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Papa Bento XVI visitando a Mesquita Azul em Istambul, 2006 Papa Bento XVI visitando a Mesquita Azul em Istambul, 2006 

Imame Pallavicini sobre Bento XVI: favoreceu o diálogo com o islã que parecia impossível

O Vice-Presidente da Comunidade Religiosa Islâmica Italiana, recorda a importância de Joseph Ratzinger no diálogo entre cristãos e muçulmanos. O encontro em Castel Gandolfo após o discurso de Regensburg: através da teologia e do confronto nos sentimos como irmãos

Vatican News

As recordações do Imame Yahya Pallavicini da Comunidade Religiosa Islâmica Italiana (Coreis) sobre o Papa Emérito Bento XVI partem da Lectio magistralis em Regensburg em 2006 e do encontro que o Papa Ratzinger teve logo depois com um grupo de embaixadores e líderes muçulmanos italianos em Castel Gandolfo. "Ele nos recebeu com grande humildade e dignidade", recorda Pallavicini. "Com ele vivemos momentos de grande riqueza e profundidade, mas também de intercâmbios de alto nível. Entendo que para alguns poderia ser difícil compreendê-lo, mas era um papa de grande profundidade".

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"Eu o encontrei várias vezes, mas o meu primeiro encontro foi quando ele nos recebeu em Castel Gandolfo como uma delegação do Islã italiano. Foi um momento simbólico porque havia algumas polêmicas após a sua Lectio em Regensburg. Recordo que o Papa Bento XVI nos recebeu com grande humildade e dignidade. Assim começou uma relação que se articulou ao longo dos anos, com grandes eventos encontrando outros sábios muçulmanos internacionais". Portanto a recordação que Yahya Pallavicini tem do Papa Emérito Bento XVI parte exatamente de uma das páginas mais difíceis de seu pontificado. Era 25 de setembro de 2006 e o Papa Bento XVI recebeu em audiência em Castel Gandolfo, um grupo de cerca de vinte embaixadores e líderes muçulmanos italianos para reiterar - cerca de uma semana depois de sua Lectio magistralis em Regensburg - toda a "estima e profundo respeito" que ele tinha pelos crentes muçulmanos.

Entrevista

O que o senhor recorda do encontro em Castel Gandolfo?

Não foi um encontro diplomático, mas um encontro de valor simbólico. Recordo de uma breve mas profunda troca de ideias sobre Deus e a figura de Jesus. Entre outras coisas, eu estava preparando minha tradução do capítulo de Maria. Portanto, houve um belo intercâmbio sobre estes temas teológicos. Por outro lado, sua maneira de ser papa, mas também teólogo, era muito especial.

Na sua opinião, os fatos de Regensburg deixaram alguma sombra nas relações com o Islã? E encontrando-o logo depois, como ele estava?

Na minha opinião, isso o deixou triste, pois não tinha nenhuma intenção de constranger ou ferir ninguém. Mas atenção: Bento XVI também era um homem convencido de suas posições, mas talvez este seja um dos grandes ensinamentos que nos deixou. Não temos que concordar obrigatoriamente com tudo esquecendo ou abdicando das nossas convicções. Ele foi um grande representante da teologia cristã. Tinha uma grande formação da filosofia cristã do Ocidente e era um grande intérprete da relação entre razão e fé. Muitos não o entendiam, mesmo entre os cristãos. Mas se tivermos que dar nome para este ocorrido, eu diria que foi um grande mal-entendido. Ele era coerente com a sua personalidade.

No comunicado da Comunidade Religiosa Islâmica Italiana, são recordadas as principais etapas do diálogo de Bento XVI com o Islã: a oração na Mesquita Azul em Istambul em 2006, a visita à família real da Jordânia em Amã durante sua viagem à Terra Santa em 2009. Qual era o tipo de diálogo de Bento XVI?

Era um diálogo sério que exigia muita paciência e um diálogo baseado em pontos muito precisos. Portanto poucas conversas, poucas emoções, muita seriedade. Tudo baseado na sua grande sensibilidade pela religião cristã. Começando assim, é claro que a abordagem pode parecer um pouco limitada. Na realidade, era sério e deixava espaço e possibilidades de aprofundamento. Mas isso requeria tempo. Não era um diálogo imediato, mas um percurso que cada um devia cultivar, aprofundar, refletir e estudar.

Que legado ele deixou para o diálogo?

Seu legado foi abraçado pelo Papa Francisco. Para mim, este é um aspecto muito importante a ser destacado. Vivemos com o legado de São João Paulo II e do Papa Ratzinger com sua característica de ser especial, mas também muito sério, rigoroso, profundo e concentrado na identidade cristã. O Papa Francisco respeitou, cultivou e desenvolveu este legado e lhe deu um alcance internacional, abrindo o diálogo ao povo e aos eruditos. Não apenas aos teólogos ou filósofos, mas também às pessoas comuns. É, portanto, um legado que está se desenvolvendo. Não é algo acabado, mas um processo ainda em fase de elaboração. E o Papa Francisco é um protagonista e um campeão deste desenvolvimento. Ele deu sua própria marca, é claro, mas também se beneficiou de todo o trabalho de preparação que já tinha sido feito antes. Neste caso, portanto, um ciclo não é fechado. O ciclo teve em Francisco seu desenvolvimento providencial não só para a Igreja e os cristãos, mas também para todos os crentes e para todos os cidadãos do mundo.

(M. Chiara Biagioni/ Sir)

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04 janeiro 2023, 15:00