Cavalhada de Santo Amaro Cavalhada de Santo Amaro 

Cavalhada de Santo Amaro: saberes e integração cultural, social e o abraço da fé

Aproximando-se do dia 15 de janeiro é grande a expectativa da Cavalhada de Santo Amaro, espetáculo que teve de ser cancelado no ano passado por causa da pandemia. Uma história de fé no diálogo com a cultura.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

 “A cavalhada apresenta desde sua preparação a sua realização, processos coletivos que envolvem famílias e dão espaço a um aprendizado muito rico de símbolos, tradições orais e recordação de pessoas que construíram e fizeram parte da Cavalhada.  A identidade religiosa, a defesa da fé e a interação dialógica com o outro neste caso o mouro, possibilitam ampliar o horizonte de compreensão com culturas diferentes, com pessoas de crenças diversas e no respeito e a tolerância firmar laços de hospitalidade e convivência.” Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo de Campos

Começa no Distrito de Santo Amaro, Campos dos Goytacazes (RJ) os preparativos para a Cavalhada, espetáculo que se realiza no dia 15 de janeiro, na Arena da Praça. No ano passado a representação foi cancelada por causa da pandemia. Neste ano com o avanço na vacinação a apresentação será feita com todos os protocolos sanitários. Uma alegria e emoção aos participantes que se preparam para o grande espetáculo que representa o diálogo entre fé e cultura.

Cavalhada de Santo Amaro
Cavalhada de Santo Amaro

No ano passado o cancelamento do espetáculo foi motivo de tristeza entre os componentes do importante folguedo que atrai turistas de várias partes do Brasil. Quem revela esse sentimento foi Miguel Henriques que desde a juventude vem participando desse espetáculo de fé que representa histórias familiares, desde os preparativos, ensaios e o representação que acontece no dia do Padroeiro da Baixada Campista. Atualmente se orgulha de ter o filho e o neto no espetáculo carregado de alegrias e emoções.

“Para mim a cavalhada, desde os 14 anos, era o meu orgulho e mesmo já não fazendo parte da apresentação fico feliz e emocionado em ter meu filho em meu lugar. E a tristeza do ano passado e agora a alegria de saber que essa tradição nunca morrerá. E temos de entender que no ano passado a situação estava complicada, mas este ano estamos com a nossa cavalhada se preparando e com todos nós vivos. E evidente que teremos todos os cuidados, já que ainda estamos com a Pandemia”, conta Miguel.

Tradição de quase três séculos, a Cavalhada de Santo Amaro teve sua apresentação cancelada ano passado. A decisão tomada pela Comissão Organizadora para evitar aglomeração na arena da Praça e preservar a integridade e saúde dos componentes e da equipe de apoio ao espetáculo que representa o diálogo entre a fé e a cultura. José Fernando Teles da Silva destaca que tradição maior e o cuidado para evitar que a Covid 19 continue circulando e fazendo vítimas.

Cavalhada de Santo Amaro
Cavalhada de Santo Amaro

Dom Roberto Francisco sublinha a importante notícia da apresentação da Cavalhada neste ano que abrilhantará o ano que a Diocese de Campos completa o centenário. A cavalhada representando o abraço e diálogo entre fé e cultura num gesto de esperança e de construção de uma sociedade de paz.

“A cavalhada é um sinal da cultura religiosa de uma tradição que tem congregado gerações e tem todo significado do diálogo inter-religioso, da possibilidade de superar os conflitos com a arte e a cultura do encontro. Para nós o ano de 2022 será um ano emblemático do centenário da Diocese e um tempo para o diálogo que a Festa de Santo Amaro nos mostra uma evangelização inculturada”, afirma Dom Roberto Francisco.

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo de Campos

Tradição e compromisso social

Uma única Cavalhada persiste em atividade no estado do Rio de Janeiro. Ela ocorre no Município de Campos dos Goytacazes, no Distrito de Santo Amaro, na Baixada Campista. A tradição da cavalhada chegou ao Brasil com os portugueses e Campos é uma das poucas cidades do país que mantem a tradição. Ela permanece viva graças a uma comunidade e especificamente ao grupo que a promove, que faz com que a tradição permaneça viva, ano após ano.”  Cláudio Prado de Mello – Arqueólogo.

Histórias familiares e o legado histórico preservado ao longo dos séculos. A cavalhada une as tradições aos processos de construção social. Gerações que se encontram para cultivar a memória coletiva. A cavalhada representa uma interação desenvolvendo um compromisso social e identidade cultural. Desde a preparação até a apresentação do dia 15 de janeiro a cavalhada envolve a família, desde a confecção das roupas.

“Fazendo parte da festa, uma tradição viva e sempre atraente é a Cavalhada de Santo Amaro. Expressa por um lado a arte equestre e a representação lúdica e simbólica de um passado heroico, inspirado na defesa da fé e da liberdade religiosa dos cristãos. Hoje outro contexto a necessidade de diálogo civilizatório entre culturas, a mística e a importância dos valores da cavalaria como ideal de serviço a Deus e a Igreja e a beleza da perícia da montaria e nas evoluções das diversas tarefas e habilidades. Mostra um trabalho comunitário e de várias gerações e da integração humana e social”. Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo de Campos.

Cavalhada de Santo Amaro
Cavalhada de Santo Amaro

Diálogo entre religiões e culturas

A Cavalhada de Santo Amaro retrata a paz e a pacificação entre os povos. Em suas histórias revela o convívio fraterno entre mouros e cristãos e se inspira na literatura francesa dos romances de cavalaria. Dom Roberto Francisco destaca essa dimensão do espetáculo que inspira nos tempos atuais a busca do diálogo entre as religiões e culturas.

“O choque de civilizações "que visa a Recomposição imperialista da Ordem Mundial, a Cavalhada de Santo Amaro propõe o diálogo das culturas, tradições religiosas e das Nações na mesa comum da cordialidade e da partilha. Por todas estas razões e valores religiosos, espirituais e culturais, podemos concluir que esta cavalhada constitui um patrimônio histórico e civilizatório profundamente humano e cristão. A Cavalhada está inserida profundamente no coração da festa e no espírito de Paz e reconciliação do cristianismo legado da mística beneditina”, revela o bispo.

 

Vídeo: Maykon Carvalho

Fotos: Carlos Grevi (Jornal Terceira Via) e Maykon Carvalho (Pascom/ Diocese de Campos)

 

 

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04 janeiro 2022, 13:32