ÁSIA: mais de um milhão de cristãos fogem do Iraque por causa de perseguição
Rosa Martins – Vatican News
Nos últimos vinte anos, mais de um milhão de cristãos deixou o Iraque por causa de perseguições. Nas últimas semanas, cem famílias deixaram Qaraqosh e emigraram, juntando-se a dezenas de famílias de outras cidades que fugiram por causa de um futuro incerto e meses de salários não pagos.
Em uma mensagem enviada aos fiéis no Iraque e em todo o mundo, o patriarca de Bagdá dos Caldeus, cardeal Louis Raphael Sako denunciou a divisão entre as Igrejas, incapazes até agora, segundo ele, de implementar políticas e iniciativas fortes e unidas para dar aos cristãos um futuro digno.
Uma atmosfera de ódio e exclusão
As perseguições aos cristãos continuam, explica o primaz, por meio da perda de empregos, confisco de propriedades, conversões forçadas pelo Estado Islâmico ou por outros grupos, islamização de menores e negação de direitos. Por trás dessa política, ele adverte, "há uma tentativa deliberada de apagar sua herança, história e legado de fé. Uma atmosfera de ódio, também alimentada por líderes religiosos (muçulmanos), que proíbem as felicitações de Natal aos cristãos, embora no Alcorão Jesus Cristo seja celebrado e homenageado.
Ainda de acordo com o cardeal Sako, o Iraque vive uma ruptura do tecido social que impulsiona a crise e a insegurança. “Não há estratégia, segurança ou estabilidade econômica, falta soberania e há uma aplicação dupla dos conceitos de democracia, liberdade, constituição, lei e cidadania por aqueles que deveriam estar a serviço do país e de seus habitantes. Dessa forma, acrescenta, “as instituições foram enfraquecidas e houve um declínio na moral e nos valores. Os serviços, a saúde e a educação se deterioraram, há corrupção generalizada e desemprego crescente, além do retorno do analfabetismo”.
Neste contexto, a minoria cristã, já marginalizada, tornou-se ainda mais frágil sofrendo sequestros e assassinatos que começaram em 2003 com a invasão dos EUA e culminaram nos anos de domínio do Estado Islâmico (EI), com a grande fuga de Mossul e da planície de Nínive. O cardeal agradeceu ao governo regional do Curdistão por sua acolhida e enfatizou mais uma vez os grandes esforços feitos pela Igreja para reconstruir casas e empresas após a libertação. Caso contrário, ele adverte, eles teriam acabado como os palestinos em Gaza, esquecidos e marginalizados porque o governo central em Bagdá não fez nada por eles.
Partidos cristãos e as Igrejas devem se unir
Não apenas os partidos, mas até mesmo dentro da Igreja, enfatiza o cardeal, existem divisões profundas que correm o risco de frustrar as boas relações com sunitas e xiitas e o respeito mútuo deixado pela visita do Papa Francisco ao Iraque em março de 2021. É por isso que os partidos cristãos e as Igrejas devem se unir: sem unidade, o país será esvaziado de seu componente "autóctone", que também é a expressão máxima de sua antiga civilização.
"Por isso, são necessárias personalidades eclesiásticas autorizadas e dignas, que representem a esperança da Igreja. Refiro-me com orgulho à maioria dos bispos da Igreja Caldeia e aos bispos Nicodemus Sharaf Dauod, da Igreja ortodoxa síria, Benedict Younan Hannu, da Igreja Siro-Católica, Elijah Isaac, da Igreja Assíria do Oriente, Ghattas Hazim, da Igreja greca-ortodoxa, e Farouk Hammo, líder da Igreja Evangélica. Espero que essa equipe, concluiu o cardeal, forme uma 'unidade de crise' com a Igreja Caldeia para enfrentar os desafios e proteger os cristãos restantes".
Para o patriarca Raphael Sako, o que lhe impressiona “é a inércia do governo e do judiciário em relação à tragédia ocorrida durante um casamento cristão em Qaraqosh em setembro passado, que causou mais de cem vítimas: nada foi feito até agora, faltam investigações e os responsáveis continuam impunes”.
“Não é possível imaginar o Iraque sem cristãos”
A expressão é do Papa Francisco, por ocasião do encontro com os representantes das igrejas cristãs presentes no Iraque, no primeiro aniversário da sua viagem apostólica. “O Iraque sem cristãos já não seria o Iraque, porque os cristãos, com outros fiéis, contribuem fortemente para a identidade específica do país”, afirmou, então, o Pontífice.
Durante o discurso, Francisco lembrou ainda aos cristãos iraquianos que, por viverem lado a lado com outras religiões, desde os tempos apostólicos, têm uma vocação imprescindível de comprometerem-se para que as religiões se ponham a serviço da fraternidade. E afirma que “nada deve ser deixado ao ocaso, a fim de que os cristãos continuem a sentir que o Iraque é a sua casa, e que são cidadãos com plenos direitos, chamados a dar sua contribuição para a terra onde sempre viveram”.
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