Gastos militares recorde em 2020, apesar da pandemia
Andrea De Angelis - Vatican News
A riqueza mundial em 2020 diminuiu em mais de 4 pontos percentuais, graças à pandemia da Covid-19, que ainda causa transtorno no nosso planeta. No entanto, nos doze meses do ano passado, houve no mundo muitos investimentos nos gastos militares, com um aumento de 2,6%. Desde 1988, nunca foram destinados tantos recursos para gastos militares. Um verdadeiro recorde tanto no século XXI como desde o fim da Guerra Fria.
Os valores
Segundo os dados divulgados, esta semana, pelo SIPRI, - Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz, de Estocolmo - quase 2 trilhões de dólares foram empregados em gastos militares. Excluindo os recém-nascidos e as pessoas muito idosas, é como se cada cidadão no mundo tivesse investido 250 dólares em armas, no ano passado, apesar da pandemia. Um ano em que as atividades sociais e o mundo do trabalho diminuíram e até pararam, sem precedentes desde o fim da Guerra Mundial. Mais de um trilhão de dólares foi gasto pelos primeiros cinco países, de modo global: Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Reino Unido, seguidos pela Arábia Saudita e Itália.
Os muitos “não às armas” do Papa Francisco
Segundo seu princípio “a não continuar a fabricar armas, mas a salvar vidas”, em numerosas ocasiões, o Papa pediu para que não fosse investido dinheiro em armas, mas na educação e no campo da saúde.
No âmbito de seus numerosos apelos pela “reconciliação entre povos e nações, recordamos alguns, de modo particular, no recente livro-entrevista, intitulado “Deus e o mundo vindouro”, do Papa Francisco com o especialista vaticano, Domenico Agasso, Francisco fala, em uma passagem, de um círculo vicioso dramático:
“Não se pode mais suportar que as armas continuem sendo fabricadas e traficadas, com um gasto enorme de capital, que deveria ser empregado para curar as pessoas, salvar vidas. Não é mais possível fingir que não se criou um círculo vicioso dramático entre a violência armada, a pobreza e a exploração insana e indiferente do meio ambiente. Este ciclo impede a reconciliação, alimenta as violações dos direitos humanos e impede o desenvolvimento sustentável. Ao invés da discórdia planetária, que sufoca o futuro da humanidade, precisamos de uma ação política, que seja fruto de um acordo internacional. Os seres humanos, unidos fraternalmente, podem enfrentar ameaças comuns, sem nenhuma recriminação recíproca contraproducente, instrumentalização de problemas, nacionalismos míopes, propagandas de fechamentos, isolacionismos e outras formas de egoísmo político”.
Em seu discurso aos membros do Corpo Diplomático credenciado, junto à Santa Sé, em 7 de janeiro de 2019, o Papa também tratou do doloroso aumento de armas:
“Infelizmente, pesa constatar que o mercado das armas não só não parece sofrer interrupção, mas ao contrário existe uma tendência cada vez mais difusa para se armar por parte tanto dos indivíduos como dos Estados. De modo especial preocupa o facto de que o desarmamento nuclear, amplamente almejado e em parte perseguido nas últimas décadas, esteja agora dando lugar à pesquisa de novas armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas”.
Em sua Mensagem “Urbi et Orbi”, no último dia 4 de abril, o Papa Francisco definiu o investimento em armas “escandaloso” e pediu um maior esforço na distribuição de vacinas:
“A pandemia está ainda em pleno desenvolvimento; a crise social e económica é muito pesada, especialmente para os mais pobres; apesar disso – e é escandaloso –, não cessam os conflitos armados e reforçam-se os arsenais militares. Isto é o escândalo de hoje. […] Cristo ressuscitado é esperança para quantos ainda sofrem devido à pandemia, para os doentes e para quem perdeu um ente querido. Que o Senhor lhes dê conforto, e apoie médicos e enfermeiros nas suas fadigas! Todos, sobretudo as pessoas mais frágeis, precisam de assistência e têm direito a usufruir dos cuidados necessários. Isto é ainda mais evidente neste tempo em que todos somos chamados a combater a pandemia, e um instrumento essencial nesta luta são as vacinas. Por isso, no espírito dum “internacionalismo das vacinas”, exorto toda a comunidade internacional a um empenho compartilhado para superar os atrasos na distribuição delas e facilitar a sua partilha, especialmente com os países mais pobres”.
O risco que corremos
“A voz do Papa é a única que se levanta com força, decisiva e precisa para denunciar o que é um verdadeiro escândalo”, afirma em entrevista ao Vatican News, o vice-presidente do “Arquivo do Desarmamento”, Maurizio Simoncelli. Segundo o especialista, é incrível o que aconteceu em 2020: no ano em que o mundo, inclusive os países ricos, enfrentou uma pandemia, que mostrou todos os limites estruturais e os investimentos em saúde, os gastos militares cresceram enormemente”.
“Os Estados Unidos gastam dez vezes mais que a Rússia, mas este aumento preocupa ambos os países, como também a China, que gasta um terço em investimentos militares em comparação a Washington”. Segundo Simoncelli, este ano as coisas não vão melhorar: “Hoje, ouvimos falar em mais 8 bilhões de investimentos em armas por parte dos países da OTAN. Por isso, este aumento e este escândalo não parecem cessar. Neste sentido, os apelos do Papa devem ser ouvidos pela sociedade civil, a única que, com o tempo, poderá deter tais gastos, evitando que, mais cedo ou mais tarde, o uso de armas, hoje muito grande, possa prevalecer sobre as relações diplomáticas”.
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