Bálcãs: migrantes em situação dramática
Marina Tomarro – Vatican News
Nevou muito ao redor do campo de refugiados de Lipa, tanto que até dificultou a entrada de voluntários da Cáritas Internacional e da Cruz Vermelha, tentando de alguma forma trazer conforto àqueles que são forçados a viver lá, esperando por um futuro melhor e acima de tudo mais digno. Depois do incêndio das barracas em dezembro passado, a situação piorou consideravelmente. As pessoas estão vivendo sem água, eletricidade ou serviços higiênicos.
Entrevista com o jornalista Nello Scavo do jornal Avvenire:
Quem são essas pessoas que vivem atualmente no campo de Lipa?
Scavo: São migrantes e refugiados de países como o Afeganistão e Paquistão, mas nos últimos meses houve um afluxo de Bangladesh e também de migrantes do norte da África que para chegar aos Bálcãs viajam milhares de quilômetros. Deve-se lembrar que antes de chegar a esta fronteira da União Europeia, na realidade, estas pessoas já atravessaram países como a Bulgária e especialmente a Grécia, que de alguma forma as deixaram transitar. Na verdade, seu objetivo é principalmente chegar à Alemanha, ou França, Áustria, etc. Muitos querem seguir ainda mais ao norte, nenhum deles quer parar na Croácia e Eslovênia e apenas uma pequena minoria quer chegar na Itália. Evidentemente, de Bruxelas é pedido a alguns países que tentem conter este fluxo, que seria de cerca de setenta mil pessoas de 2018 até hoje, com o resultado, porém, de cair o fardo da gestão desta rota dos Balcãs em um país como a Bósnia que não é rico. Além disso, não esqueçamos que estamos no meio da pandemia de Covid com o sistema de saúde dos países dos Bálcãs realmente sob um enorme estresse.
Sabemos que o contexto também é agravado pela falta de integração com a população do território....
Scavo: A população local sempre tentou aliviar o sofrimento dessas pessoas. Nos últimos anos temos visto realmente formas de colaboração espontânea, mas nos últimos meses a situação tem se tornado mais difícil. Por um lado, devido ao agravamento da crise econômica causada pela pandemia e, por outro, porque alguns em nível político estão criando polêmicas, lembrando divisões que remontam até mesmo ao conflito na antiga Iugoslávia. A população está cansada. E não esqueçamos que a Croácia está sofrendo também as consequências do recente terremoto que abalou o país. Tudo isso levou a uma mistura explosiva. E somando tudo há ainda o abandono da União Europeia, porque até hoje de Bruxelas só chegaram promessas, mas nada de concreto, a não ser o apoio ao controle das fronteiras, financiando as atividades da polícia e dos militares. A Eslovênia está construindo uma barreira metálica na fronteira com a Croácia e, portanto, a população local não é ajudada a cooperar ou a se sentir segura a esse respeito, porque quando tantas pessoas se juntam, a tensão naturalmente aumenta.
Quais poderiam ser as soluções neste momento?
Scavo: A Europa deveria repensar sua política de acolhida como um todo. Não estamos questionando esta questão do ponto de vista ideológico, mas do ponto de vista dos direitos humanos, porque existem vários episódios documentados de violência e abuso de migrantes cometidos nas fronteiras. Por outro lado, porém, precisamos lidar seriamente com a redistribuição dos migrantes que chegam aos diversos países europeus e intervir maciçamente em nível humanitário nestas situações em que apenas organizações não governamentais e voluntários, muitos do mundo católico internacional, estão envolvidos. Não é possível viver com uma refeição por dia graças ao grande esforço da Cruz Vermelha Internacional, ou que a lenha seja necessária para se aquecer … Este roteiro, não é novo, devemos, por um lado, trabalhar como recorda o Papa Francisco, sobre as razões pelas quais estas pessoas são levadas a deixar suas pátrias, mas, por outro lado, também lidar com este fechamento por parte da União Europeia, que só agrava os problemas de países frágeis como as democracias balcânicas e gera confrontos e preocupações não só políticas, dentro da Europa.
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