nicholas, o netinho que chegou alguns meses atrás: presente e futuro de uma vida que nunca morre.
“Querido papai digo de todo o coração, se aqui há algum vencedor, este é você!
Este foi o presente mais bonito, vindo do céu, que um pai – escreve Massimo – poderia desejar.
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