Covid-19 e gafanhotos agravam crise alimentar no Iêmen
De acordo com a mais recente análise da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC) publicada na quarta-feira, 22, pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), pelo PAM (Programa Mundial de Alimentos) e demais parcerias, choques econômicos, conflitos, inundações, gafanhotos do deserto e agora a Covid-19 estão criando uma tempestade perfeita que poderia reverter os suados avanços na segurança alimentar no Iêmen.
A análise realizada até agora em 133 distritos do sul do país prevê um aumento alarmante de pessoas que deverão se deparar diante de altos níveis de insegurança alimentar aguda, ou seja, “em fase de crise” (IPC Fase 3) e de emergência (IPC Fase 4) até o final do ano.
A insegurança alimentar aguda nessas áreas foi atenuada no ano passado, graças a um aumento maciço da assistência humanitária, mas todo o trabalho realizado poderá ser rapidamente cancelado, pois o número de pessoas que enfrentam altos níveis de insegurança alimentar aguda deve aumentar de 2 para 3,2 milhões nos próximos seis meses.
Isso representaria um aumento de 25% (em fevereiro-abril) para 40% da população (em julho-dezembro) que sofre de altos níveis de insegurança alimentar aguda, ainda que seja mantida a assistência alimentar humanitária e o acesso àqueles que dela precisam.
Fatores que determinam a insegurança alimentar aguda
- O declínio econômico é o principal fator. A crise econômica e a inflação persistem com a moeda local em queda livre, o aumento dos preços dos alimentos e o quase esgotamento das reservas cambiais. Por exemplo, de meados de dezembro de 2019 a meados de junho de 2020, a moeda local (rial iemenita) perdeu em média 19% de seu valor em relação ao dólar americano, superando os níveis de crise de 2018.
- Ademais, o infindável conflito continua sendo um fator chave na insegurança alimentar aguda.
- A Covid-19 está tendo uma incidência na disponibilidade de alimentos, no acesso e na disponibilidade no mercado, bem como na oportunidade de ganhos e sobre os salários. Medidas importantes para limitar a propagação da Covid-19 levaram a atrasos nas importações, barreiras logísticas e incertezas do mercado. As remessas dos iemenitas para o exterior também caíram cerca de 20% e devem continuar em declínio.
- Novas áreas de proliferação de gafanhotos no deserto e o parasita Lafigma estão surgindo como resultado de condições ambientais favoráveis, incluindo as chuvas e ameaçam a produção de alimentos no Iêmen, na região e além fronteira.
- A produção de grãos neste ano, por exemplo, deve ser de 365.000 toneladas - menos da metade dos níveis anteriores à guerra.
- As inundações repentinas já tiveram um impacto devastador em algumas áreas, e a maioria dos distritos ao longo da costa árabe deve ser atingida por ciclones nos próximos meses.
"A análise mostra que o Iêmen está novamente à beira de uma grande crise de segurança alimentar. Há 18 meses, quando encontramos uma situação semelhante, recebemos contribuições generosas. Usamos os recursos que nos foram confiados e expandimos significativamente a assistência nos distritos onde as pessoas estavam com mais fome e em maior risco. O resultado foi extraordinário. Evitamos a carestia. Se não recebermos os fundos de que temos necessidade agora, desta vez não poderemos fazer o mesmo", disse Lise Grande, Coordenadora Humanitária do Iêmen.
“A população do Iêmen já passou por muitas provações e é resiliente. Mas agora estão enfrentando muitas dificuldades e ameaças ao mesmo tempo - da Covid-19 às invasões de gafanhotos do deserto. Os pequenos agricultores e famílias que dependem da agricultura para sua subsistência precisam do nosso apoio agora mais do que nunca", afirmou por sua vez Hussein Gadain, representante da FAO no Iêmen.
"O Iêmen está enfrentando uma crise em várias frentes", disse Laurent Bukera, diretor do PAM no Iêmen. “Temos que agir agora. Em 2019, graças a uma expansão significativa da assistência, o PAM e seus parceiros reverteram a deterioração das condições nas áreas mais afetadas do Iêmen. Os sinais de alerta voltaram e, com a pandemia de coronavírus, a situação pode piorar se a ação humanitária for adiada".
"Uma perigosa combinação de conflitos, dificuldades econômicas, escassez de alimentos e um sistema de saúde fraco levaram milhões de crianças no Iêmen à beira do precipício, e a crise da Covid-19 poderia piorar ainda mais", disse Sherin Varkey, representante do UNICEF no Iêmen. “Cada vez mais crianças pequenas correm o risco de ficar seriamente desnutridas e de exigir cuidados urgentes. Um maior e constante apoio é vital se quisermos salvar a vida dessas crianças".
*Com FAO/PAM/UNICEF
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