Iêmen: todos os dias desde 2015 quatro crianças são vítimas do conflito
Andrea De Angelis – Vatican News
O conflito no Iêmen atingiu "outro marco vergonhoso". A denúncia em Genebra vem do UNICEF e do seu porta-voz, James Elder, que acaba de regressar de uma missão ao país. Desde o início do conflito, pelo menos 10 mil crianças foram mortas ou feridas pela guerra, ou seja, "quatro crianças por dia, mas o número", sublinhou Elder, se refere apenas a casos que as Nações Unidas conseguiram verificar”.
Vítimas inocentes
A crise humanitária no Iêmen é considerada por muitos peritos internacionais como a pior do mundo e as crianças iemenitas estão entre as mais vulneráveis do planeta. De acordo com estimativas recentes, mais de 10 milhões delas - 80% do total - necessitam de assistência humanitária para sobreviver. "Antes de tudo, é preciso ter sorte para nascer, porque muitos morrem durante a gravidez e ainda muitos morrem como recém-nascidos, de desnutrição. Se tiver a sorte de crescer de qualquer forma, quase nunca vai à escola e corre o risco de se tornar rapidamente uma criança-soldado", disse a jornalista Silvia Laura Battaglia, uma perita no Iêmen, ao Vatican News no mês passado. Em Sana'a", continuou, "e em outras cidades, vi crianças usarem guarda-pós para ir à escola de manhã, e depois vi as mesmas crianças usarem uniformes militares à tarde custodiando os pontos de controle".
Ajuda Humanitária
Na quarta-feira 20 de outubro, o Conselho de Segurança da ONU pediu numa declaração aprovada por unanimidade uma "de-escalation" (desescalada) da situação no Iêmen para contrastar "o risco crescente de fome em grande escala" no país. É necessário um compromisso em tal sentido “por parte de todos, inclusive o fim imediato da ofensiva guiada pelos Houthi, os rebeldes xiitas, em Marib”, afirmou o Conselho, pedindo um cessar-fogo nacional imediato" e condenando o "recrutamento e utilização de crianças e violência sexual no conflito". Todos os membros do Conselho expressaram também "grande preocupação com a terrível situação humanitária, em particular o risco crescente de fome em grande escala", e apelaram ao "Governo do Iêmen para facilitar a entrada de navios petroleiros no porto de Hodeida sem demora". "Todas as partes devem assegurar um fluxo livre de combustível dentro do país para fornecer produtos essenciais e ajuda humanitária", lê-se no texto.
Direitos Humanos
Este mês, no entanto, várias organizações que trabalham no Iêmen há anos, incluindo a Oxfam e a Amnistia Internacional, definiram um grande passo atrás o fim do mandato da ONU para monitorizar os direitos humanos no país. De fato, em 7 de outubro, o Conselho de Direitos Humanos da ONU não renovou o mandato do Grupo de eminentes peritos sobre o Iêmen, o único mecanismo internacional de monitorização das violações dos direitos humanos no contexto do conflito que teve início em março de 2015. "Com esta votação, a ONU abandonou o povo do Iêmen. A pressão da Arábia Saudita, do Bahrain e dos Emirados Árabes Unidos teve sucesso. Mas aqueles que votaram contra a renovação do mandato do Grupo de eminentes peritos ou se abstiveram deveriam ter vergonha", disse Heba Morayef, diretora da Amnistia Internacional para o Orinte Médio e Norte de África. Em 2018, aquando da renovação do mandato, a coligação liderada pela Arábia Saudita tinha criticado o prolongamento da missão.
Novos perigos
O risco agora é que as notícias provenientes do Iêmen se tornem ainda mais esporádicas disse Paolo Pezzati, Conselheiro Político da Oxfam, que se ocupa do Iêmen desde o primeiro dia do conflito. Oxfam é uma confederação internacional de organizações sem fins lucrativos dedicada à redução da pobreza global através de ajuda humanitária e projetos de desenvolvimento. Na entrevista à Rádio Vaticano - Vatican News, Pezzati sublinha como as cicatrizes destes anos permanecerão durante gerações na população iemenita, que hoje, no entanto, necessita urgentemente de ajuda humanitária. "Faltam dois meses para o final do ano, mas dos quatro bilhões de dólares necessários", disse ele, "chegaram apenas dois".
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