Bangladesh: Igreja de mãos estendidas àqueles que ninguém quer
Rosa Martins – Vatican News
“Para os refugiados Rohingya, que estão em nosso território diocesano, tentamos dar todo o nosso apoio. O que podemos dizer a eles é: nós nos importamos com vocês. As palavras do Papa constantemente nos lembram e nos encorajam nesse compromisso”. A expressão é do padre Terence Rodrigues, vigário geral da arquidiocese de Chattogram, em Bangladesh.
Em uma entrevista ao jornal vaticano L'Osservatore Romano, Rodrigues confirmou a preocupação da Igreja local com o povo Rohingya. Mais de um milhão de pessoas estão amontoadas em campos de refugiados no distrito de Cox's Bazar, no leste de Bangladesh. Ali eles se estabeleceram em 2017, fugindo da perseguição sofrida em Mianmar.
Na primeira audiência geral do Ano Novo de 2024, o Papa Francisco – que em todo seu Pontificado sempre teve um olhar misericordioso para com os migrantes e refugiados -, pediu que “não nos esqueçamos de nossos irmãos e irmãs Rohingya que são perseguidos”.
Durante o período de Natal, conta padre Terence, a Igreja não deixou de tomar iniciativas de proximidade e compaixão para com esses refugiados, que são diferentes, também em sua manifestação religiosa. “Como Igreja local, fazemos um trabalho em nível nacional e internacional para garantir, dignidade, segurança e futuro”, relatou.
Trabalho em rede
Padre Terence ressaltou também, a presença atuante de um padre em Cox's Bazar e de um religioso jesuíta envolvidos com o Serviço Jesuíta aos Refugiados e a Caritas diocesana e nacional. Estas Organizações favorecem a continuidade dos projetos de assistência humanitária. Essa é a maneira, enfatiza, de mostrar a eles nossa solidariedade e atenção. “Há muitas agências humanitárias operando em Cox's Bazar: a situação exige um compromisso a longo prazo da comunidade internacional para garantir o futuro dos rohingyas. Bangladesh os acolheu, mas precisa de apoio internacional”, observa.
Sendo uma minoria étnica muçulmana estabelecida há séculos no estado de Rakhine, no oeste de Mianmar, em 1982 uma lei de nacionalidade, aplicada pela junta militar, então no poder em Mianmar, negou-lhes a cidadania, privando-os de direitos e tornando-os de fato “apátridas”.
Estranhos em sua própria terra, em 2017 a violência do exército birmanês os forçou a fugir e cruzar a fronteira com o vizinho Bangladesh. Desde então, mais de 1,2 milhão de refugiados está residindo em campos estabelecidos em Cox's Bazar. A grande maioria deles não tem status oficial de “refugiado”, o que lhes concederia direitos e proteções específicos.
Em Bangladesh, eles são oficialmente designados como “cidadãos birmaneses deslocados à força”. A vida nos 33 campos de refugiados é garantida pelo governo de Bangladesh por meio de contribuições de órgãos internacionais (como o Programa Mundial de Alimentos da ONU e a “Plataforma de ONGs de Cox's Bazar”, composta por 148 associações). Portanto, são oportunidades limitadas de subsistência, educação e assistência médica.
Rohingya: um povo excluído e descartado
Um sacerdote da diocese de Mymensingh, em Bangladesh, padre Robert Hadima, acrescenta que eles são os excluídos, os descartados. "No início, por serem muçulmanos, o povo de Bangladesh os acolheu, considerando-os correligionários em um estado de perseguição. Agora, seis anos se passaram e a situação mudou. A ajuda internacional está diminuindo, a nação sente o peso desses refugiados".
Ainda de acordo com padre Robert, novos problemas surgiram. “Para sobreviver, os Rohingya destruiram lotes de terra com o desmatamento. As gangues criminosas se aproveitaram do estado precário de milhares de pessoas. Alguns falam de tráfico de drogas. Sentimentos bastante hostis se espalharam gradualmente em Bangladesh. Os próprios refugiados começaram a sentir o peso insuportável das dificuldades prolongadas e começaram a fugir. Eles atravessaram o mar e foram para a Indonésia, mas mesmo lá não são bem-vindos. É uma situação extremamente complexa”, confirma o padre Hadima, explicando que os Rohingya foram chamados, em uma expressão que resume sua história e sua trajetória, de “as pessoas que ninguém quer”.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui