O Peru enfrenta crise institucional num período de pandemia
Andrea De Angelis, Silvonei José – Vatican News
Uma crise que não conhece fim, pelo menos neste momento. Na semana passada, o terremoto político que atingiu o Peru parecia abrir as portas a um período de transição de cerca de seis meses, até às eleições gerais do próximo mês de abril. Em vez disso, após apenas cinco dias, o novo Chefe de Estado entregou a sua "demissão irrevogável". Foram, de fato, as ruas que pediram o fim do mandato presidencial. As manifestações em Lima começaram há uma semanas, segunda-feira 9 de novembro, após a votação do Parlamento para retirar Vizcarra, mas espalharam-se por todo o país, envolvendo em particular a geração mais jovem.
Duas mortes em manifestações
A polícia reagiu usando gás lacrimogêneo e balas de borracha em várias ocasiões, ferindo dezenas de pessoas e recebendo acusações de violência e abuso. Depois de duas pessoas terem morrido nos confrontos de sábado, treze ministros do novo governo de Merino se demitiram. Assim, o passo atrás do presidente já estava no ar, o que ocorreu no domingo, 15 de novembro. De acordo com a mídia local e internacional, as manifestações de sexta-feira e sábado foram das mais participadas neste século no país sul-americano. No sábado, dois jovens manifestantes de vinte e dois anos e vinte e quatro morreram.
Cenários futuros
"A única solução a curto prazo é um Governo nacional que reúna as principais forças políticas em torno de questões centrais para o país, tais como a crise econômica e social e, naturalmente, a pandemia de Covid-19. Gianni La Bella, professor de História Contemporânea na Universidade de Modena-Reggio Emilia, Itália, afirma isto na nossa entrevista:
"O papel da Igreja neste sentido é fundamental, porque ela é uma voz central no debate social peruano e - continua - apela ao respeito por esses valores fundamentais, incluindo a solidariedade e o confronto entre as partes, a fim de evitar uma crise que, para o Peru, corre o risco de se tornar democrática. La Bella sublinha como "o país está pagando um preço muito elevado pela emergência sanitária, dado que a economia informal representa quase metade do mercado de trabalho peruano". Mais uma razão então para afirmar que "é impensável - conclui - prolongar esta crise até abril, quando as eleições estão programadas".
A mensagem dos bispos
Após a destituição de Vizcarra, numa mensagem publicada na página web do episcopado e dirigida a todos os peruanos, os prelados expressaram "grande preocupação com o destino da nação e das instituições democráticas", lembrando-lhes que "o país precisa do esforço de todos para se consolidar como nação". "Neste contexto atual - sublinharam os bispos - é necessário garantir a realização das eleições gerais em abril próximo e a transferência do poder no mês de julho de 2021, bem como dar prioridade à emergência sanitária, econômica e social". Este é o momento "de renunciar aos interesses pessoais ou de grupo para promover o renascimento econômico - disseram os prelados - e construir estradas de solidariedade, fraternidade e desenvolvimento integral".
Os últimos presidentes
A crise institucional no Peru é o resultado de longos anos de convulsões políticas. Os últimos quatro presidentes antes de Merino foram todos acusados de corrupção: dois estão na prisão, um aguarda julgamento e um está sob investigação. Alberto Fujimori, no poder na primeira década do século XXI, está preso, tal como o seu sucessor, Ollanta Humala, preso após seis anos no cargo e à espera de julgamento. Também à espera de julgamento está Pedro Pablo Kuczynski, que liderou o Peru de 2016 a 2018. Então Martin Vizcarra, investigado e destituído por "indignidade moral" este mês.
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