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Scalabrinianas e imigrantes em Siracusa, extremo-sul da Península itáliana Scalabrinianas e imigrantes em Siracusa, extremo-sul da Península itáliana 

Scalabrinianas, porto de chegada de quem quer abrigo

Em entrevista ao L'Osservatore Romano, a missionaria scalabriniana, Irmã Rosa Zanchin, dá testemunho da alegria de acolher em primeira mão aqueles que atravessam o Mediterrâneo

Vatican – News

Cerca de 4 mil imigrantes chegaram a Siracusa (na Sicília) de agosto de 2023 até os dias de hoje: um número realmente considerável de pessoas que receberam uma sólida acolhida das missionárias Scalabrinianas, cuja missão é acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados no mundo. As religiosas e os voluntários criaram várias iniciativas para fornecer ajuda emergencial a essas pessoas que, arriscando suas vidas, desembarcaram na Sicília depois de atravessar o Mar Mediterrâneo. São homens, mulheres e crianças que são hospedados por alguns dias nos primeiros centros de recepção e depois transferidos para outras casas de segunda acolhida nas mais diversas cidades da Itália e de outros países da Europa.

Em entrevista ao L'Osservatore Romano, a missionaria brasileira, há dez anos em Siracusa, Irmã Rosa Maria Zanchin, disse que realizam “um trabalho de acolhimento de migrantes visando sua integração na sociedade. É um trabalho que eu defino como 'trabalho de rua', porque não temos um escritório aqui, como nosso próprio espaço. Portanto, recorremos à nossa criatividade espiritual e carismática”.

O trabalho é feito em rede com a diocese, as paróquias, as associações e com todas as pessoas de boa vontade. “É um serviço de abertura da Igreja. Graças, sobretudo, ao grande apoio do arcebispo Francesco Lomanto, que está comprometido com uma Igreja sinodal que integra as várias pastorais”, conta.

Quatro vezes por semana, os religiosos, juntamente com cerca de quinze voluntários, vão à  casa de primeira acolhida em Siracusa, administrada pela Cruz Vermelha, onde oferecem proximidade aos migrantes. Essa presença se traduz concretamente em apoio espiritual e escuta ativa. Trata-se de um serviço fundamental para as pessoas que acabaram de desembarcar na Sicília e que o governo italiano distribui inicialmente em vários locais da ilha.

Depois da arriscada viagem marítima e do trâmite burocrático após o desembarque destes imigrantes, as Scalabrinianas e os voluntários são os primeiros a ouvir a história desses migrantes. Eles contam sobre o abandono de sua terra natal, suas famílias, a violência que sofreram, sua esperança. Em sua maioria são homens adultos, uma pequena minoria é de mulheres e crianças. Quase todos vêm de países da África como Líbia, Tunísia, Egito, mas também, da Palestina (Oriente Médio). Eles falam árabe, francês ou inglês. Permanecem em Siracusa por no máximo oito dias, antes de uma transferência controlada para outras cidades italianas.

De acordo com a missionária, num pais como a Itália, a acolhida deixa a desejar pela falta de abertura. Neste contexto, as Scalabrinianas propõem uma forma de acolher os migrantes que preserve sua fé, sejam eles muçulmanos ou não crentes. "Tentamos valorizar a pessoa, sem esquecer a dimensão da vida cotidiana. Até porque muitos se tornam pessoas de rua, com o risco de se tornarem vitimas da exploração: no trabalho, no aluguel de casas, na busca por comida. Por isso, procuramos estar presentes nessas situações vividas pelas famílias e pelos migrantes”.

As Scalabrinianas procuram alimentar a esperança que corre o risco de se apagar por causa dos tristes acontecimentos do passado. O desejo é, portanto, intervir também em seu futuro. É por isso que os voluntários e as missionárias cultivam relações humanas profundas, tanto que muitos migrantes permanecem em contato com elas quando se vão.

“Se é verdade que o acolhimento nasce do abandono, é igualmente verdade que isso às vezes se transforma em uma bela experiência.”

E Irmã Rosa testemunha: “Um dia, neste verão, percebi uma casa abandonada aqui em Siracusa. Nesse período, 480 migrantes havia chegado à cidade. Então, entrei para ver se havia alguém lá. Lá dentro, encontrei dezenas de pessoas. Elas me disseram que tinham saído de Lampedusa. Eu disse a mim mesma: Precisamos ajudá-los, não podemos deixá-los aqui. Então fui até o arcebispo Francesco e contei a ele sobre a situação. Ele me deu todo o seu apoio e ativou um canal de ajuda com as instituições. Naquele momento, iniciamos um diálogo com a Cruz Vermelha. Juntamente com os voluntários, elaboramos um projeto e conseguimos colocá-los no sistema de acolhida".

Há muitas histórias que a Irmã Rosa Maria ouviu nos últimos dez anos. Algumas ficaram gravadas em seu coração. Como a de um bebê nascido no deserto do Saara enquanto um grupo de migrantes tentava chegar à Líbia. A mãe desembarcou no porto de Lampedusa (extremo-sul da Itália) com o bebê, que tinha apenas dois meses de idade, e o irmão mais velho. As Scalabrinianas criaram um vínculo profundo com essa mulher, que foi acolhida em Siracusa por algumas semanas, dada a sua situação. Tanto que, quando o filho completou um ano de idade, a mãe enviou fotos da comemoração para as Irmãs e os voluntários. “Como Scalabriniana, tenho essa consciência: quero ser a voz dos que não têm voz, ser uma pessoa que torna visíveis aqueles que são invisíveis, porque o amor faz com que esses invisíveis se tornem pessoas novamente”, concluiu Zanchin.

Fonte: L'Osservatore Romano

Tradução: Rosa Martins

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25 janeiro 2024, 13:42