Alerta fome no Afeganistão
Emanuela Campanile e Andrea De Angelis – Vatican News
O número é recorde e trágico: a partir de meados de novembro, 22,8 milhões de pessoas no Afeganistão terão de enfrentar uma situação de insegurança alimentar aguda. O relatório do IPC, co-liderado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, denuncia este fato. Este flagelo foi desencadeado por uma série de fatores, desde a pandemia da Covid até à crise econômica e conflitos recentes. As crianças são as principais vítimas deste flagelo.
Apelo da FAO
"Há uma necessidade urgente de agir com eficiência e eficácia para acelerar e aumentar as nossas entregas no Afeganistão antes do inverno chegar em grande parte do país", disse o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu. “É uma questão de vida ou de morte. Não podemos esperar e ver os desastres humanitários que se verificam diante de nós: é inaceitável"!
Corrida à assistência humanitária
Atualmente, a FAO busca 11,4 milhões de dólares em financiamentos de emergência e outros 200 milhões de dólares para a época agrícola até 2022, enquanto o PAM planeja aumentar a sua assistência humanitária no início de 2022 para satisfazer as necessidades alimentares de quase 23 milhões de afegãos. Tanto em termos absolutos como relativos, o Afeganistão está entre os países com o maior número de pessoas que passam fome. Pela primeira vez, os residentes urbanos sofrem de insegurança alimentar com taxas semelhantes às das comunidades rurais, onde o grave impacto da segunda seca em quatro anos continua a afetar a subsistência de 7,3 milhões de pessoas. A situação é agravada por um desemprego desenfreado e uma crise de liquidez nas grandes cidades.
Cenários futuros
Há pelo menos três pontos-chave para o aumento da fome no Afeganistão. Numa entrevista ao Vatican News, Luca Russo, Analista chefe da FAO para Crises Alimentares os elenca. Russo salienta que os dados são muito recentes, incluindo o primeiro mês após a tomada do poder pelos Talibãs.
O número de pessoas que passam fome é muito elevado no país, e existem receios consideráveis quanto ao próximo Inverno. Este cenário abre a possíveis melhorias ou não?
O relatório baseia-se em pressupostos prováveis. A seca é um fator muito importante, uma vez que vai continuar nos meses de Inverno. Existem também grandes incertezas na capacidade de distribuir alimentos e ajuda humanitária, em parte porque muitos atores que trabalham no Afeganistão deixaram o país. A relação entre as Nações Unidas e os Talibãs continua incerta e ainda não sabemos como é que os principais doadores irão se posicionar em relação a esta crise.
A crise de liquidez é um dos fatores mais importantes. As pessoas não têm dinheiro para comprar comida?
Os serviços não funcionam, não há acesso aos bancos e os salários não são distribuídos. Se os serviços não funcionam, é difícil fazer funcionar o sistema de ajuda. Depois há muitas pessoas vivem em zonas rurais que não dependem dos serviços bancários, há muitos fatores que conduzem a esta situação.
Há o risco de uma chamada guerra entre os pobres? Penso também no colapso do sistema de saúde.
Sim, em muitos países existe frequentemente uma correlação entre a insegurança alimentar aguda e os conflitos na população. Em nível local, os conflitos são, por exemplo, sobre o acesso aos recursos hídricos. Estamos perante uma espiral descendente que é gerada em cada crise deste tipo.
Quanto pior podemos esperar para o futuro?
Os números são muito recentes, até setembro de 2021. Trata-se de um mês após a tomada do poder pelos Talibãs, por isso ainda é difícil ver os efeitos a longo prazo desta situação.
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