O sentido da arte sacra
Luís Eugênio Sanábio e Souza - escritor - Juiz de Fora
A Igreja sempre entendeu e ensinou que as artes, mas sobretudo a arte sacra, têm em vista, “por natureza, exprimir de alguma forma nas obras humanas a beleza infinita de Deus e procuram aumentar seu louvor e sua glória na medida em que não tiverem outro propósito senão o de contribuir poderosamente para encaminhar os corações humanos a Deus” (Concílio Vaticano II: SC nº 122). Sem dúvida, o homem exprime também a verdade de sua relação com Deus pela beleza de suas obras artísticas. O Papa São João Paulo II assim escreveu: “O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o dom do “talento artístico”. E também este é, certamente, um talento que, na linha da parábola evangélica dos talentos (Mateus 25,14-30), se deve pôr a render. Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha divina que é a vocação artística (de poeta, escritor, pintor, escultor, arquiteto, músico, ator...), adverte ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade” (“Carta aos Artistas” nº 3, de 4 de abril de 1999).
No século VIII, São João Damasceno explicava assim: “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus”. Com seus escritos, São João Damasceno defendeu a Igreja contra os iconoclastas, que condenavam o uso de imagens na Igreja. Os iconoclastas consideravam a veneração das imagens sacras como um retorno à idolatria pagã. Contra a heresia iconoclasta, a Igreja se pronunciou solenemente no II Concílio de Nicéia realizado no ano 787. Este concílio reafirmou a tradicional distinção católica entre a verdadeira adoração, que é devida somente a Deus, e a veneração respeitosa ou prosternação de honra, que é prestada aos ícones (imagens), porque “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original” (São Basílio) e “quem venera uma imagem venera a pessoa que nela está pintada” (Concílio de Trento, XXV sessão). No século VI, o Papa São Gregório Magno já havia insistido no caráter didático das pinturas nas igrejas, úteis para que os analfabetos, ao contemplá-las, possam ler, pelo menos nas paredes, aquilo que não são capazes de ler nos livros. No século XIII, Santo Tomás de Aquino reafirmou que as imagens nos conduzem ao Deus encarnado: “Ora, o movimento que dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem” (explicou o Doutor da Igreja).
Assim, a Igreja Católica definiu e determinou: “As veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos” (II Concílio de Nicéia, ano 787).
Sabemos que nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas, “segundo a expressão do Gênesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima”. (Papa São João Paulo II: “Carta aos Artistas” nº 2, de 4 de abril de 1999).
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