Coronavírus: cuidado com a imunidade
Eliana Astorri - Cidade do Vaticano
Não iminente, por enquanto, a ideia de que ter anticorpos dá uma espécie de imunidade aos doentes. Cientistas de todo o mundo estão trabalhando nesta questão. Hoje temos de esperar pelos resultados dos testes clínicos, como afirma o dr. Roberto Cauda, professor de Doenças Infecciosas da Universidade Católica do Sagrado Coração:
Dr. Cauda, quem contraiu a Covid-19 e se recuperou, poderá voltar a ficar infectado?
R. - Esta é uma pergunta em aberto que ainda não tem uma resposta definitiva. Tudo gira em torno do valor que atribuímos à presença dos anticorpos. Nestes dias fala-se muito, não só na Itália mas praticamente em todo o mundo, do valor dos testes serológicos, ou seja, dos testes que evidenciam os anticorpos. Para a grande maioria das doenças, a presença de anticorpos é de longa duração e garante imunidade. Isto ainda não sabemos no que diz respeito ao coronavírus da Covid 19, não sabemos qual é o nível de anticorpos que permite alcançar a imunidade e não sabemos se os anticorpos que são evidenciados nos testes são anticorpos que neutralizam o vírus ou são de outra natureza.
Pessoalmente, eu espero as respostas dos testes clínicos. Nestes dias se fala de centenas de milhares de pessoas de diferentes regiões de Itália que serão avaliadas com os anticorpos e a partir destes dados poderemos então obter uma dupla informação: uma certeza imediata, ou seja, o quanto o vírus circulou. Permitam-me que explique melhor: se numa determinada área geográfica, numa determinada cidade, a amostra sujeita à vacinação nos dirá que há 20% de indivíduos, podemos fazer a hipótese que esse 20% de indivíduos tenha ou contraiu doença de forma evidente ou em forma silente, com o problema que tudo isto representou em termos de transmissão do vírus. O outro elemento que nos poderia dizer, e aqui o condicional é obrigatório, é se estes sujeitos poderão ou não se reinfectar ao longo do tempo...
...como já ocorreu...
R.- ...Sim ...se olharmos para a China, o número de indivíduos que se reinfectaram é extremamente pequeno, tão pequeno que foi objeto de publicações e sempre com um grande ponto de interrogação, ou seja, eram indivíduos que tinham sido reinfectados, portanto os anticorpos, se é que existiam, não tinham funcionado, ou uma recorrência de indivíduos que ainda tinham o vírus não no nível do nariz ou da faringe, portanto não evidenciados pelos testes, mas em nível do pulmão que então reapresentou a doença? Repito, é um número extremamente reduzido, razão pela qual, embora eu não seja por natureza uma pessoa que queira antecipar o que são os dados da ciência, mas com base em dados epidemiológicos, penso, poderia também evidentemente estar enganado, que a presença de anticorpos pode significar imunidade e, por conseguinte, proteção.
Até hoje, sem uma evidência científica, então na chamada Fase 2 também as pessoas curadas terão de continuar a observar o distanciamento social e a usar a máscara em locais fechados?
R. - No que me diz respeito, sim, porque, se não existe a carteira de imunidade de que tanto temos falado nas últimas semanas e que, neste momento, os dados científicos ainda não podem confirmar, é evidente que não temos a certeza de que estes sujeitos possam se reinfectar e, por conseguinte, com o máximo de escrúpulo, devem usar a máscara e observar todas as medidas que observariam se não tivessem tido anteriormente a doença.
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