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Capa do livro de autoria de Juliano Ozga, que faz resgate histórico de batalha que delimitou fronteiras no sul do Brasil Capa do livro de autoria de Juliano Ozga, que faz resgate histórico de batalha que delimitou fronteiras no sul do Brasil 

Livro traz Manuscritos do Pe. Cláudio Ruyer SJ sobre Batalha do M'Bororé (1641)

“Não há paz sem justiça e não há justiça sem perdão” (João Paulo II). "E quem ganhou a batalha e quem ganhou a Guerra Guaranítica? Ninguém? Não há vencedores em batalhas ou guerras, ou seja, o povo nunca ganha com batalhas ou guerras. Então é esse o registro. Talvez a importância do livro", escreve seu autor, o gaúcho Juliano Ozga

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Uma ponta de lança de 15 cm, descoberta ao acaso durante as férias, foi a mola propulsora do interesse de Juliano Gustavo dos Santos Ozga pelo tema das Missões Jesuítico-Guaranis. Seu local de nascimento também corrobora para tal. De fato São Luiz Gonzaga, a cidade onde nasceu em 1987, fazia parte da República Guarani e está a apenas 56 km da redução melhor preservada do lado brasileiro, a de São Miguel Arcanjo.

A formação em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria e o mestrado em Estética e Filosofia da Arte na Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, abriram o caminho para a pesquisa e aprofundamento do tema. O resultado, é a publicação do livro "Manuscritos da Batalha de Mbororé (1641). Padre Cláudio Ruyer" pela editora AERE RET (“Aere= honra e RET= direito”), da qual Juliano é editor e escritor. Ele também é membro correspondente do Instituto Histórico Geográfico de São Luiz Gonzaga, além de mestre de campo no Priorado dos Inconfidentes de Minas Gerais.

A intenção da obra - segundo explicou o sãoluizense ao Vatican News, falando de Ouro Preto - foi proporcionar o documento do sacerdote jesuíta em forma de livro, "tirar do manuscrito da transliteração espanhol e transliterar para o português de uma forma que pessoas que se interessam vão pegar essas cento e trinta e seis páginas e vão poder produzir mais estudos, outros se aprofundar no tema. Então essa que seria a proposta."

Na entrevista, Juliano mergulha no contexto desse importante período histórico, destacando particularidades não só da Batalha de Mbororé, mas também dos desdobramentos que a ela se seguiram. E acena para a questão da relação entre guaranis e jesuítas, reiterando que "o índio tem sua percepção, tem sua inteligência, o índio não foi manipulado, o índio não foi subjugado, o índio tem alma, tem inteligência superiores, são pessoas que possuem tradições que estão no Brasil". Ele recorda que somente a tradição Umbu (da ponta de lança descoberta ao acaso) esteve presente de dez a doze mil anos na região onde atualmente é o Rio Grande do Sul, ou seja, "com outras derivações, com outras ramificações étnicas, linguísticas e antropológicas, é um povo que merece respeito, sempre."

Ademais, destaca o elevado nível civilizatório no período dos Sete Povos das Missões, com "um alto nível de desenvolvimento humano, de conhecimento", de "coisas importantes na época, desde observatório astronômico, fundição, que na época já era avançada, trabalho com cristal/vidro", ou seja, todo um legado na "arquitetura, agricultura, política social, música, na escultura, policromia em madeira (...), fabricação de instrumentos musicais, orquestras".

Ouça a entrevista com Juliano!

Como nasceu seu interesse pelo tema da cultura Guarani?

Sobre o interesse na cultura nativa, aconteceu por acaso talvez, entre o ano de aproximadamente 1998 eu estava de férias em São Luiz Gonzaga, nós fomos para Caibaté e no Arroio Uruquá, que é no interior de Caibaté no Rio Grande do Sul, no leito do arroio Uruquá, eu achei uma ponta de lança de 15 cm. Esse estudo foi publicado num de meus livros “Rapsódias Filosóficas”. É um artigo breve sobre este assunto. O nome do artigo é “Ponta de Lança no Museu Arqueológico de São Luiz Gonzaga. Artefato arqueológico para a cidade de São Luiz Gonzaga Rio Grande do Sul”.

E foi o meu primeiro encontro com alguma uma peça assim histórica, na época acho que eu tinha uns catorze anos, imagine não tem datação mas tem um estudo dela aproximado da tradição Umbu então é é um material antigo e está no MARQ Museu Arqueológico de São Luiz Gonzaga, então começou com isso e posteriormente, estudando filosofia, - eu estudava história da música também em Santa Maria na UFSM e tive contato com um material do acervo de música do Instituto Histórico e Geográfico de São Luiz Gonzaga - e dei continuidade nesse estudo e em Ouro Preto Minas Gerais iniciei a pesquisa e finalizei com a gravação de roteiro para um programa de rádio na Rádio UFOP Educativa sobre o acervo barroco, ou seja, eram seis programas na rádio contando um pouco da história de cada música e tocando alguma das músicas de doze CDs do acervo, ou seja, de música da época de mil seiscentos na nova Espanha até mil setecentos, mil oitocentos, que eram feitos nos Monastérios Dominicanos, Jesuítas e Franciscanos na América do Sul em geral.

Então esse foi o início do do meu trabalho e interesse na cultura indígena, guarani e propriamente através desses dois exemplos do artefato da ponta de lança e do do acervo de música do Instituto Histórico e Geográfico de SLG através desse Programa Acervo da Rádio UFOP Educativa.

Programa Acervo Barroco - 01       Programa Acervo Barroco - 02      

Programa Acervo Barroco - 03      Programa Acervo Barroco - 04                                   

Programa Acervo Barroco - 05       Programa Acervo Barroco - 06

O porquê especificamente de um livro sobre a Batalha do Mbororé. Que importância ela tem no contexto da Guerra Guaranítica (1753-1756)?

O livro especificamente trata da transliteração do espanhol arcaico de mil seiscentos e quarenta e um para o português atual mas sem fazer alteração da escrita original porque tinha muitas modulações, muitas diferença do espanhol atual. Então o livro trata do material que é do Padre jesuíta francês Cláudio Ruyer de 1641, ou seja, é um manuscrito, estão fotocopiados do original da Biblioteca Nacional no Brasil e eles foram primeiramente registrados e transliterados paleograficamente na obra do emérito e catedrático Jaime Cortesão que escreveu a obra “Jesuítas e Bandeirantes no Tape” (1615-1641). Introdução e notas por Jaime Cortesão, Biblioteca Nacional. Divisão de Publicação e divulgação. Ano 1969, ou seja, essa transliteração paleográfica para o espanhol está nesta obra de Jaime Cortesão.

E o que que seria esse documento? Seria um documento manuscrito, idioma espanhol - aqui no caso o título dele é - eles chamam um autógrafo ou manuscrito do próprio Cláudio Ruyer -  o título original é “Relación de la guerra e la victoria que los índios alcançaram contra los portugueses en el Bororé” -, manuscrito mil seiscentos e quarenta e um. Impresso no caso mil seiscentos e quarenta e um a data original. Descrição 20 páginas, notas Custódia Biblioteca Nacional do Brasil, Idioma espanhol.

Então qual que é a importância desse trabalho? Esse trabalho, o livro, eu fiz de uma forma dentro da minha formação, da minha limitação histórica, eu proporcionei ele como um material de pesquisa, o livro abre com a primeira página do manuscrito fotocopiado, com a letra cursiva, e a transliteração no espanhol - no caso São Nicolau, 1641, Relación de la guerral que tuvieran los indios contra los portugueses del Brasil, três páginas em espanhol que correpondem a uma página escrita em letra cursiva, e depois a transliteração para o português dessa mesma relação da derrota sofrida pelos bandeirantes em MBororé. Daí a parte em português, ou seja, o livro são cento e trinta e seis páginas, com umas vinte páginas do manuscrito, cada página do manuscrito equivale a três páginas digitadas de texto em espanhol e mais três páginas da transliteração também em português, ou seja, é um material de pesquisa in loco, é quase um diário, digamos assim, um relatório, que os Jesuítas eram conhecidos também por várias várias habilidades, eles mantinham correspondências entre todas as congregações, entre as hierarquias, para vários fins de documentação, de registro, de divulgação.

Então seria um relato fidedigno do que houve na batalha do Mbororé. E qual que é a importância? Uma questão importante é a questão geográfica. Foi a demarcação definitiva entre o rio Uruguai na divisa do Rio Grande do Sul com a Argentina. Essa foi uma das principais, a questão geográfica, a questão logística, foi a demarcação definitiva. Até aqui chegaram os bandeirantes, não passaram, ou seja, até a divisa do rio Uruguai, Rio Uruguai, Rio Grande do Sul, com a Argentina, na região das Missões do Rio Grande do Sul e Missiones na Argentina.

E a outra questão muito importante que deve ser colocada, foi através da batalha do Mbororé, uma coisa negativa para os bandeirantes se tornou positiva para os bandeirantes, porque com derrota na batalha do Mbororé virou o prumo da bandeira, digamos assim. Os bandeirantes, os portugueses do Brasil passaram a levar suas bandeiras para a região do centro do país, ou seja, Goiás, Minas Gerais, e culminou em 1641 com a mudança das bandeiras, em 1698 com o achado das bandeiras do ouro, em Ouro Preto, Minas Gerais, na região onde hoje é Ouro Preto, Minas Gerais, que é conhecido por toda história mundial que a maior extração aurífera do mundo foi aqui em Ouro Preto, Minas Gerais. Então é interessante como uma porta se fecha num lado e uma oportunidade levou os bandeirantes para outro. E o desfecho final dessa questão foi 1641 a Batalha do Mbororé e 1753-1756, ou seja, 112 anos depois houve a questão da Guerra Guaranítica, daí houve uma contra ofensiva como talvez poderíamos chamar isso. É interessante rever os movimentos históricos entre povos, entre locais, porque eles são cíclicos, vão e voltam.

Então aqui perdeu em 1641, se retirou, puxou as bandeiras para outro local, achando ouro, achando toda a questão nas minas, Goiás.... E posteriormente 1753 retornaram e daí houve talvez uma revanche histórica e daí foi a Guerra Guaranítica, como eu coloquei no livro aqui “Não há paz sem justiça e não há justiça sem perdão” (João Paulo II). E quem ganhou a batalha e quem ganhou a Guerra Guaranítica? Ninguém? Não há vencedores em batalhas ou guerras, ou seja, o povo nunca ganha com batalhas ou guerras. Então é esse o registro. Talvez a importância do livro.

No livro tu dás destaque a algum aspecto em particular da Batalha do Mbororé?

Vamos colocar assim de uma forma resumida: é a grande habilidade, a grande perícia que até juntando culturas, ou seja, os jesuítas auxiliados e instruindo também os guarani na região da Redução de São Nicolás, São Francisco, na região do Mbororé, que em guarani significa “Guardião da Casa”, que hoje o Mbororé é a divisa com Argentina na região do município de Porto Vera Cruz. Porto Vera Cruz, no Rio Grande do Sul, faz divisa com a municipalidade argentina de Panambi.

Então, a Batalha do Mbororé ocorreu entre onze e dezoito de março de 1641, ou seja, na Semana Santa no Rio Uruguai no local denominado "penhasco do MBororé." Entre o atual município de Porto Vera Cruz, Rio Grande do Sul e a municipalidade de Panambi, na Província de Missiones na Argentina.

No livro também tem uma coisa interessante que eu fiz questão de deixar registrado, que é um mapa feito por Cassiano Nestor Carvalho, publicado em El Boletim del Centro Naval, número setecentos e oito, em setembro de 1973, sobre o artigo “La Victoria Missionera de Mbororé”. Cassiano é um autor argentino que fez um mapa com especificações, as melhores que eu já vi até hoje, sobre cada local da batalha em específico, quase diário: MBororé 1651, dia 12, bem na divisa, que ele colocou divisa: domínio da Espanha. que seria o Rio Grande do Sul hoje, e domínio de Portugal.

Então tem o Tratado de Tordesilhas e aonde que está o domínio de Espanha aonde adentravam os bandeirantes desde a rota de São Paulo e vem a rota até embaixo no que seria hoje Porto Vera Cruz , no mapa dá para ver bem, São Nicolau, São Inácio Iguaçu que é Paraguai no caso. Então, Rio Paraná, Rio Iguaçu. A questão particular foi como é tratado toda a discussão sobre a relação entre índios e jesuítas, ou seja, o índio tem sua percepção, ele tem sua inteligência, o índio não foi manipulado, o índio não foi subjugado, o índio tem alma, tem inteligência superiores, são pessoas que possuem tradições que estão no Brasil, vamos dizer, só a tradição Umbu, da ponta de lança que se tem no início da entrevista, são quase dez mil anos na região, de dez a doze mil anos na região do atual Rio Grande do Sul, ou seja, um povo que está na tradição de doze mil anos recorrendo com outras derivações, com outras ramificações étnicas, linguísticas e antropológicas, é um povo que merece respeito, sempre. Portanto, a escolha deles entre ficar nativos, talvez, sofrendo a ameaça de outras tribos mais bélicas, e ficar no lado de uma situação que lhes davam uma certa  propsperidade, uma certa comodiade, também prova que eles tem a opção de livre-arbítrio de escolher.

A gente vai querer ficar onde? No meio de guerras entre tribos bélicas ou a gente vai querer mudar talvez, mudar sem perder suas características, mudar evoluindo, respeitando a tradição, conservando a história e agregando nossos valores em outra civilização, e foi o que eles fizeram. E buscando a história específica de São Luís Gonzaga, você pode procurar a obra do Jesuíta Antônio Sepp, que foi maestro, músico em São Luís Gonzaga, na antiga redução de São Luís, que é hoje São Luís Gonzaga, e nesse livro você vê o relato completo sobre fabricação de instrumentos musicais, orquestras, toda a parte de música, a um ponto assim que se você escutar a obra, o programa acervo da Rádio UFOP e buscar os doze CDs do acervo - o principal material tratado foi do polonês Piotr Nawrot, que é um polonês, clarinetista, radicado na Bolívia, Santa Cruz de la Sierra, na região  de Potosí também, ele que fez um trabalho excelente de catalogação, busca dessas partituras jesuítas na Bolívia e do acervo desses doze CDs, seis CDs são organizados pelo maestro polonês músico Piotr Nawrot, se você procurar você vai ver o nível de composição, o nível de execução, a habilidade, não perdia, não pode nem comparar com o que era feito na mesma época, mil e setecentos, mil oitocentos na Europa.

É outro universo, é outro mundo, é outra realidade. Mesmo assim o grau de expressividade que a gente percebeu ao escutar é excelente. Então, os índios Guaranis tinham livre arbítrio, têm ainda, eles sabem as escolhas deles, o que é melhor para eles, como o povo, como tradição, como perpetuar isso de uma forma, trazer certas questões mitológicas orais e colocar em tradições escritas? Só esse fato já merece um destaque, porque foi registrado nas letras, materialmente, factualmente, dentro da história da humanidade. Então esse aspecto da cooperação, da empresa conjunta entre Guarani e Jesuíta, tanto que na descrição do do relato do Mbororé fica claro o número reduzido de combatentes no lado jesuíta e guarani e o grande número que havia de portugueses e bandeirantes, ou seja, toda estrutura, a diferença de estratégias, de guerra entre o índio que tem outra visão da terra, da mata, do rio, conhece muito mais questões geográficas, logísticas de terreno que os bandeirantes, os portugueses até aquele ponto não conheciam, isso demonstrou uma vantagem estratégica, uma vantagem operacional, uma vantagem de estrutura e de atuação dentro do campo. Por qual motivo, causa e razão? Por defender o que eles achavam correto, o que eles achavam benéfico para cultura deles. Para defender o que eles tinham por prioridade. Qual foi a escolha deles? Eles optaram e lutaram e ganharam e foi uma das batalhas a princípio a primeira batalha fluvial na América do Sul e demarcou até hoje a fronteira. É a fronteira, vamos dizer tecnicamente, o que é hoje ainda rio Uruguai, Rio Grande do Sul e Argentina é o mesmo lugar. Não passou dessa linha no noroeste do RS. Então essa é a importância, uma das importâncias interessantes do registro.

O livro contém registros do padre Cláudio Ruyer (Societas Jesus = SJ). Como chegaste a esse material?

Os registros do padre Cláudio Ruyer eles chamam de autógrafos, ou seja, são manuscritos, cartas. Pesquisando na biblioteca nacional, no acervo online digital da Biblioteca Nacional do Brasil, fui buscando pela área de pesquisa e achei esse material e uma transliteração espanhol e eu achei interessante trazer esse material para o português, porque esse assunto é muito pouco tratado no Brasil, na língua portuguesa, porém, você já vê na entrada do livro e no próprio mapa aqui, o mapa descritivo da batalha, ele foi tratado e é tratado mais amplamente, historicamente nos países, no caso Argentina, que talvez historicamente tem mais ligação com esse fato. Então a importânciadele seria trazer esse material, essa pesquisa histórica, porque além de ser a primeira batalha fluvial na América do Sul, também foi uma das primeiras batalhas do gênero, e quem ganhou no caso aqui, foram os jesuítas e guaranis, e de uma forma ou outra manteve quase um período de quase cem anos de prosperidade após esse esse fato, porque 1641 houve aquela tranquilidade, não houve as invasões posteriores. Um exemplo, 1687 a Fundação de Redução de São Luís. Esse período só vai ser interrompido, esse período de paz, em 1753 a 1756, qu são 112 anos depois da batalha do Mbororé com a Guerra Guaranítica, que já foi uma questão de forças maiores contra os jesuítas, contra os guaranis, a proporção foi muito maior, então a importância de trazer esse material e esse relato do padre Cláudio Ruyer foi trazer para nossa língua portuguesa esse fato, que é um fato verídico, é um fato real, não é mitologia, existe documentos. Claro, muita coisa tem que ser estudada a partir desses documentos. Minha intenção foi proporcionar o documento em forma de livro. Tirar do manuscrito da transliteração espanhol e transliterar para o português de uma forma que pessoas que se interessam vão pegar essas cento e trinta e seis páginas e vão poder produzir mais estudos, outros se aprofundar no tema. Então essa que seria a proposta.

Tens conhecimento sobre a existência de outros registros históricos sobre essa batalha?

Sobre se existem outros registros históricos sobre a batalha, outras relatos manuscritos não sei, eu não tenho essa informação específica, mas acredito que nos arquivos jesuítas, nos arquivos históricos, tanto do lado espanhol ou lado português, na Torre do Tombo talvez, nos arquivos da Espanha deve ter algum material talvez indireto sobre esse assunto, porque foi uma batalha que ocorreu em território espanhol e envolvendo questões portuguesas também, então houve pedido da parte dos jesuítas para serem oferecidos arcabuzes, armas de fogo para proteção das reduções diretamente para o rei espanhol.

Então se procurar de uma forma indireta ns arquivos portugueses, espanhóis, jesuítas, com certeza terá registro sobre esse caso, talvez não diretamente de quem esteve in loco igual esse registro fidedigno que é do padre Cláudio Ruyer, mas terá repercussões sobre o fato, porque foi um fato que, querendo ou não, ficou evidente na época, foi relevante histórica, geográfica, política e estrategicamente. Então com certeza existem outros materiais sobre este assunto que devem ser pesquisados e seria de grande importância.

Qual a tua leitura sobre este período histórico dos Sete Povos das Missões Jesuítico-Guaranis? E qual o seu legado, em particular para o Rio Grande do Sul?

Sobre a visão, sobre o período da história das Missões, das reduções a minha visão é a primeira entrada dos jesuítas oficialmente no território que é hoje o Rio Grande do Sul foi em 1626, com a entrada no que é hoje São Nicolau. Então de 1626-2026 será comemorado os quatrocentos anos dessa atuação no Rio Grande do Sul. Nas Missões, que é a primeira fase, depois teve a segunda fase que já entra a parte de São Luiz Gonzaga, os Sete Povos das Missões, depois 1680, nessas décadas finais aí do século XVII.

Dentro da filosofia? A gente tem um exemplo claro na “Poética” de Aristóteles que a história fala e registra o que houve factualmente e a poesia tem o poder imaginativo e criador de sugestionar o que poderia ter sido a realidade possível de um outro mundo, de um outro universo, vamos dizer assim.

E o que que fica disso? Dentro da minha área de formação que é filosofia e história da música, fica para nós um exemplo de sempre buscar um aperfeiçoamento através da história que provou que é possível um alto nível civilizatório, um alto nível de desenvolvimento humano, de conhecimento. Vamos falar várias coisas importantes na época, desde observatório astronômico, fundição, que na época já era avançada, trabalho com cristal/vidro, então tem todo um legado que ficou na arquitetura, agricultura, política social, música, na escultura, policromia em madeira.

E todo esse legado da educação jesuíta também no Brasil que se iniciou a educação jesuíta, foi o a pedra fundamental da educação no Brasil. Depois por outras questões mudou. O que ficou disso aí? São estruturas, exemplos, locais, cidades inteiras, fundados nesse princípio e nas Missões e isso ficou muito claro nossa atualidade, pelo tratamento como que a parte sempre mais desfavorecida fica, onde ficou com o a carga dessa batalha, dessas guerras envolvendo essas tradições, esses impérios, essas lutas entre bandeiras, territórios e a gente observa que o o povo indígena é o povo que mais perdeu com a guerra, mais perdeu em vários fatores. Se a gente vai enumerar aqui são inúmeros. Então o que fica prá nós dessa reflexão, de como que acontecimentos históricos há trezentos anos repercutem até hoje. De geração em geração, talvez não não teve uma tomada de consciência, uma justa medida e reparação histórica.

Então toda esses fatos faz a gente pensar o que poderia ter sido ou o que foi e o que é hoje. Não estou dizendo que hoje ou antes era melhor ou não. Não é essa a questão, mas a tentativa de civilização que houve na época foi documentado na época por filósofos como Montesquieu e Voltaire, entre outros, viajantes que posteriormente que estiveram nas Missões, no caso Saint-Hilaire, tem as cartas do próprio António Ruiz de Montoya, tem esse esse livro, esse registro muito interessante do Antônio Sepp, que foi um jesuíta que esteve naquela região envolvido com a toda questão de música, não só a música entre outras áreas, então são registros da época muito interessante e sempre ficou nesse imaginário do sul do Rio Grande do Sul, do Brasil, do índio com jesuíta. O índio nativo, do pago, missioneiro, porque ele era também missioneiro da região das missões jesuíticas.

Então isso é um legado, é uma marca que está está na pedra, está registrado, está no povo, está na cultura e isso nos faz sempre pensar tanto historicamente o que houve, mas também voltando ao assunto o que poderia, o que pode ser feito, qual a possibilidade, quais as possibilidades de outra realidade?

O autor, Juliano Ozga
O autor, Juliano Ozga

Aguardando a visita do Papa Francisco em 2026...

Queria agradecer ao Vatican News, os votos salutares e espirituais para todos vocês e seu trabalho, também parabenizar a instituição do GPM Grande Projeto Missões na pessoa do senhor Álvaro Theisen que faz um excelente trabalho de resgate desta tradição das Missões Jesuítas/Guaranis que está atuante e ativo e muita coisa interessante vai aparecer e através também do senhor Álvaro tive o incentivo e a confiança de começar a fazer esses trabalhos e agradecer também ao Instituto Histórico Geográfico de São Luiz Gonzaga que é um é uma manancial, é um repositório histórico na região de São Luiz Gonzaga e  deixar aqui também o convite e a gente da região do Rio Grande do Sul, das Missões, se Deus quiser em 2026 receber a visita do Papa Francisco na região das Missões nessa comemoração dos 400 Anos dos Jesuítas no Rio Grande do Sul e agradecer a oportunidade por divulgar o livro.

O livro estará disponível para aquisição na semana de março que é a data que se faz do 11-18 de março de 1641 que ocorreu a batalha fazendo 382 anos em 2023. 

Agradeço mais uma vez, eu falo de Ouro Preto, Minas Gerais, distrito de Cachoeira do Campo, Juliano Ozga/Editora AERE RET e agradeço a oportunidade. “Ad Majorem DEI Gloriam”.

JULIANO OZGA (Autor / Editor)

"Pela nossa LIBERDADE e pela sua."

"Za wolność naszą i waszą" (Lema Polonês 1831)

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07 março 2023, 07:43