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A arte da palhaçaria do Brasil faz sorrir refugiados da Ucrânia

A história especial de hoje tem como protagonista o paranaense Alexandre Penha. Palhaço e ator profissional que atua em hospitais e asilos, ele também faz viagens internacionais humanitárias para levar a leveza da palhaçaria a quem mais precisa, com "afetividade ilimitada e inclusiva", como pregam as simples atitudes do Papa e de Francisco, o de Assis, como o próprio brasileiro recorda em entrevista especial concedida ao Vatican News.
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Andressa Collet - Vatican News

“A representativa do Papa pelos menos favorecidos, sem acepção de pessoas, vai de acordo com o que há de mais essencial na arte da palhaçaria. Nós, palhaços, vemos todos como iguais: para os palhaços não há divisões, eles querem brincar com todos. De fato, pelas suas atitudes, o Papa tem sempre demonstrado essa afetividade ilimitada e inclusiva.”

Essa descrição é feita por Alexandre Vinicius Xavier Penha, natural de Maringá, no Paraná, mas que acaba de voltar de mais uma viagem internacional. Desta vez, ele foi para o Camboja, Tailândia e Vietnã para atuar junto a orfanatos que resgatam crianças do tráfico humano e sexual da Ásia. Já no mês de abril, o artista viajou para a fronteira da Ucrânia para levar arte e alegria às famílias de refugiados que fogem da guerra. Em todas as oportunidades, uma relação próxima de inclusão, bem aos passos do Papa e do próprio Francisco, o de Assis, como o próprio Alexandre Penha explica:

"Pouca pessoas sabem, mas quando observamos a história de São Francisco de Assis, observamos uma essência de palhaçaria em muitas de suas ações: a inversão dos valores, o amor pelas coisas simples e atitudes sempre inusitadas.  Eu me lembro que, na adolescência, li a biografia de São Francisco escrita por G. K. Chesterton, e tinha uma cena muita interessante relacionada ao seu chamado. O autor conta que São Francisco estava na feira de comércio trabalhando como vendedor de tecidos. Ele sentiu um forte chamado de Deus e, imediatamente, 'plantou uma bananeira' no meio da praça. As pessoas acharam que ele tinha ficado doido, mas, na verdade, havia feito aquilo como símbolo de sua escolha, ou seja, a partir daquele momento ele veria o mundo com os valores invertidos, de cabeça para baixo. Assim, se as pessoas buscavam a glória, ele buscaria a humildade; se as pessoas procuravam riqueza, ele buscaria a simplicidade, e etc. O interessante é que Chesterton narra a cena sobre um olhar espiritual, mas também cômico, quando conta que naquela época os homens usavam túnica e, quando São Francisco 'plantou bananeira', sua túnica desceu mostrando as roupas íntimas e, provavelmente, ele tenha se enrolado todo na roupa. Além disso, aquela cena inusitada teria provocado grande atenção das pessoas na feira, ou seja, foi uma verdadeira cena de palhaço."

Alexandre em ação
Alexandre em ação

A arte da palhaçaria brasileira no exterior

Alexandre Penha é palhaço e ator profissional há quase duas décadas, professor dessas linguagens e atua na capacitação e formação de grupos artísticos em todo o país e exterior. Começou na área de forma amadora, ainda na adolescência, quando se apresentava na escola e na igreja. Com a formação acadêmica - já que é graduado em História, Artes Cênicas e mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá - começou a explorar o setor e, atualmente, faz shows em todo o Brasil e trabalha com palhaçaria em hospitais e asilos. Paralelo a isso, ele e a esposa Renata França, que é fotógrafa, se aventuram em viagens humanitárias e artísticas para diversas partes do mundo, "para levar a arte a lugares de vulnerabilidade social ou onde ela ainda não tenha sido acessada. Assim, já estivemos em quase 60 países", conta Alexandre.

"Nós estivemos, no mês de abril, atuando com refugiados na fronteira sudoeste da Ucrânia e em bases de acolhimento na Moldávia e Romênia. Em outras oportunidades, já havíamos atuado com refugiados de guerra, como em 2016 e 2017 na Jordânia, com refugiados iraquianos e sírios. Com o início da guerra no leste europeu, recebemos alguns contatos sobre a ideia de atuarmos com palhaçaria na fronteira, uma forma de suavizar a tensão na travessias. Confesso que fomos motivados pelo desejo de ajudar com a nossa vocação e também para dar suporte às organizações que já estavam atuando lá, fornecendo instruções na documentação, bebidas e alimentos quentes, kits de higiegien e também suporte espiritual.

Nosso trabalho teve o objetivo de atuar com as crianças e, por consequência, com as famílias. Tanto na fronteira, como nas bases, a recepção sempre foi muito calorosa. Obviamente, isso é resultado de um trabalho artístico responsável, na qual adequamos nossa abordagem com cada situação enfrentada. Devido à guerra e ao deslocamento, era nítida a questão do cansaço, a tensão e a ansiedade vivida pelos refugiados. Então, nós chegávamos fazendo o que o palhaço faz de melhor – olhando com a pequena máscara vermelha. Em quase todas as vezes, éramos recebidos com um grande sorriso, cumprimentávamos as pessoas, fazíamos bolas de sabão, mágicas, malabares, tocávamos gaita, dançávamos, fazíamos massagem nas senhoras e tentávamos pegar o chapéu emprestado dos homens idosos. 

Para nós, foi um trabalho tocante por ver a simplicidade do palhaço podendo produzir momentos de risos para aquelas crianças e adultos e , quem sabe, ter ajudado dando motivação para continuarem suas jornadas. Na parte pessoal, foi tocante por ver a situação das famílias que tinham que se despedir dos pais, sem a certeza de que haveria um recontro; presenciamos muitos momentos de choro e abraços de despedida."

A linguagem do sorriso

A questão do idioma, conta Alexandre Penha, é sempre um dos pontos mais interessantes. Eles falam em português e conseguem se comunicar em espanhol e inglês, mas, na fronteira, "havia o predomínio do ucraniano e russo por conta dos refugiados e, ainda, o romeno era a língua das instituições oriundas da Moldávia. Ou seja, uma verdadeira torre de Babel". Entretanto, confessa o brasileiro ao Vatican News, "experimentamos, mais uma vez, a comunicação universal possível do palhaço e do artista":

“Por meio de olhares, expressões corporais, sentimentos e reações, o palhaço toca no que é humano, portanto, universal, sem a necessidade da comunicação verbal. Na fronteira, era sempre assim; nas bases, muitas das apresentações tiveram o suporte de um tradutor. Essa ideia de que o palhaço transmite a vontade brincar a todo momento, independente da situação, contagia todas as pessoas. Pela nossa experiência em outros países e outras situações, observamos algo óbvio: todo ser humano ri, chora, tem fome, tem sede, ama, dorme. E todo ser humano também quer brincar e se divertir.”

Confira a íntegra do testemunho de Alexandre Penha

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Galeria de fotos junto aos refugiados
01 julho 2022, 17:40