Foto de fonte anônima tirada em Mandaly Foto de fonte anônima tirada em Mandaly 

Em quase 3 meses de protestos, mortos em Mianmar chegam a 750

A população do país asiático continua a opor-se ao golpe de fevereiro e a líder eleita, Aung San Suu Kyi, continua em prisão domiciliar.

Elvira Ragosta e Jackson Erpen – Vatican News

Os protestos continuam em Mianmar, onde manifestantes têm saído às ruas em protestos diários contra o regime militar que assumiu o poder em um golpe de Estado em 1º de fevereiro passado. As manifestações continuam em várias cidades, enquanto as estimativas falam de pelo menos 750 pessoas mortas nos protestos e cerca de 3.500 presas, enquanto as Nações Unidas estimam a existência de mais de 250.000 pessoas deslocadas.

Os meios de comunicação também têm sido limitados, com cortes noturnos de internet por 70 dias e queda na cobertura móvel, ações com o objetivo de limitar o acesso à informação. Neste meio tempo, Aung San Suu Kyi, a líder eleita, presa no dia do golpe e em prisão domiciliar na capital, ainda não pôde se encontrar com sua equipe de advogados e sua audiência foi adiada para o próximo dia 10 de maio, segundo advogado Min Min Soe.

 

“A situação no país continua tensa, os militares não têm intenção de abrir mão do poder e os protestos continuam. As pessoas ainda não perderam a esperança de mudança", disse ao Vatican News Axel Berkofsky, professor de história asiática na Universidade de Pavia e analista do Instituto de Política Internacional (ISPI).

Apelo da ONU à Junta militar: paz e diálogo

 

"A cessação imediata da violência em Mianmar é um primeiro passo imperativo para resolver uma crise que já custou mais de 750 vidas, incluindo a de crianças, nas mãos das forças de segurança." A afirmação é do relator especial da ONU para os direitos humanos no país asiático, Tom Andrews, em uma carta dirigida a Min Aung Hlaing, chefe da Junta militar que assumiu o poder com o Golpe de Estado. 

O representante da ONU exortou a Junta a se comprometer publicamente a respeitar o direito fundamental do povo de Mianmar de "expressar livremente suas ideias", incluindo críticas à Junta, "sem medo de ser ferido, morto ou preso arbitrariamente".

Andrews também pediu à Junta para "libertar incondicionalmente todos os presos políticos detidos desde 1º de fevereiro" e "aceitar imediatamente a visita do enviado especial da ASEAN, permitindo-lhes acesso a todas as partes envolvidas, incluindo o presidente de Mianmar Win Myint e a conselheira de Estado Aung San Suu Kyi”.

Cúpula da ASEAN

 

Reunidos em Jacarta no último sábado, os representantes dos 10 Estados membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático discutiram a crise em Mianmar durante uma cúpula que contou também com a presença do chefe do exército birmanês, general Min Aung Hlaing.

Cessação imediata da violência, diálogo entre todas as partes interessadas, mediação de um enviado da ASEAN no processo de diálogo, prestação de ajuda humanitária e uma visita a Mianmar do enviado especial para se encontrar com as partes: estes são os 5 pontos em que o encontro obteve consenso.

O professor Berkofsky saúda o pedido da organização regional de pôr fim à violência, “mas - recorda - a ASEAN não tem o poder nem a autoridade para impedir que um dos seus Estados membros faça ou deixe de fazer alguma coisa, é uma proposta”.

Mas a Junta já se recusou a aceitar propostas para resolver a crise que emergiu de uma cúpula da ASEAN. O Governo de Unidade Nacional (NUG) pró-democracia, que inclui membros do Parlamento destituídos pelo golpe, disse que o bloco regional do Sudeste Asiático deveria se engajar como representante legítimo do povo.

Os militares afirmam que tiveram que tomar o poder porque suas queixas de fraude na eleição não estavam sendo tratadas por uma comissão eleitoral que considerou o voto justo.

Libertação dos prisioneiros políticos

 

O Governo de Unidade Nacional de Mianmar, que inclui legisladores depostos, agradece o apoio dos países do Sudeste Asiático, mas o primeiro-ministro do órgão disse estar preocupado com "qualquer deturpação dos fatos pelos militares".

Em sua primeira declaração desde a reunião de sábado promovida pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) com o líder da Junta, o primeiro-ministro da Unidade Nacional Mahn Winn Khaing Thann também disse que deveria haver uma libertação incondicional de prisioneiros políticos, incluindo Aung San Suu Kyi, para qualquer diálogo construtivo.

Papel dos grupos étnicos no protesto

 

Enquanto isso, estima-se que cerca de um terço do território do país, principalmente nas regiões de fronteira, é controlado por uma miríade de grupos rebeldes. Nas últimas semanas, os confrontos entre o exército e os rebeldes na região de Karen também se intensificaram e mais de 24.000 civis foram forçados a deixar suas aldeias. Destes, cerca de 2.000 cruzaram o rio para buscar refúgio na Tailândia. Nas últimas horas, o grupo União Nacional Karen (KNU), que repetidamente condenou o golpe, atacou e incendiou uma base militar na região leste da fronteira com a Tailândia.

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População birmanesa resiste ao Golpe de Estado
28 abril 2021, 14:58