As violências na Etiópia e os riscos de um país antigo e multiétnico
Fausta Speranza – Vatican News
O Primeiro-Ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, condenou os ataques afirmando que "os inimigos da Etiópia" estão determinados a "ou governar ou destruir o país". Explicou que a estratégia utilizada é "armar civis e lançar ataques bárbaros baseados na identidade étnica". É devastador", acrescentou, "ver acontecer isto, como cidadão e como líder".
A contraposição no Tigray
O primeiro-ministro Abiy Ahmed, autorizou uma ofensiva militar no Tigray, região do norte do país dominada pela Frente de Libertação Popular (TPLF) depois de anunciar que uma base militar federal local tinha sido atacada. "Nossas forças de defesa foram ordenadas a assumir a tarefa de salvar a nação". A última etapa da linha vermelha foi superada. A força é usada na mesma medida para salvar o povo e o país", escreveu Abiy Ahmed em um texto publicado no Facebook e no Twitter.
O massacre no Estado de Oromia
Segundo a Anistia Internacional, pelo menos 54 pessoas da etnia Amhara foram mortas nos ataques do domingo, 1º de novembro, em três vilarejos na área oeste de Welega, em Oromia, enquanto a Comissão Etíope de Direitos Humanos (Ehrc) falou de 32 mortes como estimativa provisória, dizendo que o número final será maior. Homens armados atiraram em civis, saquearam o gado e queimaram as casas. Segundo as autoridades, os agressores são do Exército de Libertação Oromo, que se separou da Frente de Libertação Oromo - não mais engajada na luta armada - e é acusado de outros assassinatos, ataques e sequestros. Os ataques ocorreram um dia depois da retirada das forças federais de uma área considerada vulnerável com uma decisão que "levanta questões que precisam ser respondidas", disse em uma nota Deprose Muchena, diretor regional da Anistia Internacional da África Oriental e Austral. O primeiro-ministro etíope comunicou que as forças de segurança foram redistribuídas em toda a área. O Presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, condenou os recentes ataques na Etiópia.
Paz com a Eritreia mas não dentro da Etiópia
O primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed Ali recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2019 por seu acordo histórico com a Eritréia do qual foi promotor. Mas o chefe de governo tem que enfrentar a difícil complexidade interna de seu país, formado por 10 regiões com fortes motivações identitárias, como assinalado por Paola Pastacaldi, escritora italiana de origem etíope autora, entre outros livros, de um texto intitulado "A África não é negra":
A complexidade de um país antigo
A Etiópia é o país africano mais antigo, o mais importante em termos de população. Tem uma história muito antiga e fundamental para a África, explica Pastacaldi, mas também para o mundo. É definido como um mosaico de grupos étnicos e infelizmente não consegue encontrar a verdadeira paz. Nos últimos anos a economia teve um bom impulso: o PIB está crescendo, mas em geral continua sendo um país pobre, com uma população fundamentalmente pobre. A classe dirigente imperial, explica a escritora, que liderou a longa monarquia que terminou em 1975 veio da etnia Amhara, que sempre foi oposta pela etnia Oromo, descendentes de escravos somalis. Abyi, que se tornou primeiro-ministro em 2018, provém do grupo étnico Oromo. Mas a questão é que foram criados muitos grupos e subgrupos que agora é muito difícil encontrar interlocutores. Na base do conflito na região de Oromia está a questão da gestão da terra, mas geralmente é uma questão de gestão de poder e é uma oposição muito complexa com raízes antigas. Sabemos que os Oromi representam 35% da população e são o grupo étnico mais populoso, exceto que estão muito divididos entre si, mas não estão no poder. Os Amhara são em menor número.
Conhecer os fatos e a cultura de um povo
Pastacaldi afirma que os grupos étnicos individuais devem ser muito bem estudados, sublinhando o forte valor de identidade, as peculiaridades linguísticas e religiosas de cada um. E reitera que, em geral, o quadro do país é muito complexo e que já era complexo quando, nos anos Trinta, era dominado pela campanha fascista que, no entanto, dava uma imagem padronizada, não correta. Pastacaldi enfatiza a dificuldade de ter informações atuais para poder realmente analisar este "mosaico", lembrando que a mídia não tem dado muita cobertura nos últimos anos, mas também reconhecendo que recentemente alguns jornais estão tentando fazer o que podem.
E juntamente com o esforço de acompanhar os acontecimentos recentes, enfatiza que seria importante conhecer melhor a profundidade cultural deste grande país africano, recuperando a riqueza da história do século passado, que reconta um país muito mais rico do que aquele que se conhece até agora na historiografia italiana.
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