Famílias na pandemia: tempo do cuidado
.Ricardo Gomes – Diocese de Campos
“Lembrar sempre que a vida encontra profundo significado quando o cuidado se faz presente entre as pessoas.”. Janet Marize Vivan
Janet Marize Vivan traz a sua experiência como mãe e profissional de psicologia e destaca a importância do cuidado nas relações familiares evitando situações mais conflitivas e desarmônicas também ficaram evidenciadas neste tempo de isolamento social que intensificou o tempo de convívio familiar. E ressalta que situações conflitivas que acarretam a violência e maus-tratos cometidos como as sofridas por aqueles de seu convívio mais próximo.
"O ritmo de vida de nossa sociedade é acelerado e exigente. A pressa e a urgência se fazem presentes todos os dias por conta das atividades laborais, financeiras, familiares e sociais. Com tantas demandas a serem consideradas é certo que o tempo se faz escasso. Para dar conta, é preciso estabelecer prioridades e, algumas vezes, necessidades importantes ficam fora da agenda", pontua.
Janet ressalta que nessas necessidades que acabam por serem negligenciadas neste tipo de contexto está o olhar de cuidado. Olhar de cuidado é a atitude de estar atento às nossas próprias necessidades de quem convive em família ou socialmente. O bebê ao nascer sente-se indiferenciado de sua mãe e só passa a perceber sua própria existência pelo olhar da mesma.
"O enamoramento surge pelo olhar de duas pessoas. O paciente é acolhido pelo olhar do profissional que o atende. O estudante se identifica pelo olhar do educador. É correto pensar que se este olhar é um olhar de cuidado, os vínculos que se estabelecem serão afetivamente saudáveis e estruturantes. Mas se este olhar não denota cuidado, ou, até mesmo, denota desprezo, indiferença e desamor, os vínculos serão falhos e potencialmente desestruturastes", destaca Janet.
Gestos simples como amamentar olhando nos olhos do bebê, acolher o choro da criança auxiliando-a a entender suas emoções, ouvir o que o adolescente tem a dizer, ter paciência, tolerância e exercer um bom diálogo com seu companheiro ou companheira, telefonar para seus familiares distantes, oferecer boas palavras para amigos e colegas e lembrar sempre de ser gentil consigo mesmo são exemplos de cuidado. Por outro lado, a falta de cuidado é percebida em hábitos não saudáveis, palavras rudes que desqualificam o outro, desrespeito, pouca escuta, desvalorização, ingratidão, individualismo e egoísmo. Quando falamos de cuidado.
"Estamos falando de amor. O cuidado é a expressão máxima do amor. Já afirma um conhecido ditado: "Quem ama cuida!". E, quem é cuidado, sente-se amado. Sentindo-se amado, aprende a amar. E isso facilita que se estabeleça um ciclo que se retroalimenta numa corrente do bem. Bom lembrar que quem cuida, na maioria das vezes, desenvolve um sentimento de amor maior. Por isso a importância dos pais participarem ativamente nos cuidados dos filhos", sugere.
No lado oposto do espectro do cuidado, está o abandono. Abandono é a total ausência de cuidado. Tanto o abandono físico como o emocional causam uma das maiores dores humanas. A curto, médio e longo prazo, restam dificuldades psicológicas que precisarão de grande investimento em terapia para serem superadas.
"De tudo isso podemos concluir que precisamos ter atenção e carinho com a forma com a qual nos relacionamos, comunicamos, olhamos, compreendemos e agimos, a fim de tornar nosso convívio mais humano, mais leve e harmonioso em família e sociedade. Esta atenção e carinho é especialmente importante no que se refere a crianças e adolescentes, pois estes, por estarem em condição especial de desenvolvimento, absorvem tudo o que está ocorrendo em seu entorno físico e emocional a fim de construir seu caráter e sua personalidade. E não há nenhum pai ou mãe que não deseje um filho com bom caráter e com uma personalidade sadia. Por isso a hora é agora. Vamos desenvolver nosso olhar de cuidado, valorizar a existência de todos, plantar boas sementes em forma de exemplos positivos para que a colheita seja de saúde e alegria", conclui Janet.
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