Rohingya usados no conflito entre exército birmanês e milícias Arakan
Vatican News
Como tem feito nas últimas Audiências Gerais, nesta quarta-feira o Papa Francisco voltou a falar da necessidade de paz no mundo que "está em guerra", voltando o seu olhar para Mianmar. Desde o golpe militar de 1° de fevereiro de 2021, de fato, o país asiático mergulhou em um devastador conflito interno, com consequente crise humanitária, que afeta também a etnia Rohingya, uma minoria muçulmana apátrida de Mianmar.
Os Rohingya enfrentam uma grave ameaça à sua própria existência, segundo o alerta lançado por 16 organizações da diáspora Rohingya e organizações não governamentais que, em todo o mundo, se ocupam dos direitos do povo Rohingya. As organizações pedem assistência humanitária urgente, observando que dos 600 mil Rohingya que permanecem no Estado de Arakan (ou Rakhine) após 2016-2017, apenas um terço está em seus povoados, enquanto os outros dois terços estão deslocados internamente nos municípios de Buthidaung e Maungdaw.
Mas não há paz para eles: o Exército Arakan (expressão da população de etnia Arakan, estabelecida no Estado, ndr.) ordenou aos Rohingya do centro de Buthidaung que deixassem a cidade. "Não havia combates em andamento, mas os soldados quiseram assustar as pessoas e fazê-las fugir das suas casas, para depois saqueá-las. Milhares de Rohingya, incluindo mulheres, crianças e idosos, foram forçados a fugir para salvar as suas vidas. Condenamos todas as atrocidades cometidas pelos Arakan Army", afirmam as organizações em um comunicado conjunto.
“Os Rohingya deslocados – lê-se ainda – não têm comida, nem abrigo. Passam fome, sofrem com a falta de água potável e de assistência médica. A assistência humanitária é urgentemente necessária."
As organizações Rohingya solicitam à comunidade internacional para que intervenha o mais rápido possível e pressione a United League of Arakan e Arakan Army para colocar fim ao uso massivo da força, aos deslocamentos e às violações dos direitos humanos.”
As pessoas deslocadas são vítimas da violência e estão no meio de combates entre o exército Arakan e o exército regular birmanês, que limita a entrega de ajuda humanitária à região. As ONGs apelam também ao governo do Bangladesh para que abra a fronteira para, pelo menos, permitir a entrega de assistência humanitária às áreas do norte de Rakhine. Pede-se à ONU é para “iniciar imediatamente investigações sobre a crise atual, a fim de informar publicamente o que está acontecendo”.
As ONGs propõem iniciar “um processo de diálogo que inclua todas as comunidades étnicas e religiosas do Estado de Rakhine, a fim de trabalhar em conjunto para uma coexistência pacífica”. “Mais uma vez, centenas de milhares de Rohingya fogem para salvar as suas vidas. A comunidade internacional foi avisada do que poderia acontecer e não interveio. Agora é o momento de agir com coragem. A situação atual em Buthidaung é muito grave, com dezenas de milhares de refugiados em fuga, depois de seus povoados terem sido atacados nos dias precedentes."
Recordar-se ainda que, aplicando a estratégia “divide et impera” (“dividir para conquistar”) no Estado de Rakhine, desde fevereiro o exército de Mianmar recrutou à força milhares de homens Rohingya provenientes de campos de detenção, enviando-os a combater contra o Exército Arakan.
“O regime usou os Rohingya para fins de propaganda para incitar ao ódio étnico e religioso e à violência”, afirma o texto. Além disso, existem outras organizações de militantes (Arakan Rohingya Salvation Army; Arakan Rohingya Army; Rohingya Solidarity Organization) que estão recrutando os Rohingya, lutando ao lado do exército birmanês contra o Exército Arakan. Assim, os Rohingya são manipulados e explorados por ambos os lados do conflito, sendo também vítimas inocentes de grupos que “não representam nem agem em nome da comunidade Rohingya”.
As organizações signatárias do apelo expressam “total solidariedade com as vítimas de tais crimes no Estado de Rakhine”. “Os Rohingya querem viver em Arakan lado a lado, em coexistência pacífica com outros grupos étnicos e comunidades religiosas diferentes, em condições de igualdade, enraizadas na dignidade e no respeito pela identidade Rohingya”, são os votos.
Restam aproximadamente 600 mil Rohingya no Estado de Rakhine. A maior população, estimada em 260.000 Rohingya, está localizada no município de Buthidaung. Cerca de 140 mil Rohingya estão confinados em campos de detenção nas cidades costeiras de Sittwe, Pauktaw, Myebon e Kyaukphyu.
Em 27 de outubro de 2023, a "Aliança das Três Irmandades", composta pelo Exército Arakan, o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar e o Exército de Libertação Nacional Ta'ang, lançou a Operação 1027 contra a junta militar. Em novembro, o Exército Arakan voltou a sua atenção para o Estado de Rakhine e lançou ataques contra o exército birmanês, e os Rohingya encontraram-se no meio do conflito civil.
*Com informações de Agência Fides
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