Síria: filhos de ex-jihadistas albaneses voltam para casa
Marco Guerra – Vatican News
Mais de cem mil pessoas vivem nos campos de refugiados no norte da Síria, entre estes 68 mil só no campo al-Hol, em Hasaka, administrado pelas forças árabes-curdas. Na estrutura estão detidas as famílias dos ex-combatentes do autoproclamado Estado Islâmico com cerca de 28 mil crianças, provenientes de mais de 60 países muitos das quais do Ocidente.
Incerteza no quadro jurídico
De acordo com um estudo de pesquisadores belgas - publicado na quarta-feira (28) – a maioria é proveniente da França, acredita-se que em vários campos sírios existam "150-200" de seus cidadãos adultos e "200-250" crianças. Seguem a Alemanha, Holanda, Suécia, Bélgica e Reino Unido. A incerteza da estrutura jurídica internacional e a relutância de muitos governos em acolher de volta seus cidadãos envolvidos no conflito sírio leva à detenção por tempo indeterminado, sem perspectiva de um julgamento justo. As vítimas inocentes desta situação são em particular as crianças que vivem em condições extremamente difíceis e sofrem pela omissão dos governos.
O caso das quatro crianças albanesas
Nesta situação, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e o Movimento do Crescente Vermelho Sírio concluíram com sucesso outro projeto para repatriar uma família do campo de al-Hol. São quatro crianças albanesas e sua mãe que retornaram ao seu país de origem na última segunda-feira (25), depois de passarem primeiro por Damasco e depois por Beirute no Líbano. A operação foi realizada em coordenação com o governo albanês. O primeiro-ministro, Edi Rama, que viajou para Beirute, falou de "uma operação realmente complicada" concluída "depois de mais de um ano de esforços".
Vontade política
A repatriação de crianças do campo de al-Hol deve ser uma prioridade de cada governo", disse no Twitter o presidente da Cruz Vermelha Francesco Rocca, que agradeceu ao presidente do Crescente Vermelho, Khaled Hboubati e "todas as partes envolvidas nesta operação humanitária de levar de volta as crianças albanesas para casa". "Isto só é possível quando os governos mostram vontade política", acrescentou o presidente.
O caso Alvin
Há um ano, outra criança de origem albanesa, Alvin, que se encontrava no campo de al-Hol, foi levada para casa por parentes que vivem na Itália através dos esforços do Crescente Vermelho (CICV) e de várias autoridades governamentais envolvidas. A partir desta iniciativa prossegue o exame de cada caso, começando com os mais frágeis.
Envolver todos as partes
Enquanto que o porta-voz da Cruz Vermelha Internacional, Tommaso Della Longa explica que “graças ao nosso papel neutro, temos a capacidade de diálogo com todas as partes envolvidas, a saber, o governo da Síria e os executivos do Líbano e da Albânia. Este é um processo que não seria possível sem a vontade de dialogar".
Crianças vítimas inocentes
"Há dezenas de milhares de pessoas vivendo no campo de refugiados de Al Hol”, continua o porta-voz, “que carregam o estigma de serem familiares de pessoas que participaram dos combates. É compreensível a reação da opinião pública que tem medo de repatriar essas pessoas, mas recordamos que as crianças não são culpadas de nada e pedimos aos governos que avaliem cuidadosamente cada caso".
A capacidade de reinserção
O porta-voz da Cruz Vermelha está convencido de que os governos deveriam assumir a responsabilidade de cuidar desses menores, até porque "deixá-los sem escola e sem educação e sem dar-lhes a oportunidade de manter seus afetos" poderia levar a caminhos que desembocam na violência.
Della Longa narra a experiência positiva da criança albanesa que, apesar de ver toda sua família morrer sob os bombardeios, foi reintegrada com sucesso na Itália após sua permanência no campo de Al Hol: "Por um lado, as crianças são as mais afetadas, porque lhes são negados direitos fundamentais como a brincadeira e a educação, mas, por outro lado, são também o elo mais forte para reagir e recomeçar uma vida normal. Ver suas fotos na escola mostra que é possível fazer isso".
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