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Sacerdote gaúcho, voluntário dos Amigos da Alegria em hospitais: evangelizo da mesma forma

Nesta história, as vestes de padre e de palhaço se relacionam muito bem: "estou evangelizando da mesma forma", afirma Pe. Paulo Bernardi, pároco no interior do Rio Grande do Sul, onde também atua como voluntário em um grupo que leva alegria e música aos doentes. Tanto o sacerdote quanto os "Amigos da Alegria de Erechim" ganham a oração do Papa e do mundo neste mês, já que o Pontífice pede para rezarmos pelo voluntariado, pessoas que são "artesãos da misericórdia" e multiplicadores de esperança.
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Andressa Collet - Vatican News

O Padre Paulo César Bernardi, natural de Itatiba do Sul, interior do Rio Grande do Sul, é o pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário do município de Barão de Cotegipe. A 12 quilômetros de onde mora, em Erechim, também no norte do Estado, o sacerdote se desloca mensalmente para uma missão junto aos pacientes dos hospitais: há 4 anos, esse é o momento em que o Pe. Paulo tira os paramentos litúrgicos para vestir a roupa de palhaço junto à associação Amigos da Alegria, fundada há 10 anos para melhorar a qualidade de vida de quem está hospitalizado, em especial, de crianças, jovens e adultos com câncer, bem como de familiares, cuidadores e profissionais de saúde.

“O meu maior dilema foi justamente esse: participar do grupo e ter que usar uma roupa de palhaço. Como que seria visto isso? 'Ah, olha o padre se vestindo dessa forma'. Mas quando eu comecei, participando da capacitação para entrar como voluntário, percebi que era um trabalho, uma doação em favor das pessoas. Até um dia, uma irmã no hospital me questionou: '- Ah, tu deveria estar rezando missa'. Não, eu disse, eu estou evangelizando da mesma forma. Não é a veste que uso, porque da mesma forma a gente leva alegria, a gente leva o evangelho, a gente faz a oração com o pessoal.”

O Pe. Paulo em vestes de palhaço durante uma visita aos hospitais
O Pe. Paulo em vestes de palhaço durante uma visita aos hospitais

Apesar de pequenas más interpretações, o sacerdote gaúcho garante que "nunca enfrentei problema algum no que se refere ao ser sacerdote e também palhaço no grupo de Erechim. Sempre recebi o maior apoio e incentivo da comunidade". Uma atuação - como voluntário - que começou ainda quando era jovem, antes de entrar no seminário, e participava dos trabalhos da Igreja. Hoje ele atua "com" voluntários nas pastorais e "como" voluntário nos Amigos da Alegria.

Além de atuar junto aos doentes, Pe. Paulo conta que ajuda a distribuir às comunidades carentes doações - como alimentos e roupas - que são esporadicamente arrecadadas pelo grupo Amigos da Alegria. A associação é inteiramente formada por 'leigos' na arte da palhaçaria que participam de treinamentos na área:

"Hoje a gente não consegue mais ficar sem, porque a gente leva esperança, mas colhe muita energia e disponibilidade para continuar as funções do trabalho."

O sacerdote com os paramentos litúrgicos na sua paróquia
O sacerdote com os paramentos litúrgicos na sua paróquia

Artesãos da misericórdia de Erechim

"O mundo precisa de voluntários comprometidos com o bem comum", já afirmava o Papa Francisco no último vídeo do ano sobre as intenções de oração confiadas à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. Para dezembro, o Pontífice pede para rezar por todas as organizações de voluntariado e as pessoas envolvidas nelas, descrevendo elas como "artesãs da misericórdia" e multiplicadoras de esperança. "Concordo inteiramente com o Papa Francisco", disse Pe. Paulo, ao acrescentar:

"Estes grupos de voluntários são artesãos da arte, da alegria e, acima de tudo, da misericórdia, trabalhando com pouco, quase nada de recursos, mas com muita esperança, levando um pouco de ânimo e alegria a essas pessoas. Nada pode pagar aquilo que a gente faz: às vezes ver uma pessoa em fase terminal que está sorrindo, cantando, isso não tem dinheiro que pague. Acho que todos nós podemos fazer um pouquinho mais pelas pessoas que estão sofrendo e estão ao nosso lado. Se você tem condição e um pouquinho de tempo, você pode se doar como voluntário e fazer o bem acontecer cada vez mais."

Ana Elise Santin Biason, vice-presidente dos Amigos da Alegria, também comenta o vídeo do Papa Francisco com a intenção de oração para dezembro:

"O Papa Francisco, exímio nas suas colocações, na sua sabedoria e inspiração, utiliza do termo 'artesãos da misericórdia': que palavra mais linda, que significado enorme que tem essa palavra, 'artesãos'. Nós fazemos a arte com boas ações e tentamos levar essa misericórdia de Jesus a todos os que mais precisam. Certamente, a nossa associação, tem como objetivo levar essa esperança e alegria em todos os lugares em que passamos e para todas as pessoas que encontramos, pois a esperança, ela nos encoraja e se estende até a eternidade, mas também pode nos amparar nos desafios desta vida."

As pílulas de esperança dos Amigos da Alegria

O trabalho voluntário para o Pe. Paulo, assim, vai além da modalidade religiosa pelo seu comprometimento desinterassado em levar alegria para dentro dos hospitais, como pílulas de esperança aos pacientes internados e também aos seus cuidadores. Um empenho que, claramente, tem muita inspiração cristã porque o sacerdote procura dar o testemunho do Evangelho quando mensalmente participa das ações junto aos Amigos da Alegria em hospitais e clínicas da cidade.

O médico oncologista clínico e diretor do COC Erechim – Centro de Câncer, Juliano Sartori, que está com o grupo desde a fundação, comenta que “os Amigos da Alegria trabalham com simplicidade, empatia e humanismo, além de ter uma capacidade inata de alegrar o físico e a mente de todos que encontram. Entregam uma mensagem de harmonia, de paz e de equilíbrio e conseguem interagir nos momentos mais vulneráveis das pessoas através de figuras simples e simbólicas: com o abraço, o sorriso, a música e as alegorias de palhaços".

A associação, fundada há 10 anos, já tem seu estatuto legal e ajuda a incrementar os dados divulgados pelos Voluntários das Nações Unidas (UNV) de que 1 em cada 9 pessoas no mundo realiza serviço de voluntariado: no total, há mais de 860 milhões de voluntários nos cinco continentes. O atual presidente e também um dos fundadores do grupo de Erechim, Rovilio Collet, fala da importância da arte do palhaço e da música no processo de cura dos pacientes e do voluntariado no ambiente hospitalar para se fazer deste mundo um lugar melhor pra se viver:

"O nosso trabalho, de voluntários, não se restringe a nossa cidade de Erechim, aqui no Brasil, mas alcança de forma positiva, humana e divina, o mundo que nos cerca. Através da nossa linguagem, pedagogia, da nossa fantasia, gestos e olhar, das nossas palavras, canto e música, temos a força de operar a mudança e transformar a dura realidade pela qual passa o paciente. Nós, como palhaços, temos o poder de cura. Nós fortalecemos, encorajamos e iluminamos a todos quantos se aproximam de nós. O nosso trabalho faz a diferença aqui e perante a humanidade. Com nossas ações nos hospitais, nós irradiamos alegria e paz, harmonia e solidariedade, e a mais promissora esperança em momentos e dias melhores de vida plena e bem estar. Sim! Nós irradiamos muito amor, amamos o que fazemos. É um trabalho que requer e exige preparação e formação. Como palhaços, tudo fazemos para construir e tornar este mundo um lugar melhor pra se viver em todos os sentidos, na alegria de fazermos o bem ao próximo, encontramos a nossa realização e felicidade."

Ana Elise Santin Biason e Rovilio Collet, respectivamente a vice e o presidente do grupo
Ana Elise Santin Biason e Rovilio Collet, respectivamente a vice e o presidente do grupo
A arte da palhaçaria em hospitais por Rovilio Collet, presidente

A mensagem do Papa

"O mundo precisa de voluntários e de organizações que queiram comprometer-se com o bem comum. Sim, essa é a palavra que muitos hoje em dia querem apagar: "compromisso". E o mundo precisa de voluntários comprometidos com o bem comum.

Ser um voluntário solidário é uma escolha que nos torna livres; torna-nos abertos às necessidades dos outros, às exigências da justiça, à defesa dos pobres, ao cuidado da criação. É ser artesãos de misericórdia: com as mãos, com os olhos, com o ouvido atento, com a proximidade. E ser voluntário é trabalhar com as pessoas a quem se serve. Não só para o povo, mas também com o povo. Trabalhar com pessoas.

O trabalho das organizações voluntárias é muito mais eficaz quando elas colaboram entre si e também com os Estados. Trabalhando em conjunto, apesar dos poucos recursos que possam ter, dão o seu melhor e fazem do milagre da multiplicação da esperança uma realidade. Precisamos tanto multiplicar a esperança!

Rezemos para que as organizações de voluntariado e de promoção humana encontrem pessoas dispostas a comprometer-se com o bem comum e a buscar novas formas de colaboração a nível internacional."

O Pe. Paulo Bernardi quando esteve no Vaticano trouxe os Amigos da Alegria no peito
O Pe. Paulo Bernardi quando esteve no Vaticano trouxe os Amigos da Alegria no peito

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09 dezembro 2022, 08:00