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"Isso acontece em países que conheceram séculos de paz, nunca devemos esquecer”, diz missionário comboniano "Isso acontece em países que conheceram séculos de paz, nunca devemos esquecer”, diz missionário comboniano 

Massacre no Níger: ao menos 137 as vítimas

No país da África Ocidental, o saldo dos ataques jihadistas no domingo, é dramático. Firme a condenação do governo: "Atos bárbaros perpetrados por indivíduos sem lei e sem fé". Entrevista com o missionário Aurelio Boscaini: “O caminho do diálogo, tantas vezes indicado pelo Papa Francisco, é o único que pode ser percorrido”.

Emanuela Campanile e Andrea De Angelis – Vatican News

As vítimas são pelo menos 137. "Visando sistematicamente as populações civis, esses bandidos armados deram um passo a mais no horror e na brutalidade", disse o porta-voz do governo Zakaria Abdourahamane, em um comunicado divulgado na televisão pública. O governo de Niamey declarou três dias de luto nacional no país.

As mortes no domingo representaram a pior carnificina civil do Níger na memória recente, superando aquelas de um ataque de supostos militantes em janeiro, que matou pelo menos 100 moradores, e outro na semana passada, que matou pelo menos 58.

 

Uma fonte de segurança local atribuiu os ataques de domingo, realizados por homens em motocicletas na remota região de Tahoua, perto da fronteira com o Mali, à afiliada local do Estado Islâmico. O Estado Islâmico, de fato, havia assumido a responsabilidade por ataques anteriores contra as forças de segurança e trabalhadores franceses de ajuda humanitária.

“Sem lei e sem fé”

 

Seis dias de violência sem precedentes e profunda dor para o país da África Ocidental, cujo governo condenou esses atos bárbaros perpetrados "por indivíduos sem lei e sem fé" e que em menos de uma semana causaram a morte de pelo menos duzentas pessoas. A intensificação dos ataques é o primeiro grande desafio para o chefe de Estado recém-eleito, Mohamed Bazoum, que sucede Mahamadou Issoufou. Sua vitória foi confirmada no domingo pelo Tribunal Constitucional do Níger. Bazoum, expoente do partido de governo Pnds, venceu com 55,66% dos votos, enquanto seu adversário Mahamane Ousmane, do partido Rdr-Tchanji, obteve 45,34% dos votos, segundo o resultado final. A presença nas urnas chegou a 62%.

A solução não é militar

 

"O Níger tem sido alvo de ataques jihadistas há anos, como seus vizinhos Mali e Nigéria. As coisas estão piorando, apesar das eleições presidenciais que levaram a uma transição suave de poder”, afirma na entrevista ao Vatican News o missionário comboniano Aurelio Boscaini, ex-diretor da revista Nigrizia. “O problema da insegurança é enorme e está ligado à pobreza que, como sabemos, nunca é conselheira da paz quando beira a miséria. Esses agressores são sobretudo jovens”.

 “A solução certamente não é uma intervenção militar, o problema - continua - é social. Um problema enorme que deve ser enfrentado em um país pobre, que não pode se dar ao luxo de fazer a não ser por meio do diálogo. Acredito que seja impossível vencer este desafio no o território sem o diálogo, aqui estamos diante de verdadeiros massacres”.

O convite do Papa ao diálogo

 

“A questão é supranacional, a jihad no Sahel ocupa um espaço que vai da Mauritânia ao Níger, incluindo o norte da Nigéria. O Papa deveria ser ouvido pelos presidentes dessas nações, eles devem ter a coragem de sentar-se com os responsáveis ​​pelos massacres e dialogar. O que está acontecendo – afirma o ex-diretor de Nigrizia - é incrível, eu diria indizível. Isso acontece em países que conheceram séculos de paz, nunca devemos esquecer”.

Então, dialogar com quem? “Um diálogo democrático, entre as estruturas de poder, seguindo uma linha. É preciso ter a coragem de sentar-se à mesa. Sei que é difícil, porque o mundo visa derrotar o terrorismo, mas não podemos esquecer que também os inimigos são pessoas. Não há outra solução senão sentar-se e discutir. O problema não pode ser resolvido de outra forma. Pelo menos tentar torna-se imprescindível, senão não haverá paz para ninguém".

A Igreja e os missionários

 

“Há anos sou missionário no Benin, tenho enorme admiração por essas pessoas. A aventura do padre Maccalli (o missionário italiano sequestrado no Níger e libertado no Mali após um sequestro que durou mais de dois anos - ndr) ensina-nos algo, missionários - afirma Boscaini -. Eles sabem que estão expostos a perigos, incluindo sequestros. A Igreja Católica do Níger está presente, certamente não como uma potência regional. Trata-se de um pequeno grupo de cristãos que, no entanto, tem muito significado. O seu empenho na escola, na saúde é um exemplo para todos nós.”

“Este trabalho na área social - conclui - é uma forma de estabelecer um diálogo entre culturas e religiões. Devemos ter orgulho destes missionários, conheço alguns deles e são pessoas que ficam perto do povo. Certamente, têm medo, mas a fé no Senhor prevalece e permite que trabalhem com as pessoas, de rezar, de anunciar o amor em Jesus e a fraternidade universal. Mesmo, e sobretudo, em um país em que a Boa Nova não é tão facilmente acolhida”.

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24 março 2021, 12:56