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O evento aconteceu de 19 a 21 de maio em Firenze, na Itália O evento aconteceu de 19 a 21 de maio em Firenze, na Itália 

Florença: a boa agricultura do Brasil pode ser aliada no combate às mudanças climáticas

As mudanças climáticas têm criado novos desafios na relação entre o homem e o solo do planeta, já que as escolhas podem minimizar ou exacerbar os eventos extremos. "Estamos vendo com mais frequência secas prolongadas, estações com chuvas mais volumosas. Mas também temos boas práticas de manejo, por exemplo, sistemas integrados, plantio direto, insumos biológicos, para nos aliar ao combate às mudanças climáticas", explica Alberto Bernardi, da Empraba, na Itália para evento sobre ciência do solo.
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Andressa Collet - Vatican News

O Rio Grande do Sul vive hoje as consequências da maior tragédia climática da sua história recente com enchentes que devastaram cidades há cerca de um mês. O último boletim oficial da Defesa Civil de Porto Alegre, desta quarta-feira (06/06), confirma as 172 mortes e 41 desaparecidos, além das 30.442 pessoas acolhidas em abrigos diante de uma catástrofe que atingiu 90% do estado.

As relações entre o uso da terra e as mudanças climáticas

O mundo todo tem analisado eventos extremos como esse, assim como aconteceu num congresso comemorativo ao aniversário de 100 anos da ciência do solo, realizado em Florença, na Itália, no final de maio ("100 years of soil science"), promovido pela União Internacional das Ciências do Solo. Em entrevista a Francesca Merlo, do Vatican News, Alberto Carlos de Campos Bernardi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, contou que levou ao evento internacional alternativas para o uso sustentável do solo - um grande reservatório de carbono na forma de matéria orgânica que tem grande impacto tanto nas atividades humanas como no meio ambiente:

"Nós estamos vendo os eventos climáticos extremos se tornarem mais frequentes: secas mais prolongadas, estações com chuvas mais volumosas, mais frequentes. Mas nós também entendemos que temos boas práticas de manejo que podem contribuir para retirar esse carbono da atmosfera e devolver ao solo. Então, por exemplo, sistemas integrados, no qual a gente tem cultivo de culturas anuais, pastagens e eventualmente com árvores, sistema bastante complexo, nós estamos conseguindo retirar carbono da atmosfera, devolvendo ao solo na forma de matéria orgânica e aumentar bastante a produtividade; aumentar o estoque de carbono da biomassa. Essa é uma aposta do Brasil. Essas são iniciativas do Brasil de utilizar, por exemplo, sistemas integrados, plantio direto, insumos biológicos para nos aliar ao combate às mudanças climáticas."

As mudanças climáticas, assim, têm criado novos desafios na difícil relação entre o homem e o solo do planeta, já que as escolhas podem minimizar ou exacerbar os eventos extremos. O doutor em Agronomia tem experiência em Fertilidade do Solo e Adubação e atua nos temas de boas práticas de manejo e tecnologias. Ele explica a importância do uso de novas e adequadas tecnologias, como para se fazer o mapeamento digital do solo, como ferramentas para uma análise e atuação mais rápida, eficiente e barata:

"Os solos do Brasil são solos muito antigos, solos de fertilidade naturalmente baixa e que exigem aplicação de calcário e fertilizantes para que nós consigamos altas produtividades. Então, as práticas de manejo do solo, especialmente voltadas para manejo da fertilidade, tornando mais eficiente o uso desses nutrientes, é muito importante, porque nós consumimos muito fertilizantes e precisamos usá-los bem. Então, os nossos estudos estão sempre focados em sistemas de produção e as melhores práticas de uso desses insumos."

A boa agricultura que ajuda os povos originários

Além do aumento na produtividade, também se busca aumentar a matéria orgânica no solo, comenta o engenheiro agrônomo, "o que é muito importante para o bom manejo dos solos tropicais", o que também demanda anos de trabalho. Segundo ele, intensificando essas práticas com a aplicação da boa agricultura, acaba por diminuir a pressão por abertura de novas áreas que venham prejudicar os povos originários:

"Eu acho que as boas tecnologias, além de contribuir com boas produtividades, também podem ser ambientalmente corretas: a boa agricultura pode ser uma grande aliada da conservação ambiental e logicamente diminuindo a pressão para a abertura de novas áreas, preservando essas comunidades tradicionais."

100 anos de ciência do solo

O evento em Florença procurou fortalecer as conexões com diferentes disciplinas, políticas, instituições e associações para atender efetivamente às necessidades da sociedade civil em agricultura, silvicultura, meio ambiente, planejamento urbano, energia, educação e outras questões sociais. Cientistas do solo e especialistas de outras áreas do mundo inteiro participaram de sessões científicas, com tecnologias de ponta, com foco em conquistas passadas e desafios futuros.

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06 junho 2024, 12:57