Ennio Morricone: “Chorei somente duas vezes, pelo filme 'A Missão' e ao encontrar o Papa”
Bruno Franguelli - Vatican News
Quem nunca apreciou a belíssima trilha sonora do filme “A missão”, que narra os inícios da evangelização da América Latina pelos jesuítas? Ou então a trilha do clássico do cinema italiano “Novo Cinema Paradiso”? Estas são apenas algumas das inúmeras obras de um dos maiores e mais prestigiados maestros dos nossos tempos, Ennio Morricone, que infelizmente faleceu na manhã de 6 de julho em Roma, aos 91 anos, enquanto se recuperava de uma queda que ocasionou uma lesão no fêmur.
Homem de fé
Vencedor do Oscar e de outros inúmeros prêmios de relevância mundial, Ennio cultivava uma relação especial com a fé. Em entrevista à revista italiana Famiglia Cristiana, o maestro relatou as origens de sua formação religiosa:
“Provenho de uma família cristã. A minha fé nasceu em família. Os meus avós eram muito religiosos. Com minha mãe e minhas irmãs, sempre rezávamos antes de dormir. Recordo o período de guerra. Durante aqueles anos terríveis rezávamos o terço. Ficávamos muito impressionados. Ainda me vejo, sonolento, respondendo as Ave-Marias da minha mãe. Sempre fomos religiosos. No domingo íamos à Missa e recebíamos a Comunhão.”
Encontro com o Papa Jesuíta
Ennio mantinha uma especial admiração pela missão e o carisma da Companhia de Jesus. Alguns chegam até a afirmar que com a trilha de A Missão, o maestro traduziu a beleza do carisma da Companhia em música. Em Roma, o maestro residia ao lado da Chiesa del Gesù, a Igreja principal dos jesuítas. Em 2014, esteve presente na celebração dos 200 anos da restauração da Ordem que contou com a presença do Papa Francisco. Foi nesta ocasião, que Ennio Morricone encontrou-se pessoalmente com o Papa. Em outra entrevista, desta vez ao jornal Faro de Roma, narrou os detalhes deste encontro:
Numa manhã, enquanto andava para comprar jornais na Piazza del Gesù, aproximou-se de mim um jesuíta e pediu que eu compusesse uma “Missa” pelos 200 anos da restauração da Companhia após a supressão em 1773. Por que não? Um pouco antes da apresentação, o Papa veio visitar a Igreja e me levaram para encontrá-lo. Sozinhos com ele, eu e minha esposa Maria caímos em lágrimas; Francisco nos olhava em silêncio”, e conclui: “Não pensem que eu me emocione com facilidade. Chorei somente duas vezes, pelo filme A Missão e ao encontrar o Papa.”
Foi-se o maestro, mas permanece a perenidade de sua obra. A sua arte, que concebia sempre como um sopro gestado a partir da fé, certamente vai continuar inspirando e emocionando também as próximas gerações. Ennio Morricone, além de sua obra de incalculável valor, nos deixa a sua espiritualidade artística. Sobre a fé e a sua profunda relação com a música, vale recordar suas próprias palavras:
“A musica é seguramente próxima a Deus. A música é a única arte verdadeira que nos aproxima verdadeiramente do Pai Eterno, e da Eternidade.”
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