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Cáritas Europa: ajuda europeia à Venezuela, um forte sinal de proximidade

Uma grave situação humanitária e a difusão do coronavírus são preocupações da comunidade internacional em relação ao país sul-americano. O compromisso da União Européia de 144,2 milhões de euros. Entrevista com a diretora ajudas humanitárias da Cáritas Europa, Silvia Sinibaldi

Benedetta Capelli, Silvonei José - Cidade do Vaticano

A União Européia está ao lado do povo venezuelano, que passa por uma crise humanitária que não conhece limites e está preocupada com a possibilidade de um surto da Covid-19. Oficialmente são 1.200 casos, mas muitas pessoas não acreditam nesses números, dada a condição do sistema nacional de saúde. Na terça-feira, (26/05)  na Conferência Internacional de Doadores solidários para com os refugiados venezuelanos, migrantes e países da região, realizada em videoconferência, o Alto Representante para Assuntos Exteriores da União Européia Josep Borrell anunciou um pacote de ajuda. 

Condição dramática da Venezuela

Na conferência, que contou com a presença de representantes de mais de 60 países, agências da ONU, instituições e sociedade civil, ficou acordado que os fundos alocados por Bruxelas serão destinados ao financiamento de ajuda humanitária, cooperação para o desenvolvimento e prevenção de conflitos. O Banco Europeu de Investimentos disponibilizará 400 milhões de euros em empréstimos para os países de acolhida dos migrantes: mais de 5 milhões de venezuelanos foram forçados a deixar seu país no "maior êxodo da história da América Latina", destacou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Silvia Sinibaldi, diretora de ajudas humanitárias da Cáritas Europa, também esteve presente na iniciativa européia:

R. - Ter organizado, como último gesto da Comissão Junker, a primeira conferência de solidariedade para a Venezuela no final do ano passado, antes de deixar o cargo e ter continuado sobre esta linha, é certamente um sinal de aproximação incontestável. Uma proximidade que não é apenas simbólica, mas que se traduz num compromisso concreto se considerarmos os mais de 140 milhões de euros que, só para 2020, o comitê se comprometeu a colocar ao serviço do povo venezuelano tanto na ajuda humanitária e na prevenção de conflitos como na ajuda ao desenvolvimento a longo prazo. É preciso dizer que a cooperação das organizações da Cáritas, inclusive com o apoio de fundos europeus, na crise venezuelana até agora deu excelentes frutos, portanto, o gesto da conferência de terça-feira do Alto Representante é certamente positivo.

Qual é a situação na frente imigratória? Por que tantos venezuelanos, mesmo vendo as dificuldades do país, tentam voltar...

R. - De acordo com informações da Cáritas venezuelana e latino-americana, apenas 1% dos venezuelanos retornaram ou estão retornando à Venezuela, contra 16% da população que deixou o país. Há muitas causas e razões para este retorno. Entretanto, embora os países anfitriões afirmem manter a proteção social, o acesso à saúde pública e aos serviços básicos para os refugiados venezuelanos como se fossem cidadãos locais, essas informações não chegam necessariamente aos refugiados de forma tão clara.  Este vírus certamente está nos fazendo perceber a importância desta informação, que deve ser difundida e atingir os grupos mais vulneráveis que têm pouco acesso aos meios de comunicação. Se as informações não chegam de forma consistente, gera-se confusão, o que naturalmente também poderia levar a escolhas que nem sempre são precisas.

Deve-se dizer também que os venezuelanos acolhidos nos países vizinhos até agora certamente encontraram a melhor solução em relação ao país de onde saíram, também devido a uma maior disponibilidade de ofertas de emprego ou mesmo empregos ocasionais que, no entanto, geram uma série de oportunidades. Agora, porém, por causa da Covid 19, essas possibilidades deixaram de existir e há o risco de que as sementes de esperança visíveis nos países vizinhos, como a Colômbia e o Equador, possam desaparecer. Devemos considerar também que o retorno ao país de origem, mesmo diante de menos possibilidades e oportunidades, é uma ideia levada em consideração, pois existem famílias separadas. Daí este movimento de retorno que deve ser considerado em um quadro complexo.

Além da pandemia, a América Latina sofre uma grave crise alimentar. Há muita controvérsia sobre os dados sobre o surto do coronavírus no país. Algumas organizações estão falando de um sistema de saúde gravemente comprometido. Qual é a situação real?

R. - Sem dar dados precisos sobre a pobreza do sistema de saúde na Venezuela, é o quadro geral do país que é dramático. Fala-se de 9 milhões de pessoas necessitadas de ajuda humanitária, mas também de um aumento exponencial das situações de vulnerabilidade para a população. Depois há uma situação de pobreza alimentar que agora é incontrolável. Tudo isso está ligado à dificuldade de acesso ao país das organizações internacionais, que não podem levar ajuda humanitária à Venezuela. Isto significa que há novos movimentos migratórios no país; um movimento específico é também em direção às fronteiras. Mas mesmo se houvesse um pequeno número de pessoas prontas para retornar, há pelo menos um número igual que está se preparando para um novo êxodo. Então neste momento em que as temperaturas estão caindo e o inverno está chegando, sabemos o quanto isso pode complicar e facilitar a chegada do vírus.

 

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28 maio 2020, 10:33