Plantar árvores para fazer o coração do planeta bater novamente
Cecilia Seppia – Vatican News
Era por volta das 22 horas do dia 24 de setembro de 2018 quando o bosque de Calci, nas montanhas perto de Pisa, começou a queimar. Um incêndio provocado que, com a ajuda do calor, umidade e ventos fortes, com rajadas de 30 km/h, devastou uma área de mais de 1.200 hectares e levou à evacuação de cidadãos que moravam nos municípios vizinhos, particularmente na área de Montemagno. Mais de 700 pessoas foram resgatadas pelos bombeiros, incluindo crianças, que dormiram em ginásios e abrigos, esperando em seus corações que o incêndio não tivesse também engolido seus lares. Muitos idosos foram hospitalizados por asfixia, porque quando as chamas se elevaram, eles já estavam dormindo em suas camas. Foram necessários cerca de quatro dias para apagar completamente o fogo. Uma ferida para a população, um dano enorme à flora e fauna de todo o território: os pinheiros centenários com seus troncos robustos caíam como moscas, um "espetáculo" de crueldade que ninguém gostaria de testemunhar. A Região da Toscana destinou imediatamente 200 mil euros para trabalhos de recuperação e para remover as árvores queimadas: operações fundamentais para reconstruir o quadro hidrogeológico e evitar que a água inundasse em velocidade destruidora quando chegassem as primeiras chuvas. Quase quatro anos após esse evento, através de um financiamento coletivo com o Banco Etico e a Comunidade del Bosco, a Fundação Alberitalia lançou um projeto de reflorestamento da área do bosque danificado: no lugar dos pinheiros, em uma área piloto de pouco mais de um hectare, serão plantados sobreiros e azinheiras, espécies mais resistentes ao fogo, com espaços projetados por técnicos e engenheiros florestais para proteger o bosque de futuros incêndios.
Uma árvore para cada italiano
Desde sua criação em 2019, durante uma reunião na Academia Georgofili em Florença, a Fundação Alberitalia lançou muitas iniciativas como estas, respondendo a um apelo lançado por Carlo Petrini, fundador do Slow Food, e Dom Domenico Pompili, Bispo de Rieti, em nome das Comunidades Laudato si', que na época pareciam utópicas e, em vez disso, tomaram forma nos meses seguintes, reunindo um consenso inesperado: plantar uma árvore para cada italiano, a fim de combater a crise climática. "Como se pode facilmente intuir, há muitas questões que giram em torno de florestas e cada tipo de árvore", afirma Gabriele Locatelli, membro da diretoria da Fundação e ex-gerente de Florestas Sustentáveis Slow Food Itália. "As árvores desempenham funções fundamentais, tais como absorver CO2 da atmosfera, liberando oxigênio. Mas são também elementos essenciais para a preservação da natureza e da paisagem, proteção insubstituível para combater a instabilidade geológica, o fulcro da vida em nosso Planeta. O que gravita em torno das árvores também tem importantes implicações sociais, locais e globais. Nossa missão é fazer com que todos entendam como nossas vidas estão interligadas com as das árvores, os primeiros e verdadeiros operadores da conversão ecológica solicitada pelo Papa na Laudato si''.
Ecologia ambiental
Desde o pós-guerra, a Itália aumentou sua área florestal arborizada em 60% e, no entanto, continua Locatelli, "sendo um dos principais processadores de madeira, importamos mais de 80% da madeira do exterior, por isso é essencial dar a informação correta, uma ecologia ambiental e mais estritamente florestal, na qual a árvore não é vista como uma 'essência' única, mas como parte desta nossa Terra. Neste sentido a Laudato si' é um instrumento excepcional especialmente para as novas gerações que são muito interessadas em questões ambientais. O entusiasmo dos jovens é de fato surpreendente, muitos querem participar, muitos sentem que nasce em seus corações a conversão da qual Francisco fala. A encíclica nos desafia todos os dias, e todos os dias recebemos pedidos nesse sentido: há pouco tempo, por exemplo, fomos chamados pela comunidade residencial Maria Immacolata Forlimpopoli, que abriga mães e crianças em condições de dificuldade e necessidade, pedindo-nos para criar um bosque para abelhas que pudesse garantir a produção de mel. O bosque, com árvores floríferas, que intitulamos Laudato si', será um microcosmo onde as crianças conviverão lado a lado com estes insetos sociais conhecidos por sua extraordinária perfeição e laboriosidade, e com eles aprenderão também a se relacionar”.
As implicações sociais para manter uma árvore viva
A Fundação Alberitalia conta com voluntários, profissionais, meios, uma rede sólida para se apoiar, e além do aspecto operacional, tenta sempre ensinar educação ambiental. “Recordemos", continua Locatelli, "que manter um bosque em vida significa sempre manter viva a comunidade que habita aquele território. A árvore está ligada ao ar que respiramos, aos alimentos, ao material com o qual nos aquecemos ou construímos nossos móveis, nossas casas. O homem sempre tirou o sustento das árvores, mas agora é como se tivesse que devolver o "favor" usando a planta de uma forma inteligente. Além disso, onde há uma árvore, uma vila, um parque, há sempre comunidade, se cria socialidade. De março a outubro passamos nossos dias descanso, especialmente se temos crianças, ao ar livre, em lugares verdes. É por isso que nossa missão não é apenas reconstruir bosques onde o homem ou calamidades os danificaram, mas também recriar comunidades nos arredores das cidades, criar bosques urbanos próximos do concreto, primeiro para ajudar a combater a poluição e reduzir a presença de CO2 no ar, e depois para absorver calor, porque uma árvore próxima a um contexto urbano tem a mesma função que um ar condicionado em um apartamento, mas também para criar lugares de recreação e socialização".
Educar para o cuidado e a beleza
As ideias da Fundação Alberitalia incluem plantar uma árvore para cada criança que nasce, dizendo-lhes mais tarde, quando crescerem: “aquela árvore” foi plantada para você! Desta forma, consegue-se uma lealdade com o meio ambiente e com os principais valores da vida. Locatelli, que também dirige um viveiro regional na Emilia Romagna, está acostumado a plantar todos os tipos de plantas, mesmo assim afirma, "plantar uma árvore é algo que sempre gratifica e surpreende. Você está dando vida a outra vida, um pouco como as mães fazem com os filhos no ventre, sabendo o grande sacrifício que as espera, mas também a imensa alegria que receberão em troca. Encontrar pinhões de pinheiros, plantá-los na terra e vê-los crescer lentamente, tem em si algo maravilhoso. Um pinheiro leva cerca de cinco anos para atingir um metro de altura; para crescer leva 40-50 anos e depois vive uma média de 150-200 anos. É preciso paciência e cuidado, enquanto em meia hora, podemos derrubar dois deles. Quando penso em um exemplo absoluto de devoção ao bem da natureza além, é claro, do nosso São Francisco, vêm-me à mente os frades de Camaldoli. A congregação camaldolesa da Ordem de São Bento tem como brasão duas pombas bebendo do mesmo cálice, como símbolo da união da cultura oriental e ocidental. Os frades beneditinos, em particular, sempre tiveram em seu DNA o cuidado dos bosques. A eles devemos o primeiro tratado sobre silvicultura de 1520. Trata-se da Regra príncipe na qual a relação com o meio ambiente em geral, e com a floresta em particular, é claramente regulada, tanto que merece o título de "Código Florestal Camadolês". Além disso, é o ponto de chegada, e ao mesmo tempo o ponto de partida, de um caminho que parte de San Romualdo até os dias de hoje. Um sinal vivo da reciprocidade da relação homem-natureza e do princípio universal e inderrogável a ser seguido no cuidado da floresta: cortes periódicos e isolados, as novas plantações, as vendas, as funções e as tarefas, remuneração dos trabalhadores, manutenção das ferramentas, coleta de madeira, penalidades e punições para aqueles que não respeitam as regras, as exceções, as derrogações e o papel social do trabalho. Para eles, plantar abetos era uma espécie de ação de graças, pois do abeto eles tinham tudo, até mesmo, contemplando estes espécimes, a possibilidade de alcançar Deus e as alturas do céu".
Projetos já em andamento
Sessenta milhões de árvores a serem plantadas, mas não de uma forma descuidada, garantindo que isso aconteça em ambiente adequado, da forma mais correta possível para permitir um crescimento seguro: um enorme desafio que, consierando os downloads no site da Fundação às instruções sobre "como plantar uma árvore", parece ter sido acolhido da melhor forma possível. Entre os projetos da Fundação, porém, há também o cuidado e a proteção dos bosques, a reconstrução do patrimônio florestal como o de Calci ou Vicopiano, ou Pavoneggio, Trento, onde a tempestade Vaia danificou milhares de exemplares. Em Adria, começaram os trabalhos a realização de em um novo parque urbano; em Bacoli, Napoles, será recuperada uma área urbana abandonada. Além desses projetos nacionais, há também uma plantação de interesse internacional perto de Dosolo, Modena, graças ao projeto LIFE Terra. Em Cesena, por outro lado, que recentemente recebeu o status de Tree City of the World, será iniciado em breve um projeto envolvendo cidades e jovens através da criação de florestas urbanas para produção de alimentos e educação para o consumo responsável: uma iniciativa piloto com o Instituto Técnico Agrícola que conectará a importância de alimentos saudáveis, limpos e corretos com a proteção das florestas do planeta. Um verdadeiro projeto de alfabetização ecológica integral que pode ir além das paredes da escola para se tornar uma intervenção de "acupuntura verde" que irradia bem-estar em toda a comunidade, infundindo uma relação equilibrada entre a agricultura e a floresta, porque talvez não saibamos, mas a agricultura nem sempre é boa para o Planeta, muito pelo contrário!
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