Iêmen. Dom Hinder apela pelo fim da guerra e tráfico de armas
Cidade do Vaticano
O Iêmen corre o risco do colapso sanitário, pois já está devastado por cinco anos de guerra. Os casos de Covid-19 são poucos, mas o governo exprime sua preocupação pelo estado de profunda pobreza e pela escassez de água que faz com que o país se torne “terreno fértil” para doenças. Assim como a Síria, o Iêmen está no coração do Papa Francisco, que recorda sempre nas suas orações estas duas áreas do mundo, martirizadas e pelas quais invoca a paz, e a tutela da vida e pede o fim dos interesses econômicos, os lucros com o tráfico de armas, a indiferença e o esquecimento. O frágil cessar-fogo por motivos humanitários assinado alguns dias atrás pelos líderes sauditas e os rebeldes houti, apoiados pelo Irã, é muito instável. Mas se perdurasse, poderia acabar com um conflito que causou a morte de 100 mil pessoas e que conta com 24 milhões necessitadas de ajudas humanitárias e muitas delas sofrendo por causa da fome.
Dom Paul Hinder, Vigário Apostólico para a Arábia meridional nos fala sobre a realidade local.
Na sua mensagem Urbi et Orbi, o Papa Francisco denunciou com muita clareza, a atenção pelas despesas com armas e falta de cuidado com as vidas. Disse: “Este não é tempo de continuar a fabricar e traficar armas”. O Iêmen é um caso exemplar…
Dom Hinder: Disse isso várias vezes, também diretamente ao Santo Padre. Certamente por trás do tráfico de armas há interesses e pessoas que não querem que a guerra termine. As nossas vozes têm uma certa força moral e por isso não temos medo de pedir o fim da guerra: fazemos nosso apelo à consciência das pessoas que podem tomar decisões, para que não pensem somente no lucro econômico. Considero muito perigoso que em tempos de pandemia o aspecto econômico predomine o aspecto humano.
O Papa pediu claramente aos governantes para encontrarem o caminho certo e aos cristãos para ficarem unidos e fiéis a Cristo que nunca nos deixa sós: então, como viver este tempo e como olhar para futuro?
Dom Hinder: Nenhum de nós sabe como será o amanhã. Não sabemos o futuro da pandemia nem o futuro do desenvolvimento político e econômico. Porém, trago comigo, e procuro comunicar aos outros, a luz da esperança que nos foi dada por Cristo Ressuscitado: não ter medo do amanhã, mesmo se não sabemos como será. É a realidade que celebramos na Páscoa, em particular na Sexta-feira Santa. Não podemos ir diretamente à Páscoa. Todos devem passar de um modo ou outro pela Sexta-feira Santa e o Sábado Santo. Esta é a fé e a esperança, depois haverá uma Páscoa. Esta é a mensagem que procuro dar aos meus fiéis: aqui esperam com ânsia o amanhã e me perguntam o que acontecerá depois da pandemia, o que faremos, se vamos perder o emprego, como faremos com nossas famílias… Estas são as perguntas de muitas pessoas, não só no Iêmen, que de qualquer forma é um lugar muito problemático.
O que o senhor acha que este tempo de pandemia pode nos ensinar?
Dom Hinder: Não posso deixar de repetir as importantíssimas palavras do Papa que me impressionaram muito: “Este não é tempo para divisões. Cristo, nossa paz, ilumine a quantos têm responsabilidades nos conflitos, para que tenham a coragem de aderir ao apelo a um cessar-fogo global e imediato em todos os cantos do mundo”. Repito este apelo em todos os lugares que visito na minha região: é claro que não temos poder real de intervenção, mas somos instrumentos de testemunho de uma realidade arraigada em um outro mundo, ou seja, no Cristo Ressuscitado. Nem sempre é fácil fazer com que o mundo secularizado, possa entender esta mensagem enraizada no além.
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