“Centenário de Amílcar Cabral”: Presidente de Cabo Verde participa da abertura do evento
Thulio Fonseca - Ilha do Sal, Cabo Verde
“Como Amílcar Cabral, sonhamos com uma África livre e próspera, um Cabo Verde moderno e um mundo mais humano fundado na igualdade, liberdade e fraternidade”, foram as palavras do Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, durante a abertura do colóquio "Centenário de Amílcar Cabral", na tarde de segunda-feira, 10 de junho, na cidade de Santa Maria, na Ilha do Sal, Cabo Verde. O chefe de Estado também destacou em seu discurso a importância de um mundo de paz em meio às tantas crises e guerras em curso, mencionando a expectativa do encontro com o Papa Francisco, agendado para a próxima sexta-feira, 14 de junho, no Vaticano.
O evento prevê três dias de estudos e reflexões, com a presença de figuras públicas, professores e estudiosos, que não só fazem memória do grande pensador e líder político, mas principalmente acrescentam novas perspectivas ao legado científico, cultural e humanista de Cabral, no ano em que se comemora o centenário de seu nascimento.
Sessão de Abertura
Ao abrir o evento, Filinto Elísio, organizador do colóquio "Centenário de Amílcar Cabral" e representante da Rosa de Porcelana Editora, destacou o papel de Cabral na dignidade e liberdade do ser humano, ressaltando sua luta pela libertação dos povos colonizados: "Amílcar Cabral foi um personagem multicultural, introduziu uma liderança nova na educação, foi uma cátedra universal".
Durante a sessão de abertura, Marco Piazza, professor de história da filosofia na Universidade Roma Tre, enfatizou Amílcar Cabral como promotor de um humanismo atemporal. Piazza, ao citar falas do grande líder: "O africano subjugado é antes de mais nada um ser humano... a nossa luta é de toda a humanidade progressista", destacou que a transformação do pensamento é profunda e baseada naquilo que Cabral dizia aos seus companheiros de luta: "Ser um homem e uma mulher à altura de sua capacidade." O professor também falou do medo como principal inimigo da sociedade, afirmando que libertar o povo do medo é um passo fundamental, como dizia Amílcar Cabral: "Um povo que tem medo é um povo escravo."
Interpretar Cabral e projetá-lo para o futuro
Julio Lopes, presidente da câmara municipal do Sal, deu as boas-vindas aos presentes, expressando seu desejo de que o legado de Amílcar Cabral seja ainda mais valorizado. Madalena Neves, representante da Fundação Amílcar Cabral, destacou que este colóquio se enquadra no espírito das celebrações do centenário, com iniciativas em todos os quadrantes, mobilizando a sociedade civil:
"Não celebramos apenas um aniversário, mas algo transcendental, um dever de memória e um compromisso para reforçar a importância de Amílcar Cabral em todas as suas dimensões, bem como o povo de Cabo Verde".
Madalena também anunciou que as celebrações do centenário de Cabral foram incluídas na agenda da Unesco de 2024 e diversas atividades serão realizadas a partir de setembro.
Domingos Simões Pereira, presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, falou sobre a atualidade do pensamento de Cabral e sua relevância para os povos pelos quais viveu, trabalhou e morreu. "Pelos escritos que dele herdamos, reconhecemos a distinção de preservar a identidade do ser humano", destacou, "Amílcar Cabral foi um homem de uma extraordinária força de propósito".
A presença do Presidente de Cabo Verde
José Maria Neves, presidente de Cabo Verde, também discursou na abertura do evento, ressaltando a importância de homenagear Amílcar Cabral no centenário de seu nascimento. O presidente falou de seu papel como líder político e escritor: "Cabral foi um homem que viveu o espírito de sua época, mobilizando toda uma geração para lutar pela independência e pela liberdade", e sublinhou que o ícone cabo-verdiano criou ideias sobre liberdade, construção do estado e desenvolvimento, proporcionando mais dignidade ao povo após a independência.
Em tempos de grandes desafios globais, o presidente enfatizou a relevância do legado de Amílcar Cabral: "É importante lembrar Cabral enquanto homem que lutou pela paz, igualdade e fraternidade". Segundo o chefe de Estado, refletir sobre o legado de Cabral pode ajudar a formular questões adequadas aos tempos atuais e procurar soluções para conflitos e crises, como a guerra na Ucrânia e em outras partes do mundo: Precisamos de soluções negociadas para os conflitos e de relações de cooperação que levem ao desenvolvimento e à dignidade humana".
Expectativa para o encontro com o Papa Francisco
O presidente expressou suas expectativas para o encontro com o Papa Francisco, marcado para esta sexta-feira, 14 de junho. "O Papa Francisco tem sido um grande símbolo da humanidade, abordando questões como meio ambiente, migrações, paz e respeito pela dignidade humana", afirmou José Maria Neves, ao expressar seu desejo de dialogar com o Papa sobre os desafios atuais, especialmente os enfrentados pelo continente africano, e buscar inspiração nos ensinamentos do Pontífice para promover um mundo de paz e liberdade.
O presidente também pretende levar ao Vaticano a realidade de Cabo Verde, destacando que o país é um defensor da paz e dos valores de liberdade e dignidade humana. "Cabo Verde quer ser um pivô em muitas áreas do cenário internacional e de prestação de serviços", declarou. No entanto, ressaltou os enormes desafios que o país enfrenta, como migrações e mudanças climáticas. "Cabo Verde sofre diretamente os efeitos das mudanças climáticas, e precisamos continuar trabalhando para ter um país sem pobreza, com menos desigualdades e mais oportunidades para todos os cabo-verdianos", concluiu.
O colóquio "Centenário de Amílcar Cabral" continua com reflexões até quarta-feira, 12 de junho, seguido pelo Festival de Literatura Mundo do Sal, que dará continuidade às discussões sobre o mesmo tema.
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