CELAM: apresentado livro sobre o drama dos Pobres e da Terra
Padre Modino - CELAM
O Secretário-Geral do CELAM recordou "tantos irmãos e irmãs que sofrem a injustiça, iniquidade e maus-tratos da nossa casa comum" e pediu que o livro "nos ajude a tomar consciência e a crescer em compromisso". Trata-se de "dar uma contribuição neste momento que estamos passando para sermos melhores", disse Claudia Carbajal, de "propor compromissos concretos", segundo Emilio Inzaurraga, que espera "que os inspire a fazer o mesmo, uma vez que nos ajudou a servir". É um livro onde aparece "não só o que pensamos teoricamente, mas também muitas das coisas que vivemos", acrescentou Carlos Vigil, que espera "contribuir com um grão de areia para despertar o sonho de uma humanidade fraterna".
Ao longo da apresentação, diferentes vozes estiveram presentes, o que ajudou a percorrer o conteúdo do livro. Dom Gustavo Carrara, bispo auxiliar de Buenos Aires, que trabalha na Pastoral das Favelas, iniciou a sua análise com as categorias de terra, teto e trabalho, que definiu como "direitos sagrados", fazendo um apelo para cuidar da casa comum, afirmando que "para sonhar com um mundo melhor é necessário optar pela fraternidade como princípio fundamental, porque ninguém se salva sozinho", e juntamente com isso, que "é necessário derrubar muros e construir pontes de misericórdia, especialmente para as periferias existenciais".
Para o cardeal Pedro Barreto, o livro contém "desafios para nos levar a uma mudança de paradigma que encoraje o sonho de uma humanidade fraterna". Segundo o presidente da REPAM, "os seis capítulos contêm toda a riqueza do Evangelho de uma Igreja em saída, com o seu Magistério que ilumina os acontecimentos sociais e propõe formas de agir solidariamente para o bem comum".
O cardeal peruano destacou o processo sinodal que é seguido no livro, analisando os elementos que dele fazem parte, que nos chama a uma mudança de sistema, a viver a cultura do encontro, a ser artesãos de paz, a promover o desenvolvimento humano integral, a ouvir o gemido da Terra, a pôr em prática a Laudato si, que nos chama a cuidar da vida e da casa comum, a viver a ecologia integral, a responder aos desafios, para os quais o livro nos propõe ser uma Igreja em saída. O cardeal Barreto destacou as contribuições sobre a dimensão social da evangelização, a ênfase no processo sinodal, o impulso do Papa Francisco na renovação da Igreja. É um livro que "abre horizontes insuspeitos para a nossa missão evangelizadora nestes tempos de pandemia".
Houve contribuições de pessoas de diferentes realidades, como Silvia Molina de Bertea, que do Chaco Saltenho descobriu no livro "qual é o nosso serviço para estes tempos", afirmando que ser diferente nos complementa, encorajando-nos a "ouvir a polifonia da celebração da vida", a entrar num processo de conversão que nos leva a mudar paradigmas e a sentir o gemido dos pobres e da Terra. Alberto Vicenzi, sindicalista, destacou a abordagem do livro ao desenvolvimento integral do trabalho e a proposta do Papa Francisco para uma mudança de estruturas onde a pessoa é o centro.
Dom Jorge Lozano afirmou que "vivemos numa sociedade onde a escuta, em geral, é muito difícil", uma atitude fundamental para o diálogo e para a tarefa de evangelização. Para levar a cabo esta escuta propôs como exemplo o Bom Samaritano, para ouvir os pobres, acrescentando a necessidade de ouvir a Irmã Terra, como disse São Francisco de Assis.
Liliana Franco vê o livro como o fruto da construção coletiva, um texto que "brota de uma paixão por Jesus Cristo, que não é mais do que uma paixão pela humanidade". É a Boa Nova, "que nos desperta da nossa confortável letargia, que nos mobiliza e exige que abordemos de uma forma cristã e humana uma realidade que, devido à sua complexidade, é ávida de misericórdia. São páginas que "passaram através do cadinho do compromisso, do contato vital com a realidade". O livro coloca-nos, segundo a presidenta da CLAR, perante "o continente com maior desigualdade do Planeta", fazendo referência às veias abertas de que nos falou Eduardo Galeano, que mostram os muitos dramas presentes no continente latino-americano, "que aumentam a desigualdade e abrem cada vez mais brechas".
Este é um livro que "levanta muitas questões sobre a nossa identidade como crentes e lembra-nos que toda a forma de miséria é uma violação do plano de Deus e uma injustiça". Segundo a religiosa, "não podemos continuar a identificar o progresso com o crescimento económico, não há progresso onde a vida e os direitos humanos são violados, onde a terra e as culturas são sangradas até à morte". Insistiu na necessidade do Bem Viver das cosmovisões indígenas, no reconhecimento da sacralidade de toda a criação e na defesa da dignidade humana, em não esquecer que temos uma dívida social, em novas formas de nos relacionarmos entre nós e com a terra, em ouvir o grito da realidade, em descobrir que a pobreza tem um rosto, um nome, um endereço, em ir às causas estruturais da pobreza, em tecer redes que favoreçam o empenho na defesa, em não permanecer no individualismo mesquinho, em traduzir a paixão por Jesus em paixão pelo povo.
Transformar numa palavra viva, rejuvenescer temas, é o que os autores conseguiram segundo Tato Figueredo, que destaca "a ligação entre a realidade e os documentos da Igreja". O educador popular destaca as conclusões que aparecem em cada capítulo, as quais ele considera hipóteses de análise, enfatizando a ênfase no diálogo como a chave para a cultura do encontro. É um livro que reúne experiências de luta por políticas públicas, que resgata situações de vulnerabilidade, como Laura Vera, do Movimento de Donas de Casa da Argentina, relatou.
Carlos Vigil, a partir dos testemunhos dados na apresentação do livro, disse estar surpreendido e profundamente satisfeito com as ressonâncias. Um dos autores disse que "ideias e propostas são necessárias para tornar realidade o sonho de uma humanidade fraterna", que deve vir da realidade e do compromisso de evitar ser apenas mais uma ideologia.
O segundo capítulo, sobre política e o bem comum, foi o ponto em que Maria Teresa Compte mais se concentrou. Neste ponto destacou o tema da corrupção, que está cada vez mais presente na reflexão da Doutrina Social da Igreja, afirmando que o Papa Francisco está escrevendo um tratado contra a corrupção baseado no serviço aos seres humanos e na colaboração na promoção do bem comum. A professora da Universidade Pontifícia de Salamanca destacou oito chaves que poderiam orientar a ação dos católicos na luta contra a corrupção.
Foi um livro em que os textos iniciais morreram para dar à luz um novo, segundo Emilio Inzaurraga, tornando todo o livro uma autoria comunitária, que é fruto da amizade e confiança entre os autores. Inzaurraga define o livro como "um exercício de sinodalidade e uma expressão de construção comunitária", onde tentaram ouvir o grito dos pobres e da Terra em uníssono.
Daniel Ríos definiu o livro apresentado como algo que "nos leva a refletir sobre as nossas ações diárias, é um livro que sublinha a naturalização da pobreza, que expõe a fraqueza da cultura meritocrática". De acordo com o líder das organizações de bairro da cidade de Santa Fé, ele convoca-nos "a fazer parte de um processo de mudança que coloca a outra pessoa e o desenvolvimento humano integral no centro", afirmando que ele ancora o pensamento do Papa Francisco na realidade quotidiana. É um livro não só dirigido aos católicos, mas "a todos nós que nos sentimos movidos pela injustiça e pela cultura descartável, que nos injeta misticismo e esperança para o futuro".
Do mundo da escola, Valeria Bozitkovic salientou a cultura do imediato, a falta de diálogo e o quanto estamos longe de gerar uma cultura de encontro e de assumir o trabalho com os pobres, como se nos colocássemos ao serviço, que resolvemos com ações concretas e imediatas, sem nos comprometermos a defender os direitos e a dignidade dos mais pobres.
Ao longo de quase duas horas de encontro virtual, os participantes, através das plataformas e redes sociais, puderam aprender um pouco mais, com a ajuda dos testemunhos e dos próprios autores, sobre o conteúdo de uma obra que sem dúvida conduz à reflexão, ainda mais neste momento histórico que a humanidade teve de viver, onde os pobres são os que mais virulentamente sofrem os efeitos de uma pandemia que muitos veem ser causada pela falta de vontade de ouvir o gemido da Terra.
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